O preço do cafezinho de todo dia deixou a bebida bem mais amarga para o consumidor, que já está pagando quase o dobro do ano passado. Somente no último mês de setembro, o quilo do café subiu em 16 capitais brasileiras, segundo a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, divulgada pelo Dieese, e a maior alta ocorreu em Goiânia: 15,7%. As cotações do produto mostram uma alta de 116% no preço da saca do grão de um ano para cá por causa de fatores como a queda na produção por problemas climáticos e o aumento das exportações, que deixaram o café mais escasso no mercado. A saída para o consumidor foi reduzir o consumo da bebida, o que resultou numa queda de até 50% nas vendas. O feirante Leonardo Manuel de Medeiros, que vende café há mais de 25 anos, conta que vendia o quilo do produto por R$ 20 no início do ano e, agora, já cobra R$ 38 pela mesma quantidade. “Os fregueses estão reclamando muito e as vendas caíram demais. Quem comprava um quilo, hoje leva meio. Quem comprava meio quilo, hoje leva 250 gramas”, garante. Leonardo lembra que a mesma saca de café que ele comprava por R$ 600, agora custa R$ 1.200. “Ainda pago R$ 30 por saca para torrar. Tive que reduzir meu lucro”, diz.O empresário Márcio Greick Martins é um pequeno distribuidor atacadista e varejista de café. Ele conta que os produtores de Minas Gerais, maior produtor nacional, reclamam dos efeitos da geadas e seca nas lavouras, que reduziram a produção. Estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontam para uma queda de quase 23% na produção deste ano. Além disso, também houve um aumento da procura pelo produto no mercado mundial, o que já fez o Brasil bater recorde de exportações este ano, reduzindo a oferta e puxando os preços para cima.“Toda vez que vou comprar, o preço da saca subiu, pelo menos, mais R$ 50. Além disso, está cada vez mais difícil encontrar o produto para comprar”, afirma Márcio Greick. O pior, segundo ele, é que tudo indica que o preço vai continuar subindo pelo menos até a entrada da próxima safra, no início de 2022. “No ano passado, pagávamos R$ 480 pela saca. Hoje, já está R$ 1.020”, destaca. O resultado foi uma queda de 30% nas vendas. “As pessoas já estão tomando menos café”, acredita.O presidente da Associação Goiana de Supermercados (AGOS), Gilberto Soares, informa que o preço médio do quilo do café moído no atacado saltou de R$ 14 ou R$ 15 no fim do ano passado para R$ 26 hoje. Mas, segundo ele, o valor cobrado já chegou a R$ 32, quando o consumo caiu até 35% e os supermercados frearam as compras. “Reduzimos muito nossa margem de lucro e estamos repassando o mínimo possível”, garante o supermercadista. Além de reduzir as compras, ele diz que o varejo também acirrou as negociações com a indústria para tentar reduzir o impacto dos reajustes. “O que regula o mercado é a oferta e demanda e o bolso do consumidor não tem mais espaço para tantos aumentos”, alerta.IndústriaAs 40 indústrias de café instaladas no Estado também já estão sentindo muito o impacto da alta no preço do grão para o beneficiamento. O Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo e enfrentou dois períodos de estiagem e geadas na época da florada nas principais regiões produtoras, como sul de Minas Gerais, São Paulo e norte do Paraná. O presidente do Sindicato das Indústrias de Torrefação e Moagem de Café no Estado de Goiás (Sincafé), Jaques Jamil Silvério, lembra que a queda na produção deve continuar no próximo ano, pois os problemas climáticos sofridos pelas lavouras este ano se refletirão na colheita da próxima safra colhida em 2022. Além disso, ele lembra que este recuo da produção também veio acompanhado de um aumento da demanda mundial pelo produto. “Os fundos de investimento perceberam sinais da baixa oferta e passaram a comprar muito na Bolsa, o que puxou os preços do produto para exportação no mercado”, ressalta. O resultado foi o recorde nas vendas externas este ano, mesmo com o café mais escasso no mercado interno. “O que já estava difícil pode ficar ainda pior, pois estamos com dificuldade para encontrar a matéria-prima, principalmente as indústrias pequenas”, adverte Jaques. Segundo ele, os produtores já venderam o café colhido este ano ou estão segurando o produto à espera de melhores preços. “Estamos pagando mais que o dobro do ano passado e o consumidor está comprando metade de antes”, conta.-Imagem (1.2332809)