Os projetos de energia solar encontram em Goiás um mercado receptivo, com tarifa alta de energia e sol praticamente o ano inteiro. O resultado é que o retorno para quem investe em geração distribuída é de três anos no caso de residências. Porém, com as mudanças propostas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que estão em consulta pública até o fim do mês, o cenário pode ficar um pouco menos atrativo. Segundo estimativa feita pela Comerc Energia, alteração proposta pela Aneel no sistema de compensação de créditos pode resultar no aumento do payback (taxa de retorno) para cinco anos na capital. Isso para as residências. Porque para comércios e pequenas indústrias vai passar de cinco para seis anos a espera para ter o dinheiro investido de volta. Isso pode reduzir o ritmo de novas instalações, porém ainda mantém o Estado entre os mais favoráveis ao setor de geração de energia solar. “Goiânia está entre as melhores capitais do País para investir na geração distribuída solar”, afirma o diretor da Comerc ESCO, Marcel Haratz, em referência ao ranking elaborado pela empresa que mostra a capital goiana em sétimo lugar, mas bem próxima às primeiras colocadas. O melhor payback brasileiro é de Teresina (PI), com dois anos de retorno no caso dos sistemas para baixa tensão. O cálculo, segundo o diretor, considera valores médios com a instalação do sistema. O que faz o índice variar ano a ano é especialmente o reajuste do preço da energia cobrado pelas distribuidoras. Com a proposta da Aneel, que pode resultar em taxação de quem produz energia por conta própria, o peso pela composição da tarifa da Enel fará com que Goiânia passe ao topo do ranking, de sétimo para primeiro lugar entre as capitais. Mesmo com o aumento no tempo para o retorno, Haratz defende que o investimento continuará bom. Isso porque no caso goiano, por exemplo, um sistema que tenha durabilidade de 20 anos terá retorno em cinco anos. Ele afirma, no entanto, que pode ficar “longe do ideal, visto o benefício atual para o setor e para a matriz energética” do País. “Hoje, é muito mais interessante colocar dinheiro em projeto solar do que no banco.” Para o servidor público Marcus Vinícius Amorim Campos, de 37 anos, essa foi a lógica. “Foi o melhor investimento que fiz na minha vida.” Há um ano, ele instalou placas no telhado de casa para gerar energia. De lá para cá, o máximo que pagou na conta de luz foi R$ 70, sendo que a energia custava em média R$ 470 por mês para a residência com dois adultos e duas crianças. Investiu cerca de R$ 26 mil, parte do capital financiado.O payback, no caso dele, foi estimado em três anos. Mas a comodidade de não se preocupar com o consumo e com o tempo de uso do ar-condicionado, segundo ele, já fez valer o esforço. “Percebi que a energia solar era o futuro do ponto de vista social e de economia.” Com as mudanças propostas pela Aneel, os consumidores que já possuem sistemas de geração, como ele, continuam com as regras atuais até o fim de 2030. “O ruim é saber que haverá a perda da liberdade de produzir.” Isso porque hoje, se a produção e o consumo de energia empatam, praticamente zera o custo. Enquanto que com a mudança, pela proposta no sistema de compensação da Aneel, passará a ser cobrado os custos pelo uso da rede e encargos. formatoAinda não está claro o formato final da proposta, que conta com várias possibilidades, mas o pior cenário – em que não haveria o crédito de componentes da tarifa de energia –, segundo estimativa da Comerc ESCO, pode resultar em uma taxa de retorno 188% pior no Brasil para quem investe na geração. Segundo estudos realizados pela Aneel e contribuições recebidas pela agência, há indicativos de que, mesmo com a alteração do regulamento, o retorno do investimento em geração distribuída continuaria atrativo.A produção própria ganhou impulso nos últimos anos à medida que a tecnologia ficou mais barata e acessível e a conta de energia com as bandeiras tarifárias, mais alta. Para quem tem alto consumo, a economia nesse item é diferencial. “Nós reduzimos em torno de 80% a conta de energia, o que torna a arrecadação que temos aplicada no objetivo da entidade”, exemplifica o presidente do Serviço Social da Indústria da Construção de Goiás (Seconci Goiás), Célio Eustáquio de Moura. -Imagem (1.1954221)