As restrições para o funcionamento de atividades econômicas em Goiás, como medida para conter o aumento de casos e mortes por Covid-19, fez a previsão de consumo para este ano no Estado despencar. As categorias mais afetadas devem ser de materiais de construção (-54%), transportes urbanos (-53%) e despesas com viagens (-32%), que registraram as quedas mais acentuadas na expectativa para 2020 em relação ao ano passado. Os dados fazem parte do estudo IPC Maps 2020, publicado pela IPC Marketing Editora, empresa especializada no cálculo de índices de potencial de consumo nacional, elaborados com base em dados oficiais. Diretor do IPC Marketing e responsável pelo estudo, Marcos Pazzini afirma que a pesquisa começou a ser feita no início de março, quando os dados apontavam crescimento de 2,2% no consumo das famílias brasileiras. Com o aumento de casos de Covid-19 no País a partir do fim da segunda quinzena de março, a previsão para o consumo passou a ser de queda de 5,39%. “A expectativa agora é de forte retração nas despesas das famílias em todo o Brasil e da economia de forma geral. Os valores constantes, que não consideram a inflação, devem ser equivalentes aos anos de 2010 e 2012”, diz o diretor.Em Goiás, as medidas mais duras de restrições ao funcionamento de atividades econômicas foram aplicadas por meio de decreto publicado pelo governo estadual no dia 17 de março, proibindo, por 15 dias, o funcionamento do comércio de produtos não essenciais à vida. Entre os estabelecimentos afetados estão os especializados na venda de eletrônicos e calçados, categorias que registraram queda no potencial de consumo de -26% e -24% no Estado, respectivamente.Nos meses seguintes, o funcionamento das atividades econômicas foi flexibilizado por decretos do governo estadual e dos municípios, com respaldo de decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em abril, que atribuiu aos entes subnacionais a autonomia para regulamentar sobre medidas de isolamento social.Por outro lado, alguns setores se beneficiam do cenário e registram alta na expectativa de consumo, como a despesa com veículo próprio, que teve aumento de 144% em relação a 2019. De acordo com Marcos, o crescimento é consequência do uso do carro ou moto como instrumento de trabalho. O diretor explica que a maior parte dos veículos adquiridos são motos, mas ele lembra que também houve aumento na aquisição de carros nos últimos anos por causa do trabalho em parceria com aplicativos de transporte individual de passageiros.A professora do MBA Gestão Comercial, Negociação e Inteligência de Mercado do Instituto de Pós-Graduação e Graduação (Ipog) Vanessa Janni afirma que a queda no próximo trimestre deve ser ainda mais acentuada do que mostram os dados, pois o consumidor foi forçado a mudar radicalmente seu perfil de consumo devido a falta de recursos. “Os gastos com produtos de higiene e beleza realmente devem aumentar. As pessoas estão ficando mais tempo em casa, utilizando mais produtos de limpeza e recorrendo a procedimentos caseiros de beleza”, afirma. RetomadaDe acordo com Marcos Pazzini, o início da flexibilização para funcionamento do comércio em Goiás e em outros Estados já possibilita melhora na economia. Mas, diz o diretor do IPC Marketing, a retomada efetiva deve começar entre o fim de 2020 e os primeiros meses de 2021. “Agregada à queda no potencial de consumo, tivemos também o fechamento de muitas empresas. Num primeiro momento, muitas pessoas, especialmente profissionais liberais, conseguem se segurar bem com a ajuda de R$ 600 do governo federal. No entanto, quando esse benefício acabar, as pessoas precisarão trabalhar e a situação ficará complicada”, diz. Segundo o especialista, o País enfrentará o segundo um semestre “complicado e cheio de desafios”. Para Marcos, o governo deve tomar decisões semelhantes a 2008 e incentivar o consumo por meio da diminuição de impostos de determinado produto. “Naquela época, a estratégia resultou na diminuição dos preços e os consumidores voltaram a comprar. É possível fazer isso novamente, apesar de a União enfrentar problemática nas contas, o que dificulta abrir mão de arrecadação”. No entanto, diz, o plano pode fazer com que o governo volte, em meses, a recolher tributos no patamar anterior à crise provocada pela pandemia.