A eliminação da seleção brasileira nas quartas de final da Copa do Mundo, para a Croácia, nos pênaltis, foi dolorida para os torcedores brasileiros, mas ir embora para casa pode ser também encarado como uma vitória.A Unidade de Transplantes do Hospital Alberto Rassi (HGG) é um local que inspira esperança. Na ala do hospital estão, atualmente, 18 pacientes que passaram por transplantes renais esperam pela notícia da alta hospitalar para voltarem para casa.Leia também+ No Catar, torcida fica incrédula na saída do estádio+ Fim do sonho: Brasil deixa o Catar sob frustração e incerteza de futuro de Neymar+ Analistas veem erro em deixar Neymar para o fim nos pênaltisEnquanto essa liberação não ocorre, os pacientes acompanharam os jogos da seleção brasileira no hospital. A eliminação do Brasil para a Croácia, nos pênaltis, provocou um misto de sentimentos nos torcedores ao longo dos 120 minutos de bola rolando, mas a frustração ficou nítida quando a seleção brasileira perdeu nos pênaltis.Para os pacientes que estão muitas vezes por semanas e até por períodos superiores a um mês no hospital, as partidas de futebol da seleção brasileira na Copa do Mundo serviram para mudar o ambiente e trazer um pouco de alegria ao cotidiano. “Nós sentimos a vibração da Copa do Mundo e o que podemos fazer é tentar alegrar os pacientes, proporcionar um momento bom para que todos consigam assistir”, explicou a enfermeira Naiara Rodrigues Ribeiro, de 35 anos.Naiara conta que a rotina de trabalho sofre alterações. “É um olho no jogo e outro nos pacientes. Ficamos ali, assistindo ao jogo, mas sempre olhando as medicações e observando se os pacientes não estão sentindo alguma dor ou incômodo”, contou a enfermeira. Durante a partida, um paciente pediu para adiar por alguns minutos a troca de um curativo, para que fosse feito após o fim da partida.Ao longo da partida, o ambiente de silêncio comum aos hospitais ficou um pouco de lado. Os gritos de emoção eram inevitáveis em cada ataque perigoso da seleção brasileira. Além dos pacientes, os acompanhantes também sofriam e agitavam o corredor da Unidade de Transplantes do HGG.Meia hora antes do início da partida, Rany Pereira, de 37 anos, era uma pilha de nervos. Estava acompanhando a mãe, Eula, que tinha passado por um transplante de rim. Fanática por futebol e pela seleção brasileira, ela não escondia o nervosismo, mas estava firme no quarto ao lado da mãe. “Eu gosto bastante de futebol e claro que gostaríamos de estar em casa assistindo, mas preciso acompanhar minha mãe. Vai ser o nosso segundo jogo aqui e, da outra vez, foi animado”, contou Rany, que é de Inhumas.Além da opção de assistir ao jogo nos quartos de internação, os pacientes puderam ir ao corredor da ala de transplantes para assistirem juntos à partida contra a Croácia. Em uma “arquibancada” improvisada com cadeiras posicionadas próximas à televisão da recepção, pacientes, acompanhantes e profissionais da saúde torciam juntos pela vitória da seleção brasileira.Sílvio Carlos da Silva, de 64 anos, posicionou sua cadeira bem em frente à televisão e acompanhou o primeiro tempo com muita atenção. Foi, aos poucos, se irritando com a demora da seleção brasileira em abrir o placar. No intervalo, com o almoço servido nos quartos, o paciente torcedor foi para o local reservado e preferiu não voltar para o segundo tempo.O paciente impaciente explicou que a decisão foi tomada por querer que o gol saísse logo. “Não sou muito de bola porque não tenho paciência, fico nervoso”, disse Sílvio Carlos. Na verdade, ele estava ansioso para o dia seguinte e não apenas para saber o resultado da partida.A vitória dele estava garantida. Com um novo rim recebido por transplante e após 20 dias internado no HGG, a alta hospitalar está marcada para este sábado (10). Diferente da seleção brasileira, que chorou a eliminação e a volta para casa, Sílvio Carlos estava aliviado por poder voltar para Pontalina. “Foi bom demais, não passei mal, não senti nada. Resolvi fazer o transplante e fiz, deu tudo certo”, comemorou.Outra paciente que chamou muita atenção foi Neuza Alves dos Santos, de 54 anos. Ela não arredou o pé da recepção e não tirou os olhos da televisão. Torcia intensamente em cada jogada, sofria em todo ataque da Croácia. Amante do futebol, ela vivia um dilema para acompanhar a partida. Estava de volta ao hospital por ter passado por algumas complicações, como pressão alta. Era notável a tentativa de dosar a emoção ao longo de toda a partida. A vibração com o gol de Neymar e a frustração com o empate croata foram emoções fortes vividas antes da disputa por pênaltis.Se a derrota foi motivo de muita lamentação e frustração, ela não abalou a esperança de Neuza Alves, que espera ver os últimos da Copa do Mundo em casa, pois tem alta prevista para o início da próxima semana. A derrota e a eliminação da seleção brasileira foram apenas um detalhe para quem seguem batalhando dia após dia.-Imagem (Image_1.2575724)-Imagem (Image_1.2575725)