O italiano Michele Cacioli, de 69 anos, há quatro décadas trabalha como missionário. Participa da Operação Mato Grosso, o que o levou a viver com a mulher no Brasil, onde nasceu o filho do casal. Após o filho sofrer um acidente, voltaram para a Itália, em busca de tratamento. Em junho retornaram, agora para atuar em Goiânia, em casa de apoio a pacientes do Tocantins e do Mato Grosso que vêm em busca de atendimento em saúde.“Amigos voluntários das missões enviam essas pessoas e providenciamos aqui consultas, remédios, transporte para os atendimentos e passagens”, explica Michele, diretor do Centro de Apoio Dom Bosco. O italiano, que se dedica a ajudar pessoas doentes, viu-se na mesma situação. “Passei por crise urinária muito grave, comecei a investigar e descobri uma prostatite. Descobri que não poderia tratar com remédios, tinha de ser operado”, conta. Veio a dúvida: voltar outra vez para a Itália? Conversando com pacientes hospedados na casa de apoio, Michele recebeu a indicação de tratar-se com o médico Fernando Leão. Na consulta, decidiu passar pela cirurgia em Goiânia mesmo. Não se arrependeu. Tudo correu bem, foi rápido, assim como vem sendo a recuperação. “Foi excelente a cirurgia.” Nela, foi usado o Green Laser, “do qual nem sabia da existência”, comenta o italiano, informando que pagou R$ 32 mil. “Não era barato, mas o médico foi compreensivo, parcelou.” Natural de Florença, na Toscana, Michele lembra que conversou com seu médico lá, o qual não soube lhe indicar onde poderia se operar com Green Laser na região. “Talvez encontrasse em Milão ou Roma, não sei onde no meu país existe essa tecnologia.”O depoimento de Michele ilustra o que levantamentos indicam: Goiás está entre os dez Estados do País com mais médicos especialistas, com um total de 8.219 profissionais, a grande maioria deles concentrada na capital. Além da quantidade, a alta capacitação em algumas especialidades, como oftalmologia, cardiologia, oncologia, urologia, queimaduras, cirurgias bariátricas e procedimentos estéticos, assim como na odontologia, atraem pessoas de vários Estados e outros países. O último Censo Hoteleiro, realizado entre 2017 e 2018 pelo Observatório do Turismo do Estado de Goiás junto com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) e o Sindicato dos Hotéis de Goiânia mostra que 25,7% das pessoas que se hospedam em hotéis e pousadas da cidade têm como objetivo a busca por algum tratamento médico. Os outros maiores interesses são o turismo de negócios (92%) e de eventos (26,9%).“No segmento de eventos, a maioria está ligada à área de saúde, como congressos médicos e de odontologia”, pontua a presidente da ABIH-GO, Vanessa Pires Morales. A importância desse setor para o turismo em Goiás, avalia ela, tende a crescer com o pleno funcionamento de um complexo que reúne consultórios e clínicas, hospital de alta complexidade com UTI, shopping, centro de convenções e um hotel de luxo - o Órion Business & Health Complex, no Setor Marista, inaugurado em 2017 com foco em serviços de saúde e bem-estar. Nesse complexo, o urologista Fernando Leão atende desde o início do ano. “É uma estrutura que Goiânia nunca teve.” Conta também com heliponto, com acesso direto ao pronto socorro, descreve. O aparelho Green Light, adquirido há cerca de cinco anos, exemplifica o quanto Goiânia tem sido pioneira em investimentos em tecnologia avançada e na capacitação de profissionais para trabalhar com essas inovações, comenta ele. classe média altaO especialista reconhece que o acesso a tratamentos de ponta têm se restringido à classe média e média alta, porque requer recursos financeiros. Mas observa que alguns planos já cobrem uma parte, o que torna mais viável o pagamento. É justamente esse público de maior poder aquisitivo que vem em busca de atendimento médico que favorece o turismo local. O médico estima que entre 50% e 55% de seus pacientes sejam pessoas vindas de fora de Goiânia, que chegam de Anápolis, Rio Verde, Santa Helena de Goiás e municípios do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Bahia, Pará e Minas Gerais, e até do Chile.Levantamento encomendado pelo Órion Hospital, sob orientação da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, mantenedora do Hospital Albert Einstein, confirma que a atratividade por serviços de saúde em Goiânia abrange todos os Estados do Centro-Oeste e grande parte do Norte do País, indo até o Acre. O estudo foi feito em 2016, compilando dados do Ministério da Saúde, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Agência Nacional de Saúde (ANS).Há ainda um outro público, formado por goianos que mesmo morando fora preferem fazer consultas e tratamentos médicos em Goiânia. Como Wilma de Andrade, goianiense de 52 anos que há 19 anos mora na Flórida. Duas vezes por ano ela vem para visitar a família e aproveita para fazer uma avaliação geral de saúde, procedimentos estéticos e odontológicos. “É uma questão de confiança, é melhor, mais seguro, mais em conta”, lista as razões de preferir Goiânia aos Estados Unidos para cuidados em saúde. Ela cita ainda a tecnologia avançada aqui. “No Brasil a liberação de novas técnicas é mais rápida, é menos burocrático”, compara. -Imagem (1.1876659)