Casas de padrão mais elevado, que chegam a custar mais de R$ 1 milhão e que antes eram mais comuns apenas em condomínios fechados, ganham cada vez mais espaço em bairros periféricos de Goiânia e Aparecida. Hoje, é comum o internauta se deparar com anúncios nas redes sociais de vendas destas casas, que são construídas por pequenos empresários construtores. Elas viraram uma tendência e são vendidas em poucos dias, algumas ainda durante a construção.Há poucos dias, o construtor e corretor Guilherme Alvarenga vendeu por R$ 1,1 milhão uma casa que construiu no Jardim Presidente. O valor é justificado pela estrutura e acabamento do imóvel, que tem três suítes, sendo uma master com closet, banheira com hidromassagem, piscina aquecida com sauna, sala com pé direito duplo, cozinha com ilha, home office e espaço gourmet com churrasqueira. “Construímos casas de alto padrão por um preço bem abaixo do que a pessoa pagaria se ela estivesse num condomínio fechado”, justifica.Guilherme conta que o imóvel foi vendido apenas três dias após a publicação do anúncio nas redes sociais. Uma outra casa que ainda está sendo construída no Jardim Mont Serrat, em Aparecida de Goiânia, com três suítes e piscina aquecida com sauna, já foi vendida por R$ 1 milhão. Uma terceira unidade de alto padrão, com quatro suítes, piscina com sauna, energia fotovoltaica e bancadas em granito branco prime, no Parque Amazônia, já está em construção e será vendida por R$ 1,5 milhão.Guilherme diz que escolhe os terrenos em bairros com potencial de crescimento, ou seja, de valorização. “Temos quatro obras só no Parque Amazônia”, destaca. Segundo ele, hoje o foco do negócio são as construções de padrão mais elevado, que estão tendo uma boa aceitação do mercado. Por serem imóveis que se destacam em bairros periféricos, as casas também são entregues com sistema completo de segurança, que inclui cerca elétrica, câmeras, alarme, interfone e muros altos.O construtor Bruno Milhomens de Siqueira, que constrói e vende casas de padrão mais elevado no Setor Três Marias, perto do Anel Viário, por preços que vão de R$ 750 mil a R$ 900 mil, conta que algumas já são vendidas antes mesmo do término das obras. Uma delas já foi comercializada logo no início da construção. “A que mais demorou foi vendida três meses após o término”, lembra. Segundo ele, são casas com padrão de condomínio, com quatro quartos, sendo duas suítes, quatro banheiros e com piscina, para quem não abre mão de uma residência com o mesmo conforto das que ficam em condomínios.Cláudio Ferreira também constrói sobrados e casas térreas de padrão mais alto no Setor Moinho dos Ventos, que são vendidas por valores que vão de R$ 700 mil a R$ 1 milhão e entregues com piscina, armários, área gourmet completa e cerca elétrica. Geralmente, elas já encontram um comprador apenas 45 dias após serem anunciadas. Ele ressalta que um imóvel semelhante num condomínio fechado não custaria menos de R$ 2 milhões. “As casas em condomínios encareceram muito após a pandemia”, destaca.Há 10 anos no mercado imobiliário, o proprietário da Class Soluções Imobiliárias, Diego Alves, está há três anos no segmento de casas de médio e alto padrão. Construídas em bairros como o Brisas da Mata, Jardim Presidente, Moinho dos Ventos e Setor Três Marias, elas chegam a ser vendidas por até R$ 1,5 milhão. Ele lembra que muitos construtores migraram do programa Casa Verde Amarela por conta dos custos inviáveis.Segundo Diego, este mercado continua aquecido, mesmo com a alta de juros, e a maioria dos imóveis são vendidos ainda durante a construção. Muitos dos compradores buscam fazer um upgrade na moradia atual. “Quem tinha um imóvel de R$ 200 mil quer um de R$ 400 mil e quem tinha um de R$ 400 mil agora quer passar para um de R$ 800 mil. Este é um mercado em crescimento, que virou nosso foco”, destaca.Maior oferta de terrenos com menor preço é incentivoCom a pandemia, que deixou todos mais tempo em casa, as famílias passaram valorizar imóveis maiores e mais confortáveis, com mais opções de lazer. Para o sócio e consultor da Brain Inteligência Estratégica, Marcelo Gonçalves, os construtores que hoje investem nestas casas de maior padrão enxergaram uma oportunidade de mercado. Além disso, bairros periféricos têm uma menor escassez de terrenos e preços menores.“Muita gente também não quer sair do bairro onde cresceu e onde estão sua família e amigos, mas não abre mão de um imóvel mais moderno”, lembra Marcelo. De acordo com alguns construtores, há casos de compradores que não gostam das regras existentes nos condomínios ou não conseguem pagar.Porém, o consultor alerta que esta pode ser um tendência momentânea, que pode mudar daqui a algum tempo. “Algumas destas pessoas podem, em algum momento, querer voltar para um condomínio fechado em busca de mais segurança”, destaca. Mas o goiano tem uma preferência por casas térreas: na capital, apenas 18,3% dos domicílios são verticais. “O problema de uma casa de alto padrão na rua sempre será a segurança, pois ela acaba sendo mais visada no bairro, mas o menor valor em relação ao preço atual de uma casa em condomínio é um grande atrativo”, avalia.A procura por financiamentos habitacionais continua, mesmo com a alta dos juros. Mas o consultor lembra que a alta nos custos da construção inflacionou os preços dos imóveis. No ano passado, o Sistema Brasileiro de Poupanças e Empréstimos (SBPE) financiou R$ 205 bilhões, um recorde histórico.De acordo com a Caixa, para os contratos pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH) o valor máximo de financiamento é de R$ 1,5 milhão. Já no Sistema Financeiro Imobiliário (SFI) não há limite, atendendo ao porcentual determinado pela quota de financiamento aprovada. São quatro opções de linhas com recursos do SBPE, para aquisição de imóvel: TR, IPCA, Poupança Caixa e taxa fixa. Uma simulação feita no site da Caixa mostra que o comprador de um imóvel de R$ 1 milhão, com uma renda de R$ 15 mil, consegue financiar R$ 418 mil em 369 meses, com juros efetivos de 8,99% ao ano pelo SBPE e pagando uma parcela mensal inicial de R$ 4.394,82. O resto do valor ele terá que dar de entrada. Na simulação, o limite aprovado varia de acordo com a renda.-Imagem (Image_1.2442448)