Em ato semelhante ao orquestrado pela Receita Federal nos últimos dias, o sindicato que representa os servidores do Banco Central (Sinal) iniciou movimento de entrega de cargos de chefia na autarquia nesta segunda-feira (3).Segundo a entidade, a autoridade monetária conta com cerca de 500 posições comissionadas. Em nota, o Sinal afirmou que será elaborada uma lista nos próximos dias com os nomes de quem aderiu.A coleta dos nomes será feita por meio de formulário eletrônico, disponibilizado nesta terça-feira (4) às 10h. Não só os chefes poderão assinar, mas também aqueles que se comprometem a não assumir os postos caso sejam convocados.Ainda não há dados preliminares de quantos comissionados pretendem desistir da função, mas segundo a ANBCB (Associação Nacional dos Analistas do Banco Central do Brasil), que faz a gestão da plataforma de assinatura, em uma lista preliminar feita nas últimas semanas, cerca de 1.200 pessoas demonstraram interesse em aderir ao movimento. Entre elas, estão chefes e servidores que vão rejeitar os cargos.O número representa quase um terço do total de servidores do BC, que atualmente é de 3.478.Os servidores pedem reajuste salarial após o Congresso aprovar previsão de reposição apenas para policiais federais no Orçamento de 2022, com apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL).“Estamos começando hoje, a ideia é fazer reuniões virtuais com servidores de todo o Brasil para convencê-los a aderir, até como forma de pressão para conseguir uma reunião com o presidente Roberto Campos Neto. A gente acredita que nas próximas duas semanas teremos uma lista grande”, ressaltou Faiad.Os servidores que eventualmente substituiriam os comissionados também serão convidados a aderir, abrindo mão de cobrirem os titulares.Além disso, o Sinal anunciou a adesão de trabalhadores do BC à paralisação dos servidores federais de diversos órgãos, que ocorrerá no próximo dia 18, organizada pelo Fonacate (Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado).De acordo com o presidente do Sinal, Fábio Faiad, o objetivo da mobilização é reivindicar reajuste salarial não só para os policiais federais, mas também para o BC. “Vamos inviabilizar a administração porque não está sendo atendido o pleito justo também para servidores do BC”, completou.Segundo Faiad, os servidores do BC reclamam ainda por não terem sido recebidos pelo presidente da autarquia, Roberto Campos Neto. “Estão indignados porque não tiveram reajuste e não foram recebidos pelo presidente Campos Neto, isso deixou o pessoal muito bravo. Entendemos que a resposta é a paralisação”, disse.Internamente, segundo relatos feitos à reportagem, os servidores argumentam que desde o início da pandemia de Covid-19 o BC tem feito muitas entregas, como o Pix (sistema de pagamentos instantâneos) e o open banking, além de diversas medidas de enfrentamento à crise sanitária. Segundo afirmaram, sob a condição do anonimato, as iniciativas demandaram muito esforço do corpo funcional.Há reclamações também à falta de empenho de Campos Neto em relação aos servidores. A avaliação é que o presidente do BC tem bom relacionamento com Bolsonaro e com o Congresso e teria condições de negociar reajuste. “Não é só uma demanda por reajuste. Temos ainda uma bagagem de reestruturação de carreira pendente desde 2016”, destacou o presidente da ANBCB, Henrique Seganfredo.No mês passado, em uma carta endereçada ao presidente e aos diretores do BC, os servidores cobraram um posicionamento e citaram os esforços do corpo funcional nos últimos anos.“Não obstante o cenário de necessária austeridade e equilíbrio, causou-nos profunda estranheza e indignação as tratativas para reajustes salariais para determinadas categorias do serviço público, alijando outras, gerando evidente assimetria de tratamento, e deixando de fora os servidores desta Casa”, disse o texto, assinado por 45 chefes de departamento, cargo mais alto da carreira, depois da diretoria.Início do movimentoO movimento começou com a entrega de comissões na Receita Federal. O Sindifisco (sindicato da categoria) estima que 1.237 auditores em postos de chefia já abriram mão de cargos comissionados.Outras carreiras do Executivo federal e do Judiciário começaram a se queixar do aumento previsto para policiais. Entre elas estão os funcionários do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), peritos médicos e auditores agropecuários.O movimento ganhou mais força na semana passada, quando representantes da elite do funcionalismo decidiram que, para pressionar o governo federal a conceder reajuste salarial generalizado, poderão ocorrer paralisações de um ou dois dias em janeiro e até mesmo uma greve geral, sem prazo para terminar, a partir de fevereiro.A pressão do funcionalismo por aumento salarial preocupa a equipe econômica.O ministro Paulo Guedes (Economia) já pediu apoio dentro do governo contra o reajuste amplo aos servidores, que, segundo ele, pode quebrar o país. Nos cálculos do governo, cada aumento de 1% linear a todos os servidores tem um impacto de R$ 3 bilhões.