Os goianos estão comprando mais veículos de duas rodas este ano. Nos seis primeiros meses de 2022, as vendas de motos no Estado superaram em quase 33% as registradas no mesmo período do ano passado, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Já as vendas de automóveis tiveram uma queda de 12,6% na comparação entre os dois semestres.As pessoas passaram a comprar mais motos para reduzir o impacto do reajuste dos combustíveis no orçamento, por causa da forte alta nos preços dos automóveis, para fugir do transporte coletivo ou para trabalhar nela, principalmente com serviços de entrega de comida ou de encomendas. O aumento na produção de motocicletas também ajudou as concessionárias a entregarem mais produtos para os clientes.No primeiro semestre, foram produzidas 671.293 motocicletas no Polo de Manaus, um volume 18% superior ao registrado no mesmo período do ano passado, segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo). O presidente da Abraciclo, Marcos Fermanian, conta que as unidades fabris retomaram o ritmo das linhas de montagem e registraram crescimento sustentável. “Somado a isso, temos um mercado com tendência de alta, com o avanço dos serviços de entrega, maior uso da motocicleta nos deslocamentos urbanos e o aumento dos preços dos combustíveis”, explica.Leia também:- Seguro de carro já está até 30% mais caro - Assustado com o preço do seguro do carro? Então ouça- ANTT aprova aumento de pedágio para BR-050A procura por motos começou a crescer logo no início da pandemia, com as pessoas procurando evitar o transporte coletivo, como lembra Edson Aires, proprietário da Moto Aires. Ao mesmo tempo, o crescimento exponencial do delivery foi outro fator que ajudou a impulsionar o mercado de veículos com duas rodas. O número de motos usadas em entregas chegou a ultrapassar 6 mil unidades.Mais recentemente, o forte reajuste nos preços dos combustíveis também levou muita gente a comprar uma moto para os deslocamentos cotidianos e deixar o carro guardado na garagem. Edson Aires lembra que o financiamento mais abundante para a compra de motos foi outro fator que impulsionou o mercado. Apesar da maior produção, ele conta que fabricação de motos ainda não consegue acompanhar a demanda e as filas de espera chegam a três meses para alguns modelos.Ele prevê que o mercado só volte a se equilibrar no final deste ano. “A procura ainda é bem maior que a produção. O mercado goiano é muito comprador”, destaca o empresário. Ele estima que o mercado seja quase três vezes maior que a oferta. “Vendemos cerca de 1,5 mil motos zero quilômetro mensais, mas a demanda é de 4 mil”, diz.ConsórciosO crescimento do segmento de consórcios e o aumento do número de lances também contribuíram para o aumento das vendas. Para o gerente de Marketing da Saga Moto Yamaha, Leandro Felipe, a inflação alta, com automóveis e combustíveis bem mais caros, e a fuga do transporte coletivo estão entre os principais fatores de propulsão das vendas de motos no País. “A moto se tornou uma solução mais rápida e econômica”, destaca.Enquanto um carro faz cerca de 14 quilômetros com um litro de gasolina, há motos que chegam a fazer 50 quilômetros. Segundo Leandro, as filas de espera têm um tempo médio de 30 a 45 dias, mas ainda podem chegar aos 120 dias para alguns modelos, mesmo com preços mais altos hoje. “Apesar das motocicletas também terem tido reajuste, o fato delas terem um tíquete médio bem menor que o dos carros também contribui para o maior crescimento das vendas”, explica.Na última semana, o analista administrativo Guilherme Barbosa Mendes foi na Saga Moto receber sua moto nova, um modelo flex. Ele conta que, para fugir da fila de espera, que podia chegar aos 90 dias, acabou optando por uma cor diferente da que gostaria. “Queria azul, mas me contentei com a preta porque a ansiedade era grande”, diz. Guilherme diz que optou pela moto para fazer mais economia e ter mais mobilidade no trânsito. “Hoje usamos o carro só quando vamos sair com as crianças ou para fazer compras. Ando 40 quilômetros por dia para ir e voltar do trabalho e a moto ajuda muito a economizar”, destaca.O gerente geral de lojas da Cical Honda, Charles Durães, lembra que um dos maiores fatores de impulso à compra de motos foi o aumento do desemprego na pandemia, que levou muita gente a trabalhar com aplicativos de entrega. O reajuste no preço da gasolina foi mais um gatilho. O aumento da produção também ajudou as concessionárias a faturarem mais motos este ano, além do maior número de contemplações por consórcios.Na Cical, as vendas de motos cresceram 18,2% na média de das quatro lojas, mas só uma vendeu 57% mais. Charles conta que também surgiu mais um negócio no setor: algumas pessoas estão comprando motos pra alugar para entregadores, que pagam entre R$ 250 e R$ 280 por semana, em média, para trabalharem nelas. A manutenção fica por conta do proprietário. “Só um cliente me comprou quatro motos para alugar e depois veio buscar mais porque a demanda é crescente”, diz.-Imagem (1.2492556)