A desoneração de impostos federais e a redução da alíquota de ICMS não surtiram efeito sobre os preços do óleo diesel nas bombas. Com a redução de 13 pontos porcentuais no imposto estadual, o preço médio da gasolina já caiu R$ 1,71 nos últimos 30 dias. Por outro lado, a alíquota sobre o óleo diesel caiu apenas 2 pontos porcentuais e o valor médio do combustível até subiu R$ 0,55 no mesmo período. Com isso, enquanto os donos de carro de passeio estão gastando em média 23% menos para encher o tanque, os motoristas de caminhão hoje desembolsam 10,4% mais.Em março deste ano, o governo federal zerou os tributos do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) sobre o óleo diesel, que representavam R$ 0,69 do valor do litro da gasolina vendida nos postos. Já a Lei Complementar 194/2022, sancionada por Bolsonaro no último dia 23 de junho, estabeleceu dois tipos de desoneração: a de impostos federais sobre a gasolina e a de impostos estaduais sobre todos os tipos de combustível. Mas enquanto o ICMS da gasolina foi reduzido de 30% para 17%, a alíquota sobre o óleo diesel passou de 16% para 14%, o que não foi suficiente para neutralizar o último aumento de 14,2% no preço praticado pela Petrobras. Quem sofre mais é o motorista que utiliza o veículo à diesel para o próprio sustento, principalmente os caminhoneiros que trabalham no transporte de cargas ou fazem fretes. “Está cada dia mais difícil trabalhar. Não consigo aumentar o preço do meu frete há anos e o preço do diesel mais que dobrou em pouco tempo”, lamenta o caminhoneiro Cícero Alves da Assunção. Para ele, elevar o preço do frete pode significar perda de serviços. O resultado, segundo Cícero, foi uma forte queda no orçamento familiar, pois, hoje, ele ganha o suficiente apenas para sobreviver. “O que eu ganho mal dá para pagar as contas. Fico no maior sufoco quando preciso trocar um pneu, por exemplo”, lembra.Leia também:- Custo do transporte compromete até 58% do salário mínimo em Goiânia, diz estudo- Antes do reajuste, preço da gasolina chegou a R$7,99 em Goiás, diz ANP- Com recado à Petrobras, Caiado reduz ICMS em GoiásO proprietário da empresa de mudanças Nova Morada, Adriano Artur Bueno da Silva, também garante que não conseguiu repassar a alta do custo com óleo diesel para seus preços. Além disso, ele lembra que vários outros itens para manutenção dos veículos estão bem mais caros hoje, como pneus e óleo lubrificante. Os preços dos materiais usados para embalar os móveis e utensílios transportados, como plástico bolha e papelão ondulado, também subiram muito. “A verdade é que o diesel puxa o preço de tudo e não conseguimos repassar para o custo do frete por causa da concorrência e porque os clientes também estão com o orçamento apertado e não conseguiriam pagar. O resultado é que o lucro está cada dia menor”, garante.TransporteHoje, um motorista de caminhão gasta R$ 2.217 para encher o tanque com 300 litros, considerando um valor médio de R$ 7,39 por litro praticado na capital. O freteiro Gean Franco, que tem um caminhão de mudanças, conta que reajustou o preço cobrado por quilômetro rodado entre R$ 3,70 e R$ 4,20 nas viagens que faz, depois que o diesel praticamente dobrou de preço. “Mesmo assim, ainda não consegui repassar toda a alta de custos que tive, pois correria o risco de perder muitos trabalhos”, justifica.Nas grandes empresas de transportes de cargas, a expectativa era de um reajuste de 7% no custo do transporte somente pelo impacto do diesel. Mas o presidente da Federação Interestadual das Empresas de Transporte de Cargas & Logística (Fenatac & Logística), Paulo Afonso Lustosa, lembra que a pressão por reajustes também vem do aumento de salários dos trabalhadores do transporte na última convenções coletiva.Com isso, segundo ele, o preço do frete deve sofrer um reajuste de, pelo menos, 12%. “Não há outra saída. Ou repassa, ou fecha as portas”, afirma. Paulo Afonso ressalta a grande diferença atual entre os preços da gasolina e do óleo diesel, que chega a quase R$ 2 em alguns postos.Para ele, algumas medidas adotadas pelo governo federal para reduzir os preços dos combustíveis e amenizar o prejuízo dos profissionais autônomos são paleativas, provisórias e até eleitoreiras. É o caso do auxílio caminhoneiro, de R$ 1 mil por profissional, que será pago até o fim do ano. Com este valor, lembra o presidente da Fenatac, é possível comprar diesel para rodar 400 quilômetros. Além disso, os estados recorreram ao STF contra a lei que limita a cobrança de ICMS e ela pode cair.O presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, o Chorão, já disse que R$ 1 mil não resolvem o problema dos caminhoneiros autônomos. Segundo ele, o caminhoneiro sabe fazer conta e o auxílio de R$ 1 mil daria para colocar apenas 133 litros de óleo diesel no tanque, com o litro a R$ 7,50.O auxílio beneficiará cerca de 872 mil motoristas autônomos e será pago para os cadastrados no Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas (RNTRC) como Transportador Autônomo de Cargas (TAC). Apenas os motoristas inscritos até o dia 31 de maio terão direito ao benefício.-Imagem (1.2486897)