Três histórias de superação e reconstrução se misturam na 29ª Caminhada Ecológica: as dos atletas Esmeraldo da Silva Filho, Rildo José dos Santos e a de José Maria dos Santos.O trio tem experiência no projeto, abraçou a causa da preservação da natureza e do Cerrado e vai levando adiante o que entende como filosofia de vida, cada qual com sua luta e o drama que ficou para trás, além da busca de forças para resistir e superar adversidades.O quarto e penúltimo dia da Caminhada Ecológica, entre Faina e Araguapaz, nesta sexta-feira (22), teve marcas do esforço de cada um deles e de outros companheiros de estrada. Neste sábado (23), finalmente os atletas - agora, 21 ao todo: 14 homens e 7 mulheres - fecham mais uma edição do projeto em Aruanã, onde repetem o tradicional mergulho nas águas do Rio Araguaia.Para Esmeraldo Filho, a intenção é mergulhar no Rio Araguaia com a imagem do Divino Pai Eterno. Explica-se: será uma homenagem á mãe dele, Mirtes Pereira da Silva, que morreu aos 89 anos, no dia 20 de junho, em decorrência de problemas cardíacos. “Ela (mãe) sempre se preocupava comigo, queria saber como havia sido minha participação na seletiva e na Caminhada Ecológica”, lembrou o atleta e um dos capitães da Caminhada Ecológica.Debilitada, Dona Mirtes não pôde saber notícias de Esmeraldo Filho depois da seletiva. Após conseguir os índices exigidos pela organização do evento durante a fase de seleção, Esmeraldo contraiu a Covid-19, teve de ficar isolado, sem poder visitar a mãe no hospital.“Eu deixei de treinar no período da internação dela (mãe). Após a seletiva, na terça-feira seguinte, tive o resultado do teste para Covid”, detalhou o filho. A mãe foi transferida para a UTI humanizada e, após o uso de uma roupa especial e à distância, Esmeraldo viu a mãe pela última vez. Por toda essa experiência, pretende entrar no rio com a imagem do Divino Pai Eterno.Leia também:+ No penúltimo dia, homenagem a atleta e chegda a Araguapaz+ Renovação e legado nos passos de sete mulheres na Caminhada Ecológica+ Tudo sobre a Caminhada EcológicaNesta sexta (22), Esmeraldo Filho teve a companhia de um velho colega de provas de rua e da Caminhada Ecológica. Foi José Maria dos Santos, de 68 anos. Chamado pela equipe de “Mestre” pela sabedoria e experiência de vida, Zé Maria encontrou os amigos e atletas no Campo da Paz, em Faina. Almoçou ao lado deles e foi à pista para iniciar a despedida não do projeto, mas do que ele exige nas estradas.Após 20 anos, 16 participações e a cirurgia cardíaca (ablação) em 2019, o Mestre voltou para completar o percurso interrompido na 28ª edição, em 2019.“Saí de uma festa, uma confraternização com os amigos e a presença num projeto que gosto para a UTI de um hospital”, ressaltou Zé Maria. Também no penúltimo dia da Caminhada Ecológica, em julho de 2019, ele se sentiu mal no Campo da Paz. Foi levado ao Hospital de Faina.“O médico que atendeu disse que eu não poderia continuar. Foi um duro golpe”. Os batimentos do coração estavam descontrolados. Dali, Zé Maria foi transferido às pressas até Goiânia. Ficou internado, fez a bateria completa de exames até chegar ao diagnóstico de que precisava da ablação.Após a recuperação e mais diagnósticos, o Mestre voltou ao atletismo, treinou e poderia até participar da Caminhada Ecológica completa. Porém, como tinha a intenção de parar, vai fechar o restante do percurso, até Aruanã. “Você sai da Caminhada, mas a Caminhada não sai de você”, disse Zé Maria, usando a frase de outra atleta, Danielle Pigari, que esteve em edições anteriores e sempre ajuda os atletas nos treinos e na seletiva.A Caminhada Ecológica coincide com datas especiais na vida do Mestre. Nesta sexta-feira (22), ele e a mulher, Sebastiana Lemes dos Santos, completaram 44 anos de casados. Além disso, dois netos deles nasceram em julho, mês do projeto: Guilherme e Bruno.“Eu vou ajudar no que for possível, nos treinos, nas seletivas e nas outras ações. Só não vou participar mais do percurso”, explicou Zé Maria, que tem ajudado nos treinos de outros atletas.Rildo José dos Santos é a outra história dos últimos dias. O atleta teve de deixar a 29ª Caminhada Ecológica nesta sexta-feira (22) por causa do excesso de bolhas nos pés. Pediu para retornar a Goiânia e ficar junto da família, algo primordial para Rildo. No dia 2 de setembro de 2019, ele perdeu o irmão, João Natal, em decorrência de câncer.Naquela ocasião, sofria com a doença do filho, Vinícius Alexandre, uma das milhares de vítimas da Covid-19 no País. Quatro dias depois, teve a dor de perdê-lo. A vida nunca mais foi a mesma para Rildo. “Eu choro todos os dias”, confessou o atleta, que busca reencontrar no esporte forças para seguir adiante.Por isso, depois de ter participado de algumas edições da Caminhada Ecológica, Rildo se preparou para disputar a seletiva do evento. Durante 84km, divididos em três sessões de 28km, em dois dias, Rildo se emocionou várias vezes. A força do projeto da Caminhada Ecológica, segundo ele, “não é só pelo esforço (físico e mental) que o projeto é válido, mas pela mensagem.”A Caminhada Ecológica é um projeto que tem realização do POPULAR e do Sesc. O patrocínio é da Unimed Goiânia. Jeep Pinauto e Instituto PanAmericano da Visão apoiam o projeto. A PUC Goiás faz o apoio científico, e o evento tem ainda apoio logístico do Corpo de Bombeiros e da Política Militar de Goiás. A Caminhada Ecológica também tem parceria com Água Nativa e ProBiótica.