O desemprego voltou a recuar no Brasil, mas a renda média do trabalho ainda mostra fragilidade, com queda real de 8,8% em um ano, indicou nesta quinta-feira (31) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).No trimestre de dezembro a fevereiro, a taxa de desemprego baixou para 11,2%. É a menor para o período desde fevereiro de 2016.O resultado veio um pouco abaixo das expectativas do mercado financeiro. Na mediana, analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam taxa de 11,4%.Já a população desempregada, caracterizada por não ter trabalho e seguir à procura de vagas, caiu para 12 milhões.A taxa de desocupação estava em 11,6% entre setembro e novembro de 2021, o trimestre imediatamente anterior da série comparável. Naquela ocasião, o número de desempregados era de 12,4 milhões.No trimestre até fevereiro de 2021, um ano antes do período mais recente com dados disponíveis, a taxa era de 14,6%, e a população desocupada somava 14,9 milhões de pessoas.Os dados integram a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua). O levantamento analisa tanto o mercado de trabalho formal, com carteira assinada ou CNPJ, quanto o informal. O segundo inclui os populares bicos."No trimestre encerrado em fevereiro, houve retração da população que buscava trabalho [desempregada], o que já vinha acontecendo em trimestres anteriores", afirmou a coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy."A diferença é que nesse trimestre não se observou um crescimento significativo da população ocupada [com algum trabalho]", completou.O número de pessoas ocupadas, tanto no setor formal quanto no informal, foi estimado em 95,2 milhões até fevereiro.Houve leve variação de 0,3% frente ao trimestre imediatamente anterior (94,9 milhões), o que o IBGE chama de estabilidade.De acordo com Beringuy, isso pode sinalizar uma volta do mercado de trabalho a padrões de sazonalidade do pré-pandemia.É que, historicamente, nos trimestres encerrados em fevereiro, havia perda de fôlego na população ocupada, devido a fatores como o desligamento de trabalhadores temporários.No confronto anual, o número de ocupados teve alta de 9,1% ante o período finalizado em fevereiro de 2021 (87,3 milhões).RENDA EM NÍVEL BAIXOA renda média recebida pelo trabalho, que vinha recuando, foi estimada em R$ 2.511 no intervalo até fevereiro.O resultado sinaliza que o rendimento até parou de cair na comparação com o trimestre imediatamente anterior (R$ 2.504), apresentando relativa estabilidade (0,3%), segundo o IBGE.Contudo, a renda segue fraca, se confrontada com outros momentos da série histórica. O valor de R$ 2.511, que leva em conta a inflação, é o menor já registrado nos trimestres até fevereiro desde o início da série histórica da Pnad, em 2012.Na comparação anual, o rendimento caiu 8,8% frente a fevereiro de 2021. À época, a renda média era de R$ 2.752."A fraqueza da economia e a alta dos preços continuam respingando no rendimento médio real, que ficou em R$ 2.511, patamar muito baixo historicamente", diz a economista Claudia Moreno, do C6 Bank."O desemprego em patamar elevado e a inflação em alta continuarão pressionando para baixo a renda real do trabalhador", emenda.AUTÔNOMOS RECUAM, EMPREGADOS COM CARTEIRA SOBEMOutro destaque dos dados divulgados nesta terça foi o recuo no número de trabalhadores por conta própria, que haviam ganhado força ao longo da pandemia.O contingente nessa situação foi estimado em 25,4 milhões de pessoas até fevereiro. Houve baixa de 1,9% frente ao trimestre imediatamente anterior, o que representa uma redução de 488 mil autônomos. Desse grupo, 355 mil eram informais, já que atuavam sem CNPJ.No sentido contrário, o número de empregados com carteira de trabalho no setor privado subiu para 34,6 milhões. Houve avanço de 1,1% frente ao trimestre anterior, o que corresponde a 371 mil pessoas a mais nessa condição.Segundo Adriana Beringuy, do IBGE, a interrupção do processo de queda da renda média, na comparação com o trimestre imediatamente anterior, está associada a esses comportamentos distintos entre emprego com carteira e trabalho por conta própria informal.É que os autônomos sem CNPJ costumam ter rendimento mais enxuto. Com a saída de parte deles do mercado e a alta na carteira assinada, a renda média ficou relativamente estável frente a novembro de 2021, mas em um patamar que continua muito baixo."Ainda não dá para saber se isso [aumento do emprego com carteira e recuo dos autônomos] vai continuar ou não", ponderou Beringuy.INFLAÇÃO E JUROS DEVEM FREAR REAÇÃOO mercado de trabalho tenta se recuperar do baque provocado pela pandemia. Com os efeitos da crise sanitária, o desemprego teve um salto no país. Segundo a Pnad, o número de desocupados chegou a romper a faixa dos 15 milhões no começo de 2021.Com a reabertura da economia, houve um processo de volta ao mercado, e a desocupação passou a ceder nos últimos trimestres.De acordo com economistas, a recuperação mais consistente do emprego e da renda depende do crescimento da atividade econômica como um todo.O problema é que as previsões sinalizam baixo desempenho para o PIB (Produto Interno Bruto) em 2022, sob efeito da inflação persistente e dos juros altos.O mercado financeiro prevê leve avanço de 0,5% para o PIB deste ano, mostra o boletim Focus, divulgado pelo BC (Banco Central)."Nossa estimativa é que a taxa [de desemprego] continue caindo nas próximas divulgações, mas que volte a subir no final do ano puxada pela desaceleração da economia", projeta a economista Claudia Moreno, do C6 Bank.Pesquisa Datafolha indicou piora em março na percepção da população sobre o mercado de trabalho.Conforme o levantamento, 50% dos brasileiros acreditam em aumento do desemprego, enquanto 20% apostam em diminuição. Em dezembro, essas parcelas estavam empatadas, com 35% para cada uma.