Após o lobby de policiais federais surtir efeito e as corporações garantirem recursos para aumentos salariais em 2022, diversas categorias do serviço público federal se reúnem nesta quarta-feira (29) para discutir uma campanha por reajuste no ano que vem. Uma das alternativas em debate é uma paralisação geral de um ou dois dias como forma de pressionar o Palácio do Planalto a abrir diálogo com o funcionalismo.“Esse é um governo que não tem tradição de diálogo. Talvez iremos discutir uma paralisação pontual e, se não for suficiente, podemos avaliar uma greve”, disse o presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), Rudinei Marques.A entidade reúne 37 associações e sindicatos de carreiras de estado, sendo que cerca de 30 são de categorias do serviço público federal, como Controladoria-Geral da União (CGU), diplomatas, analistas de comércio exterior, Tesouro Nacional, Receita Federal, auditores do trabalho e peritos federais.Nos últimos dias, auditores fiscais da Receita Federal entregaram cargos de chefia após o Congresso aprovar previsão de reajuste para policiais federais no Orçamento de 2022.O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco) estima que 738 auditores em postos de chefia já abriram mão de cargos comissionados em protesto. Isso representa, segundo dados divulgados pela entidade, 93% dos delegados (chefes de unidade) do País. Os auditores fiscais detêm grande poder de pressão dentro do governo e conseguiram levar suas demandas à Casa Civil, em reunião nesta segunda-feira (27).Outras carreiras do Executivo federal começaram a se queixar do aumento previsto para policiais. Entre elas estão os funcionários do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Banco Central (BC), além de peritos médicos e auditores agropecuários.Marques lembra que o período de negociação salarial em 2022 será mais curto (cerca de três meses) por causa da legislação eleitoral que impede concessão de reajuste após esse prazo. Caso a negociação não resulte em aumento salarial para o funcionalismo, algumas categorias já estudam acionar a Justiça para conseguir um reajuste semelhante ao que deve ser concedido a policiais. O argumento é que o reajuste precisa ser linear - o mesmo para todas as categorias.Juízes já se manifestaram sobre o aumento só para policiais. A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) divulgou uma nota na qual afirmou que medidas são estudadas e ainda cobrou providências do chefe do Judiciário, ministro Luiz Fux, que preside o Supremo Tribunal Federal (STF).A Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef) também avalia uma mobilização geral por reajustes. A entidade representa categorias que estão na base da pirâmide salarial no funcionalismo e que estão sem reajuste há mais tempo.Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo, enquanto Bolsonaro acena com aumentos a 45 mil policiais, cerca de 1 milhão de servidores federais estão sem reajuste há cinco anos.O secretário-geral da Condsef, Sérgio Ronaldo da Silva, afirma que o Fonasefe, fórum que congrega todas as categorias, realizou uma reunião emergencial sobre o tema e deve promover assembleias setoriais até meados de janeiro para decidir a estratégia de ação.A decisão final sobre como se dará a mobilização será tomada em uma plenária nacional marcada para o fim de janeiro, ao mesmo tempo em que ocorre o Fórum Social Mundial em Porto Alegre.“Se é greve, se é ato, se é ação judicial, tudo isso vai ser definido na plenária. Não está descartada a greve unificada, com todos os setores federais”, disse Silva.O aumento aos policiais foi um pedido do próprio presidente Jair Bolsonaro (PL). Apenas Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Departamento Penitenciário Nacional (Depen), além de agentes comunitários de saúde, obtiveram previsão de reajuste dentro do funcionalismo. O Orçamento prevê R$ 1,7 bilhão para o reajuste para essas corporações.Bolsonaro afirmou, na sexta-feira (24), que pode atender pleito da Receita Federal, mas que reajuste aos demais servidores segue sem definição.“Reajuste é outra questão. Temos um teto rígido, infelizmente. Gostaria de conceder, mas continuo conversando com a equipe econômica para ver o que a gente pode fazer. Os servidores tiveram uma reforma previdenciária, inflação de 10%, então está bastante difícil a situação deles”, disse.