Os altos preços das passagens aéreas têm feito muita gente repensar a viagem de fim de ano ou de férias. Com os bilhetes custando até dobro do mesmo período do ano passado, as vendas de pacotes nas agências de turismo caíram para até um terço do registrado em dezembro de 2021. Hoje, a passagem chega a representar 70% do custo total da viagem, o que tem levado muitos clientes a adiarem o passeio ou optarem pelo transporte de carro. Um estudo feito pelo buscador de voos Viajala, com base em buscas de idas e voltas feitas no site, de janeiro a setembro deste ano, mostrou que os preços das passagens aéreas nacionais aumentaram 55% em média, na comparação com o mesmo período de 2021. No caso das viagens internacionais, a alta média foi de 59% em relação a 2021 e 74% sobre 2019, período anterior à pandemia. Entre os motivos, estão a alta dos combustíveis, inflação, instabilidade política, perdas acumuladas pelas companhias aéreas na pandemia e a necessidade de reacomodar passageiros sem custo adicional. A pesquisa também mostrou que os brasileiros voltaram a planejar a viagem com antecedência de pelo menos 30 dias. Por isso, quem não se planejou, pagará muito mais caro, se ainda quiser viajar neste fim de ano. 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Segundo ela, muitos clientes têm optado por viajar de carro, até mesmo para destinos mais distantes. “A passagem já representa 70% do valor do pacote. Acho que as companhias aéreas querem tirar todo prejuízo que tiveram na pandemia agora”, diz a agente.ReflexosPara Juliana Santos, da Girotour Viagens e Turismo, a alta nas passagens deixou o mercado bem complicado neste fim de ano, pois muitos pacotes deixaram de ser emitidos, principalmente para as festas de fim de ano. “O reajuste foi dramático e atrapalhou muito nossas vendas, que tiveram queda. Muita gente está usando milhas ou viajando de carro mesmo. É um dezembro que não parece dezembro”, diz a empresária.Ela dá o exemplo de um pacote para apenas três noites em Porto Seguro (BA), durante o réveillon, que foi cotado por um cliente a R$ 24 mil esta semana. “Mesmo quem comprou antecipado, ainda pagou caro este ano, mas com tarifas melhores que agora”, destaca.Foi o caso do representante comercial Geovani Alves da Costa e sua esposa, a empresária Marcília Nunes da Silva Costa, que gastaram quase R$ 10 mil em passagens para eles e os dois filhos viajarem de férias para Natal (RN). Ele conta que pagou o valor mesmo reservando com antecedência, ainda em junho. “Ficamos com medo de termos pago muito caro, mas acompanhamos as cotações e os valores até subiram de lá pra cá”, diz.Geovani lembra que a família chegou a cogitar a possibilidade de desistir da viagem por causa do alto preço da passagem. “Realmente os valores estão fora da curva, absurdos”.GargaloO agente de viagens Marcelo Pereira de Morais, da Tropical Turismo, conta que muita gente já desistiu da viagem de fim de ano ou das férias de janeiro pelo alto preço das passagens. Segundo ele, muitas pessoas têm optado por viajar após o carnaval na esperança de achar menores tarifas aéreas. “As passagens se tornaram um gargalo para as vendas das agências, para as reservas de hotéis e até para os destinos turísticos”, acredita.Marcelo lembra que as passagens para São Paulo e Rio de Janeiro subiram praticamente 100% este ano. “Antes, com R$ 600 você comprava ida e volta. Agora, só acima de R$ 1 mil”, destaca. Além disso, o cliente ainda tem que se sujeitar a longos horários de voos, que chegam a durar mais de 24 horas. “Neste mês, as vendas não chegaram a um terço do registrado em dezembro do ano passado, quando muita gente ainda estava comprando pacotes para as férias”, conta o agente.Além das passagens, que deixaram os preços dos pacotes 70% mais caros, a empresária Elis Mendes, da Ellystur Turismo, lembra que as companhias cobram pelo despacho da bagagem e reserva dos assentos. Por isso, a saída para 90% dos clientes tem sido adiar a viagem.A oscilação do dólar também tem gerado insegurança para fechar um pacote internacional. Um pacote para a Suíça, que antes custava cerca de R$ 40 mil, hoje não sai por menos de R$ 70 mil. “Mesmo assim, quase não há mais pacotes disponíveis para vários lugares, pois muita gente que não conseguiu viajar em 2021 remarcou para este ano”, conta Elis.