Goiás está com a procura aquecida por casas sobre rodas. A busca por motorhome e trailer aumentou especialmente depois da pandemia de Covid-19, que impulsionou novos hábitos e desejos. O que para alguns era somente um sonho tirado de filmes estrangeiros, agora está mais acessível com a oferta também ampliada no Estado. A Região Metropolitana de Goiânia, nos últimos dois anos, passou a reunir fábricas, lojas e até empresas de aluguel, que além de goianos atraem clientes de diversas regiões do País.Segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO), o número de motorcasas – como são descritas pela legislação – registradas no Estado aumentou 28,15% de 2020 para 2021, quando chegou a 305. Mas, este ano, até esta sexta-feira (4), já passaram a somar 319. Apesar do incremento, isso ainda reflete um mercado considerado pequeno, pois especialmente no Sul, onde as atividades de camping fazem mais parte do cotidiano da população, essa quantidade chega a 6.647, como é o caso do Rio Grande do Sul.Goiás em 2021 alcançou o posto de nono no ranking brasileiro entre as unidades da Federação que mais reúnem motorhomes, conforme dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran). Apesar disso, a profissionalização das empresas voltadas para este mercado – fundadas por pessoas que primeiro se apaixonaram pelo campismo –, além da localização estratégica, tem posicionado bem o mercado goiano. De Niterói (RJ), a jornalista Flavia Trece, de 33 anos, e o engenheiro Thiago Almeida, de 34, são prova.O casal divulga no perfil @vivendo.la.fora a mudança de vida com a construção, que é realizada em Aparecida de Goiânia, do motorhome deles. “Viemos porque é uma das principais fábricas do Brasil. Pesquisamos e tem fábricas que entregam um formato padrão e escolhemos fazer de forma artesanal, customizado”, diz Flavia.Eles se mudaram para a cidade para acompanhar por cerca de cinco meses a montagem de uma van que compraram de segunda mão para construir a casa sobre rodas na qual vão morar, inclusive enquanto percorrem as Américas. A primeira viagem será da Patagônia, na Argentina, até o Alasca, nos Estados Unidos. Mas não há prazo para o estilo de vida escolhido, que envolve a mudança de um apartamento de 70 metros quadrados para o veículo que reservará 7 metros quadrados para eles, o que inclui o ambiente de onde vão trabalhar e o mundo como quintal.Um sofá que vira cama e também inclui mesa reversível e muda o ambiente é uma das possibilidades na nova moradia que possui conforto, como descreve, e que é sonhada desde a primeira experiência em uma van alugada na Nova Zelândia quando passavam férias em 2019. “Primeiro, paramos para pensar que trabalhamos 12 horas por dia e só curtimos o fim de semana. Não se sabe o dia de amanhã. Com a pandemia, paramos para refletir e foi um impulso”, pontua sobre o projeto que inclui tornar a moradia sustentável, com menos coisas materiais e rica em experiências.Atrás dessa vida, o proprietário da fábrica BTS Motorhome, Jefferson Rodrigues Bertunes, explica que atende clientes de diferentes Estados, muitos influenciadores, o que ajuda a divulgar o trabalho. “Houve um boom com a pandemia para os veículos de recreação em geral e para o motorhome em van, ônibus, caminhão e os trailers rebocados por caminhonete. A nossa região tem potencial, porque é próspera, tem pessoas com disponibilidade financeira.”A experiência anterior com marcenaria fez a diferença, segundo ele, para os projetos que envolvem, em média, a partir de R$ 130 mil para a transformação de veículos conforme as normas brasileiras. Ele começou no mercado no final de 2020 e já passaram pela empresa dez motorcasas, procura que o fez sair de uma sala para dois galpões, além de contratar oito pessoas e serviços terceirizados.A localização central no País, o que torna a capital uma opção importante para manutenção dos motorhomes, e até a entrega dos veículos que em média ocorre em seis meses são atrativos – em regiões concorridas a espera é maior. Mas dificuldade com mão de obra e poucas áreas de camping são desafios.Potencial turístico de Goiás influencia demanda O potencial turístico de Goiás tem influenciado também o aumento da demanda por motorhome e trailers, enquanto mudanças na legislação brasileira para a customização dos veículos, na exigência da carteira de habilitação e a pandemia também impulsionaram o mercado nos últimos anos. Proprietário da loja de novos e seminovos Goiás Trailer, Geraldo Aquino explica que em dois anos e meio já vendeu 25 equipamentos.Também como entusiasta do caravanismo, ele vê o setor se transformar no Estado. “A maior procura pegou todos de surpresa e tem alguns produtos com fila de espera de até um ano e meio. Quando abri, em 2019, fui chamado de maluco e hoje vendemos em média um trailer e meio por mês.” Ele acredita que há potencial para crescer com o turismo goiano, defende que é preciso mais pontos de parada estruturados de forma adequada para servir de apoio com água, energia, ponto de descarte de detritos e segurança.Diferente do motorhome, o trailer precisa de um veículo para puxá-lo, muitas vezes tem maior espaço e custa a partir de R$ 135 mil, o que torna o desejo não tão distante assim para muitas pessoas. Antes de investir, por outro lado, muitos têm optado por alugar. Foi assim que o mercado também se abriu para o casal Marília Luiz e Jorge Curado com a Lets Go Aluguel de MotorHome, que também aproveita as potencialidades das belezas naturais presentes em Goiás. Existe pacote de três dias com capacidade para cinco pessoas com custo a partir de R$ 2,4 mil.“Passam muitas histórias por nós”, pontua a empresária sobre casos de comemorações de casamentos com viagens pelo Estado e até comovente pedido de uma criança no fim de tratamento de câncer para que a família fizesse uma viagem em motorcasa. “É seguro e viável e muita gente não tem noção do que tem em Goiás”, completa Jorge ao citar que há esforços para encontros de donos de motorhome e melhorias para os pontos de parada.Movimento que tem sido percebido pelo governo, segundo o presidente da Goiás Turismo, Fabrício Amaral. Ele explica que há intenção de criar ponto de parada no Centro Cultural Oscar Niemeyer com logística adequada para os viajantes e segurança. Além disso, afirma que estuda fazer evento nacional em julho para reunir donos de veículos, empresas, fábricas, com direito a shows. Já para preparar as cidades turísticas, ele pontua que há trabalho para levantar a situação atual dos campings e deve ser estabelecido um grupo de trabalho para tratar sobre como divulgar e incentivar a criação desses pontos.-Imagem (Image_1.2414008)