A união de produtores rurais em associações e cooperativas com o apoio de programas institucionais públicos e privados estão elevando a competitividade e incrementando a renda da agricultura familiar em vários municípios goianos. Estas iniciativas apoiam da produção à comercialização dos produtos. O que era uma produção de subsistência acaba se tornando um negócio lucrativo que gera excedente financeiro para as famílias envolvidas.Produtos derivados da cana-de-açúcar, como rapadura com frutos do Cerrado, melado e açúcar mascavo, são a aposta de pequenos produtores rurais para impulsionar a renda em Niquelândia, no Norte de Goiás. Numa parceria entre o Instituto Votorantim e o BNDES, por meio do Programa ReDes, com apoio da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), a Associação dos Produtores Rurais do Córrego Dantas (Acorda) está impulsionando os ganhos após consultoria e a construção de uma fábrica de doces, que começa a operar no próximo mês de julho.A presidente da Acorda, Wildes Gumber de Melo, explica que a associação, apesar de ter mais de 30 anos de existência, não possuía um foco, uma única produção em conjunto. “Antes, era tudo improvisado e arcaico, sem estrutura. Não vendíamos nada, foi quando o ReDes trouxe a luz no fim do túnel. Iniciamos com berçário de cana e o projeto foi aprovado”, lembra. A produção de rapadura começou nos quintais para complementar os ganhos. Mas eles ganharam o apoio de uma incubadora de empresas para melhorarem a produção e a gestão.O que era subsistência virou um negócio lucrativo. O grupo de 12 produtores participou de cursos e percebeu que acrescentar baru, babaçu e frutos do Cerrado trazia novos sabores às rapaduras e fazia sucesso. Segundo Wildes, a expectativa é que a nova fábrica possibilite a ampliação dos mercados compradores. “Isso deve melhorar muito a renda. Antes, produzíamos só para comer. Agora, vamos ganhar dinheiro”, comemora a presidente da associação, que também está aberta para receber novos produtores.MandiocaO cultivo de mandioca, fonte de renda para agricultura familiar em Niquelândia, também ganhou impulso com o Programa ReDes. Desde 2017, o Programa é realizado com a Associação dos Assentados do Projeto José Martí (AJM), que começou como uma lavoura comunitária, onde os associados dividiam o arroz e milho produzidos. “Era praticamente uma agricultura de subsistência”, lembra o presidente da AJM, Jechonias Gonçalves dos Santos. Depois veio o mandiocal comunitário, mas a produção era vendida para atravessadores. O programa começou com orientação para a lavoura e construção de uma unidade de beneficiamento, mas evoluiu com a fabricação de farinha e polvilho, além a venda do excedente para produção de cerveja.A unidade de beneficiamento, que funciona há quase dois anos, ampliou os ganhos coletivos e possibilitou a primeira parceria de produtores rurais do assentamento com uma fábrica de cerveja no estado. No ano passado, a empresa adquiriu 56 toneladas do tubérculo para a produção de marca goiana.Jechonias explica que o salto na renda ocorreu porque agora os produtores conseguem planejar o plantio, sem perdas e prejuízo na cadeia de comercialização. “A diferença é muito grande. Se antes produzíamos 50 quilos de farinha por mês, hoje já está em mais de dois mil quilos, em média”, conta. A pequena indústria fabrica duas qualidades de polvilho, farinha e ainda vende a mandioca descascada por uma valor melhor.A produção é vendida na região de Niquelândia, mas eles já buscam parceria para escoar o produto para outros mercados. Em 2022, a expectativa é quadruplicar a receita dos 37 associados. “Depois do ReDes, a qualidade de vida das famílias aumentou 200%”, comemora o produtor.CooperativismoOutro caminho para elevar os ganhos tem sido o cooperativismo. A Cooperativa de Agricultura Familiar de Itapuranga (Cooperafi), que reúne 320 produtores, investiu na construção de uma agroindústria para produção de polpas de frutas como maracujá, uva, morango, abacaxi e tamarindo. O presidente da Cooperafi, Ilmon José de Queiroz, informa que 80% da produção vai para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o restante é comercializado no comércio da região de Itapuranga.Ele conta que até alguns produtores que possuem pequenos pomares hoje fornecem suas frutas para a agroindústria. “Compramos qualquer quantidade. Tem produtor que comercializa as frutas do seu quintal mesmo, ganhando cerca de R$ 6 mil anuais. Parece pouco, mas é um valor que ajuda no complemento do orçamento familiar”, destaca. É uma forma de diversificar a produção e a renda das propriedades. “Antes, muitos não conseguiam vender toda colheita, que se perdia por ser muito perecível e pelo fato de não terem como armazenar. Agora, tudo é entregue na agroindústria”, conta.O superintendente de Produção Rural Sustentável da Secretaria de Agricultura do Estado (Seapa), Donalvam Maia, ressalta que a união entre produtores em associações e cooperativas beneficia os produtores em duas frentes: juntos, eles têm maior poder de compra para aquisição de insumos, além de um potencial maior para atender grandes compradores para seus produtos, que exigem uma volume maior. Além disso, eles se fortalecem para montar agroindústrias e comprar equipamentos. “O associativismo é a chave para a competitividade da agricultura familiar”, diz.O superintendente lembra que a Seapa apoia o programa Coopera Goiás da Secretaria da Retomada, numa parceria com o Sistema OCB/GO, que auxilia a constituição e formalização de cooperativas. O programa tem o objetivo de atender grupos e associações interessados em constituir cooperativas, além de promover o fortalecimento das já existentes, através de consultorias, palestras, acompanhamento de processos constitutivos e redes de apoio.Leia também: -Com aumento do calor e seca, modelo de agricultura no Cerrado deve ser repensado, diz pesquisadora-Agronegócio busca soluções em Goiás -Agricultor será incentivado a utilizar bioinsumos em Goiás Fortalecimento da economia local gera resultados sociais positivosPara o gerente geral de Sustentabilidade da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), Leandro Faria, o apoio ao desenvolvimento de cadeias produtivas proporcionado pelo Programa ReDes reforça o compromisso da empresa em impulsionar transformações que vão além do setor e geram impactos positivos também para a sociedade.“Desde que o ReDes foi lançado, em 2010, apoiamos a consolidação de diversos negócios com potencial de crescimento”, destaca. Em Niquelândia, o apoio aos projetos da Associação de Assentados José Martí (AJM) e da Associação dos Produtores Rurais do Córrego Dantas (Acorda) é um investimento social da CBA para fortalecer a economia local, gerando mais emprego e renda nas comunidades em que a empresa está inserida e promovendo o desenvolvimento sustentável da região.A Associação de Agricultura Familiar de Bela Vista de Goiás (Afabev-GO) apoia a comercialização de mais de 200 itens de 22 produtores associados, principalmente hortifrutigranjeiros. Parte das frutas são comercializadas para uma fábrica de sucos, mas os produtos também são destinados a supermercados de Bela Vista e Vianópolis, além de atenderem o PNAE e a Feira Interinstitucional da UFG, IFG e IF Goiano.A presidente da Afabev-GO, Ihasminy Teixeira, conta que o objetivo é valorizar os agricultores familiares através do apoio à comercialização. Atualmente, a associação busca um registro para ampliar a aceitação de seus produtos beneficiados no mercado, como doces e geleias. “São artesanais, fabricados nas própria propriedades”, destaca.-Imagem (Image_1.2472221)