Nesse tempo de chuvas constantes em Goiás, é de praxe que goianos corram às pamonharias para apreciar uma das iguarias locais: a pamonha. O problema é que o preço do derivado de milho mais apreciado na região tem assustado os consumidores. Na capital, a reportagem chegou a encontrar a pamonha à moda por até R$ 14 nesta semana. O maior vilão, segundo comerciantes, é o milho, que sofre com a queda da safra.É o que explica o coordenador institucional do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Leonardo Machado. Ele conta que houve uma queda na safra de milho, do ano passado para cá, provocada pela estiagem. “O ano de 2020 foi muito seco e tivemos uma queda de 40%, em Goiás, na nossa safra de milho”, relata.Segundo ele, esse fator e o aumento do valor do câmbio elevaram os preços do milho em Goiás. Para citar um exemplo, Leonardo destaca que o preço da saca de 70 kg do milho em grão passou de R$ 40, no ano passado, para R$ 70 em 2021. “Um aumento aí de quase 100%”, alerta.Edvaldo Nascimento é um dos proprietários da Pamonha Oeste, que foi considerada a melhor do segmento, na edição de 2019 da Veja Comer & Beber, e também trabalha com a distribuição de milho em Goiânia. Ele conta que as lavouras de milho em Goiás também foram acometidas pela praga da cigarrinha-do-milho.“Então os produtores tiveram muito prejuízo e não tiveram a produção esperada”, diz Edvaldo. Ele acrescenta isso ao fato de que, nesta época do ano, a procura pelo produto aumenta. A diferença agora é que a oferta está baixa. O proprietário conta que isso fez com que as pamonharias e feirantes tivessem até que buscar milho fora do estado.“Tivemos que buscar em Minas Gerais, São Paulo e até mesmo no Nordeste. Então o custo, o frete, tudo isso fez com que o milho tivesse esse aumento”, explica. Edvaldo conta que não só a pamonha, mas todos os produtos derivados de milho, que vende em seu estabelecimento, acabaram sendo afetados.Dona da D’Casa Pamonharia, que fica no tradicional Mercado da Rua 74, no Centro, Ivani Machado da Silva também reclama dos impactos do aumento do preço do milho nos seus produtos. “A gente precisou aumentar o preço, porque ficou realmente muito caro, não tem como não repassar isso para o consumidor”, diz, ao lamentar que não é o que gostaria de fazer.Outros fatoresIvani lembra que, embora seja o principal, o milho não é o único vilão, mas há outros ingredientes da pamonha que também tiveram altas de preços e acabaram provocando o aumento do valor do item queridinho dos goianos. “É o caso do óleo, do gás, que a gente gasta mais”, exemplifica.Como Edvaldo, Ivani também reclama da pouca oferta de milho neste ano: “Até costuma faltar na época da seca, é normal, mas não no tempo que foi do ano passado para cá. Agora que está aparecendo, graças a Deus. De duas semanas para cá a oferta começou a aumentar.”Revendedor de milho em Trindade, Vanderley da Costa compra o produto nas lavouras e vende para as pamonharias do município. Ele diz que não só ele, como os seus clientes sentiram o aumento do preço. “Houve uma queda de 40% na venda por causa desse aumento”. A espiga, antes vendida a R$ 0,50, agora já custa entre R$ 2,00 e R$ 2,50. “É um insumo que ficou muito caro, desde o início da pandemia. É a estiagem, mas também um receio do produtor. Ao mesmo tempo, a procura continua alta.”