Os sete gols marcados no Campeonato Brasileiro pelo Goiás lançaram Pedro Raul à briga pela artilharia, com forte concorrência e mais de duas dezenas de jogos pela frente. A vice-artilharia da Série A, junto com outros quatro jogadores, e a pontaria do atacante de 25 anos e 1,92m fazem o torcedor esmeraldino relembrar os goleadores que o clube já fez nacionalmente. Liderar a lista ao fim da competição é uma meta que move Pedro Raul, que, em entrevista ao POPULAR, falou sobre a volta ao futebol brasileiro e goiano (atuou pelo Atlético-GO em 2019), disse que tem um ex-jogador do Goiás como ídolo e comentou sobre engajamento em questões como racismo e homofobia e a pretensão de jogar a Libertadores um dia. Confira os principais trechos.Ser artilheiro do Brasileirão é algo que te move?Com certeza, move. Nós, ali da frente, trabalhamos para isso. Meu objetivo é brigar para ser o artilheiro, ajudar o clube (Goiás) principalmente, mas tentar levar essa fase o mais longe possível para que possamos alcançar os objetivos coletivos e, consequentemente, os individuais.Você costuma acompanhar como estão os concorrentes diretos nessa briga, como os atacantes Calleri (São Paulo), Cano (Fluminense) e Rony (Palmeiras)?Acompanho muito futebol. Vejo que jogam em equipes que oferecem mais chances (de ser artilheiro) do que eu, mas estou fazendo meu papel. As chances que estou tendo consigo colocar para dentro. Isso é importante para a equipe e para mim também, por aumentar a confiança. Vamos ver o que o resto do campeonato nos reserva.O Goiás já teve artilheiros do Brasileirão, Série B, Copa do Brasil e Sul-Americana, por exemplo. Já procurou ver como foram os gols e campanhas?Não, mas acompanhei alguns. Um dos principais caras, que é meu ídolo, é o Fernandão. Lembro do Souza também, mas do Dimba, Túlio e Dill, não. Era novo, bem pequeno quando eles jogaram. O Rafael Moura, lembro que levou o Goiás para a final da Sul-Americana (em 2010). Muitos bons atacantes passaram por aqui, mas, para mim, a referência que tenho desde pequeno é o Fernandão.Você se identifica com os estilos desses artilheiros?Cada um tem sua característica. Hoje em dia, acho que não tem de comparar, não é tão válido. Buscar comparação é um peso a mais. Gosto de olhar vídeos de outros atacantes, buscar referências, mas cada um desses artilheiros tem suas características e eu tenho as minhas.Leia também+ América-MG x Goiás: tudo sobre a partida em Belo Horizonte+ Técnico vê Goiás equilibrado fora de casa na Série ANo começo da trajetória no Goiás, você ficou no banco algumas vezes pelo Nicolas ser titular. Você teve que ter paciência, mesmo sendo uma contratação de peso?Sempre tive confiança no meu futebol e trabalho. Essa questão de quem joga, não cabe a nós. Temos que dar o melhor, independentemente de jogar ou não. Sou um cara que me preparo muito para estar nessa fase que estou aqui hoje, como fiz no Atlético-GO, no Botafogo e fora do país (Portugal, México e Japão). Todos os lugares que passei me deram bagagem para viver essa atual fase. Sem falar no dia a dia de treinos e preparação. Cheguei (no Goiás) fazendo gols, acho que precisei (de um tempo para) adaptar-me de novo ao estilo brasileiro de jogar e as coisas fluíram naturalmente.Você já usou a camisa 9, 18 e, agora, está com a 11. O que te fez escolher esses números?Tinha uma lista para escolher. O (Ronaldo) Fenômeno é meu maior ídolo, logo depois o Romário. O Romário jogou com a 11 e busquei essa referência (pela 9, de Nicolas, estar indisponível) e está dando certo. (risos)Como é se sobressair individualmente em uma campanha ruim, como ocorreu no Botafogo que foi rebaixado em 2020?Foi um ano que as coisas ficaram difíceis, devido a extracampo. É passado. O Botafogo está se reestruturando, tenho carinho grande e é legal ver que tem pessoas profissionais tomando conta do clube. Sobressair com performance individual é algo que sempre aparece no esporte coletivo. Costumo dizer que futebol profissional não tem cego, você vê as coisas mesmo em um ano difícil e consegue ter sucesso pessoal. Não terminei o campeonato lá, fui vendido antes. Acredito que dá para fazer uma boa campanha, mesmo quando o coletivo é interferido por coisas extras, como foi lá. Não fui o único que saiu, sei que tem pessoas que seguem lá e ajudam na reestruturação do clube. Fiquei triste por tudo que aconteceu, pela forma que foi principalmente, mas não cabe comentar agora. Poder performar e jogar em um grande clube é importante. Foi um ano difícil, mas pude ser feliz e tenho um carinho enorme por todos. Sei que todos têm por mim.O que falta para o Goiás se consolidar nas brigas fora do Z4?Não é fácil conseguir uma vaga em uma competição continental. O Brasileiro é um campeonato disputado. Vemos o Fortaleza, último colocado, fazer jogo de frente contra o Flamengo no Maracanã, o próprio Fortaleza fez jogo de frente com o Atlético-MG. O campeonato ainda está embolado, tudo pode acontecer em todos os jogos. Em nível tão alto de jogo, os detalhes fazem a diferença. Talvez, para nós, o que possa nos fazer decolar na competição são os detalhes. Estamos corrigindo, temos tido evolução desde o início da competição e cada vez mais temos como crescer. É viável buscar uma competição sul-americana. O Brasileiro te dá 14 a 15 vagas, temos de acreditar que é possível. Quando conseguirmos uma sequência de duas a três vitórias, podemos pensar em outras coisas. Vamos buscar uma vitória contra o América-MG (domingo). Aí podemos chegar no pelotão do meio. Ganhando outra, subimos mais e é por isso que precisamos pensar jogo após jogo.Jogar uma competição continental, como a Libertadores, é um objetivo de carreira?Com certeza. Espero jogar grandes jogos e a Libertadores é a maior competição do continente. Acho que todos os jogadores sonham em participar de uma competição como essa.O que um centroavante tem de ter para ser um “9 como poucos”, como o técnico Jair Ventura te definiu?Antigamente, o camisa 9 só precisava fazer gol. Hoje em dia, tem de ter uma contribuição defensiva, participar da construção de jogo e ajudar sem bola. O gol sempre vai ser importante, mas ter essas contribuições no jogo te fazem ter algo a mais. Estou muito feliz pelo momento que vivo. Mesmo em uma sequência desgastante, com cansaço e lesão, às vezes essas coisas não saem do clube para fora, mas eu sempre busco dar meu melhor para, em campo, buscar as vitórias.Você é um jogador técnico, dá caneta, chapéu. Como desenvolveu isso e o que acha que isso agrega ao seu futebol?Com certeza, agrega. Comecei no salão. Depois, fui para o society e esse jogo curto, atrativo, sempre procurei jogar. Às vezes, a caneta e o chapéu não ganham jogo, mas trazem uma jogada bonita para o jogo e agrega ao jogador. Só que, no final, para mim, o foco tem de ser sempre balançar o barbante. (risos)Você tem um irmão que tentou jogar futebol. Deu certo?Não, e fico até feliz. Hoje, ele (João Gabriel) está na faculdade, cursando Direito. É difícil ser jogador, lidar com toda essa pressão. É legal ver que ele está seguindo outro caminho, está feliz. É o que importa.Nos momentos de folga, o que você gosta de fazer?Ficar em casa. Meus pais quase sempre estão aqui e posso aproveitá-los um pouco. O calendário quase não tem folga, sai de um jogo e recupera para outro. Quando estou em casa, procuro recuperar para voltar o melhor possível.Você se posicionou no Instagram sobre o movimento Black Lives Matter. Entende que jogador de futebol precisa se posicionar mais?Com certeza, é algo que se tu acredita, é até uma função nossa por causa da nossa exposição, interação social, acho que é bem válido e importante se manifestar. Casos assim acontecem, infelizmente. A gente ainda tem de viver com situações de racismo. Nunca coube, principalmente hoje em dia. Para quem busca evolução e vê casos assim, é triste. Não só o racismo, mas homofobia e diversos outros casos que a gente vê no dia a dia. Cabe a nós nos manifestarmos contra essas atitudes ultrapassadas.Por que gaúcho e com início de carreira no Sul se dá tão bem no futebol goiano?(Risos) É uma boa pergunta. Não sei dizer o motivo. Até comentei uma vez sobre isso (no Goiás), mas nunca achei o denominador comum. É uma curiosidade bem legal.