O reservatório da Usina de Serra da Mesa registrou o volume útil de 9,03% nos primeiros dias de 2020, o menor dos últimos dez anos no mesmo período. Em janeiro de 2012, por exemplo, o lago teve volume de 72%. A diminuição no nível da água no início deste ano fez reaparecer a ponte que foi submersa há décadas e já fez parte da GO-237, ligando os municípios de Uruaçu e Niquelândia, localizados no Norte do Estado. Esta não é a primeira vez que a ponte foi vista pela população desde a criação do lago. Em novembro de 2017, o reservatório chegou ao volume de 8,91%, o menor já registrado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), e a ponte também reapareceu. A situação é recorrente em épocas em que o volume é baixo.Fatores como a diminuição no volume de chuvas, impermeabilização do solo, desmatamento no Norte do País e a liberação de água para suprir demanda das hidrelétricas estão entre os fatores que contribuem para a diminuição do nível da água no reservatório. O engenheiro agrônomo, pós-doutor em Engenharia Ambiental e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC Goiás) e do Instituto Federal de Goiás (IFG), Antônio Pasqualetto afirma que entre os anos de 2016 e 2017 as chuvas diminuíram em Goiás cerca de 25%.O professor cita estudo realizado pela Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (UFG) e explica que a umidade chega ao Centro-Oeste por meio de “rios voadores” da Amazônia, mas o ar está cada vez mais seco. “Com isso, o ar demora a saturar, o que é necessário para chover. O ar também é mais quente, com isso ele expande e tem maior capacidade de reter umidade. Isso também faz a chuva demorar mais e quando ela cai, é torrencial e em curto espaço de tempo, o que não é suficiente para entrar no solo”, afirma Pasqualetto.O especialista ainda afirma que a chuva apenas no local do reservatório também não é suficiente para aumentar o nível de água. É preciso, diz Pasqualetto, que os rios da Amazônia sejam abastecidos, além do resultado de frentes úmidas do polo sul e o vento do oceano para o continente. “É preciso levar em consideração também o aumento da demanda por água, que vem da agricultura, da indústria, do comércio e residências. Um reservatório como o de Serra da Mesa tão baixo no mês de janeiro é realmente preocupante”. Pasqualetto explica que ainda são necessários estudos mais aprofundados, mas a formação do solo poroso na região contribui para infiltração, o que leva à demora para o lago encher.TurismoSerra da Mesa tem atraído turistas para a região ao longo dos anos e Genari Silva Coelho, 61 anos, proprietária de uma pousada na região afirma que a baixa no nível da água tem afastado as pessoas. “O lago fica feio. Eu costumava rejeitar hospede, hoje a pousada não chegar a encher”. Por outro lado, Eduardo Alves, 68 anos, que também é proprietário de um hotel às margens do lago, diz que a diminuição no volume só afeta algumas regiões. “Não está atrapalhando meu trabalho. Está faltando chover, mas já tivemos situações piores”, afirma.O ONS informou em nota que tem registrado afluências abaixo da média em diversas bacias hidrográficas do País ao longo dos anos e destacou que o período úmido começou em outubro no ano de 2018 e em novembro do ano passado. “Embora ainda seja cedo para afirmar se o período chuvoso será dentro da média, a expectativa é que o mês de janeiro seja chuvoso, e ao longo do período úmido (que vai até abril) os reservatórios encham novamente”, diz a nota.A Furnas Centrais Elétricas, responsável pela manutenção de Serra da Mesa, afirmou, também por nota, que o menor volume de água não prejudica o funcionamento da usina. Ao contrário do que apurado pela reportagem no site do ONS, Furnas informou que o volume útil no início do ano passado foi de 13,59%. Questionada se existe alguma falha na barragem da usina que contribua para a diminuição do nível da água, a operadora disse que existem 143 instrumentos de segurança que garantem a integridade da construção, “inspecionados regularmente pelos técnicos da empresa”.“Anualmente é emitido um relatório de estudo de comportamento a partir das leituras obtidas nos instrumentos mencionados, e de inspeção técnica, atestando as condições de estabilidade das estruturas civis da barragem”. Além disso, Furnas informou que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) realizou inspeção na barragem em março de 2019 e atestou a segurança do sistema.-Imagem (1.1968194)