Há cerca de um ano e quatro meses, a carreira e a vida do carioca Wellington Rato passaram por uma reviravolta jamais imaginada por ele. De destaque no Ferroviário-CE até setembro de 2020, na Série C, o versátil atacante se transferiu para o Atlético-GO, teve a chance de estrear na Série A e se projetou. Seis meses depois, foi emprestado ao V-Varen Nagasaki (Japão) na primeira e única transferência internacional, jogou no futebol asiático e, desde dezembro de 2020, está de volta ao futebol brasileiro. Pegando o apelido do jogador, Rato, pode-se dizer que ele saboreia no momento a melhor parte do queijo.Wellington Rato pretende lançar no Rio a marca estilizada WR, “quem sabe com um ratinho no meio”, que será uma grife de bonés que também pode ter camisas. No futuro mais distante, planeja construir campos de grama sintética em Japeri ao lado do irmão, Wallace Rato. É o projeto de uma escolinha para descobrir talentos. Como se sente muito bem em campo, quer esticar a carreira até os 35, 36 anos. E pretende retribuir com futebol de alto nível a confiança nele depositada pelo Atlético-GO.Nem sempre foi possível projetar o futuro. Antes, WR desviou de ratoeiras postas no caminho. Escapou dos perigos da armadilha destinada aos roedores e está em grande fase. É sobrevivente de uma história de altos e baixos, nos aspectos pessoal e profissional. Agora, está no alto do telhado, em plena velocidade.Numa tarde do final de 2016, se viu em meio a um tiroteio entre facções rivais em Japeri (RJ), cidade natal dele na Baixada Fluminense. Ferido no braço direito, se recuperou e retomou a carreira na Caldense-MG. Na temporada 2019, pouco jogou. Passou por crise pessoal, se tornou evangélico. A partir de 2020, passou a driblar com astúcia os gatos (marcadores) que tinha nos trilheiros.Até chegar à fase de sucesso no Dragão, teve um início promissor no antigo Sendas-RJ, que depois virou Audax Rio-RJ. Neste período, era conhecido por ser o irmão mais novo do volante Wallace Rato. Foi batizado no futebol pelo primeiro nome e o apelido. Rato das quadras nos colégios onde estudou, Wellington despontou no futebol carioca em 2012, aos 20 anos.“Na verdade, (apelido) veio de família. Meu irmão, Wallace Rato, já tinha começado no futebol. Está no Nacional-AM. No início, não era Audax, era Sendas Esporte Clube, ali no Rio. O meu irmão conseguiu a peneira para mim. Acabou pegando (apelido) Ratinho. Com a saída dele, o Rato veio para mim”, relembra o atacante atleticano, garantindo que não se importa com a alcunha.Segundo ele, foi uma felicidade só ser comunicado de que precisava levar ao clube os documentos pessoais para se federar e jogar. “Foi uma jornada longa.Foram nove peneiras, na sequência, até chegar o tão sonhado dia de levar os documentos (pessoais). Isso é de 14 para 15 anos. Foi uma felicidade ter esta formação num clube que tinha estrutura surreal, com dois, três campos, alojamento, vale-transporte. Foi o começo de tudo, primordial para que hoje pudesse estar aqui”, enumera.Wellington Rato passou pelos buracos das peneiras e teve início promissor, com gols e um acesso à elite carioca, pelo Audax-RJ. Mais tarde, firmou o primeiro contrato profissional com o clube-empresa - quatro anos de vínculo. A partir deste período, passou a conviver com os treinadores e três deles, importantes na carreira, passaram pelo futebol goiano: Maurício Barbieri (do RB Bragantino-SP e ex-Goiás, foi técnico do jogador nos primeiros anos dacarreira), Zé Teodoro (responsável para levá-lo ao Joinville-SC e ao Ferroviário-CE) e Anderson Batatais (auxiliar de Vagner Mancini no Atlético-GO, foi técnico do Ferroviário-CE e indicou Rato ao Dragão). Também foi treinado por Fernando Diniz no Guaratinguetá-SP.O bom começo de carreira é sucedido por algumas fases pouco reluzentes ou de dificuldades, de 2014 ao início de 2017, marcados por lesões, irregularidades, falta de resultados expressivos. O pior se deu às vésperas do Natal de 2016, quando Wellington Rato organizou um jogo beneficente em Japeri-RJ para arrecadar alimentos. Se viu no meio de um fogo cruzado, entre facções rivais da região.“Acertei na Caldense-MG para jogar o Campeonato Mineiro. No final do entardecer, ao ir para a casa da minha sogra, acabei entrando numa rua e deram seis disparos no meu carro. Quando parou, ali naquele desespero, não senti o meu braço (direito). Fui ver (estava ferido). Então, perdi janeiro (pré-temporada) todo. Voltei para a Caldense-MG e tive todo suporte. Foram muito corretos comigo e ajudaram na minha recuperação”, detalhou Rato. Recuperado, fez quatro gols no Campeonato Mineiro.No segundo semestre de 2017, jogou a Série C pelo Sampaio Corrêa-MA e conquistou o acesso à Série B. A boa fase estava de volta. Foi coroado com o título da Copa do Nordeste 2018. A torcida maranhense ficou em êxtase pela posse da “Orelhuda do Nordeste”, designação dada à taça entregue ao campeão. Wellington Rato e o Sampaio fizeram história na Lampions League.A carreira teve nova reviravolta em 2019. Nada deu certo no Joinville-SC, à época sob comando de Zé Teodoro. Problemas para receber salários, contusão, dúvidas. O jogador, por pouco, não desistiu. “Fui para casa, dei uma desanimada com o futebol. Aquele ano, em relação ao meu trabalho, foi muito ruim, após dois anos bons” disse o atacante. Segundo ele, a guinada se deu no aspecto espiritual, pois se converteu, virou evangélico. Tudo isso num período de muitas dúvidas.Até o telefone tocar no fim de 2019. Era Zé Teodoro e veio o convite para jogar no Ferroviário-CE. A boa fase voltou, mas foi interrompida pela pandemia do coronavírus. O jogador conseguiu se destacar no time cearense em meio aos grandes do Estado, Ceará e Fortaleza. Zé Teodoro saiu e foi substituído por Anderson Batatais. Rato continuava em grande forma, mas ficou sem o técnico que havia lhe dado moral.Batatais se juntou a Vagner Mancini no Dragão. O destino e a indicação de Anderson colocaram Rato na rota do clube no fim de setembro.Bastaram seis meses (outubro de 2020 a março de 2021) para o jogador migrar de Goiânia para o Japão, onde foi reforçar o V-varen Nagasaki. “Quando Deus está no controle, as coisas acontecem. Pedi a orientação. Tem sido assim, até hoje.”No Japão, ele assimilou bem a cultura oriental. Sonha em voltar um dia. “Muda muito a mentalidade”, resume Rato, que esperou um mês para viajar para a histórica Nagasaki - saiu do Atlético-GO no fim de março e rumou para o novo país no dia 21 de abril, num voo que tinha cerca de dez jogadores brasileiros, também à espera da liberação para viajar. Ainda teve de esperar mais 14 dias, de quarentena, para treinar no campo. Ficou cinco meses sem a família - a mulher, Luana, e o filho, João Lucas.O retorno ao Dragão se deu nesta temporada, após o empréstimo. Foi titular nos dois primeiros jogos, marcou um gol e participou de duas vitórias. eve lance descrito pelo técnico Marcelo Cabo durante a vitória em Iporá. Deu uma “esticada” ao atravessar o campo com a bola no pé, até Rickson sofrer o pênalti. É só um exemplo de como pode ser decisivo para o Dragão em 2022.