A população da periferia de Goiânia convive com falhas na telefonia móvel que dificultam o acesso à internet e a realização de telefonemas. O que não ocorre onde há maior concentração de renda. Um estudo da Associação Brasileira de Infraestrutura para Telecomunicações (Abrintel) realizado este ano comprovou essa desigualdade ao identificar que apenas duas das sete regiões da capital (Centro e Sul) possuem proporção de antenas e habitantes próximo do ideal pelas recomendações técnicas.Para uma boa qualidade de sinal, o estudo considera que é preciso ter uma infraestrutura para telecomunicações que atenda até mil habitantes na vizinhança. A análise demonstra que a cidade está longe de alcançar essa proporção, pois a média é de 1.814 moradores atendidos por cada antena. Com a implantação do 5G a partir do ano que vem, o desequilíbrio pode ficar ainda maior, já que a tecnologia demanda cinco vezes mais antenas do que os padrões atuais.A região que possui melhor situação é o Centro com marca de 1.058 pessoas para cada uma das chamadas Estações Rádio Base (ERBs). Depois vem Sul (1.195) e Norte (1.962). Não por um acaso, são essas três áreas da capital que concentram mais domicílios com renda superior a 1,5 salário mínimo, o porcentual é de 68,3% no primeiro e de 78,8% e 59,4% nas outras, respectivamente. NoroestePor outro lado, no Noroeste da capital há o pior atendimento: são mais de 3,7 mil moradores por antena. E também é onde verifica-se a menor concentração de renda (35,7%). O menor número de infraestrutura significa áreas de sombra onde a conectividade é mais difícil, com velocidade mais baixa de internet, conexões instáveis e dificuldade de realizar chamadas. “É muito lento, às vezes atrapalha a ligação. Para falar com câmera com minha família, só pelo Wi-Fi”, relata a pedagoga Vera Lúcia Martins, de 48 anos.A moradora conta que ao sair de casa até para mandar mensagem é mais difícil. “Quando saio já tenho de deixar tudo certo para não depender. Quando visito minha irmã, que mora mais centralizada, é muito diferente. Pagamos caro e não temos o retorno que gostaríamos.” No Jardim Nova Esperança, a professora Camila Soares, de 32 anos, também lamenta que sem Wi-Fi não consegue baixar os materiais que precisa para trabalhar.Com a pandemia, ela contratou um serviço mais reforçado de internet fixa para não correr o risco. “É uma ferramenta de trabalho, para tudo precisamos de conexão.”Desempregada desde o início da pandemia, Andressa Santos, de 20 anos, mora no Bairro da Vitória e procura emprego pelas redes sociais. “Se depender dos dados, não tem como acessar e ler notícias, porque fica lento. Preciso ter Wi-Fi em casa”, reforça.Outro impacto ocorre no comércio local. Sócia de sanduicheria no Setor Cândida de Morais, Viviane França, de 38 anos, encontrou apenas uma operadora com sinal suficiente. Teve de trocar o chip das máquinas de cartão de crédito para poder garantir o funcionamento ou comprometeria as vendas. “Dependendo do local, não pega. Falta as operadoras investirem em torres para atender melhor.”Restrição legalEla não está errada. O problema ocorre por falta de mais antenas. Porém, o presidente da Abrintel, Luciano Stutz, afirma que há interesse das operadoras em atender com mais qualidade a periferia. Por obrigação, elas precisam cobrir 80% da cidade para depois seguir o “interesse de mercado”. Mas, ele explica que há 92 pedidos de instalação de novas infraestruturas feitos pelos associados à espera de autorização na capital.Isso representaria expansão superior a 10% no número de ERBs, o que estaria reprimido. Demora no processo de licenciamento pela Prefeitura de Goiânia e restrição legal por lei municipal são os obstáculos apontados. “Imagina com o 5G que tem previsão de que as capitais tenham de implantar até setembro de 2022? Para cumprir isso sem nova lei vai ser difícil, além da demanda reprimida podemos falar por baixo de 1,5 mil pontos de irradiação que o 5G precisaria pensar em duplicar a infraestrutura.”Segundo o estudo, atualmente há 716 pontos. Sendo que a expansão necessária que ele estima seria apenas para conseguir atender as regiões mais adensadas, Centro e Sul goianiense, fora o que seria necessário para levar o serviço com mais qualidade à periferia.Em resposta, a Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh) afirma que nos últimos anos revisou e atualizou os regulamentos inerentes ao licenciamento e reduziu em cerca de 90% o prazo médio de emissão dos alvarás. Sobre o que está em tramitação, diz que tem cumprido os prazos e a demora, em muitos casos, deve-se a erros ou inconsistência de dados ou documentos necessários à análise.“Por fim, a Seplanh Goiânia ressalta que está empenhada em aprimorar sempre os serviços prestados pela pasta aos contribuintes e que está à disposição das entidades para sugestões, proporcionando que os investimentos necessários à ampliação da cobertura sejam feitos, beneficiando a população da capital.”