Campeão recentemente do Campeonato Sul-Americano Sub-20, à frente da seleção brasileira da categoria, o técnico Ramon Menezes acumulará também o comando da equipe principal do Brasil, que inicia novo ciclo a partir de março, no amistoso contra o Marrocos. Enquanto a CBF não define o futuro ocupante do cargo, o treinador de 50 anos vai acumular as duas seleções, pois será dele o trabalho da equipe que disputa o Mundial Sub-20, de 20 de maio a 11 de junho, na Indonésia.Elogiado pelo trabalho vitorioso no Sul-Americano, que encerrou jejum de 12 anos sem títulos do torneio, Ramon Menezes iniciou a carreira de técnico no futebol goiano. Foi campeão invicto na estreia, em 2015, na 3ª Divisão do Campeonato Goiano, à frente da Associação Esportiva Evangélica (Aseev), de Paraúna, cidade com cerca de 12 mil habitantes e distante 160 km de Goiânia.Naquele ano, o Anápolis firmou parceria com Francis Melo e a empresa dele, ligada à gestão de futebol. Para iniciar o projeto e formar elenco para o Goianão 2016, houve outra parceria, desta vez com a Aseev, até então sediada em Paraúna e dirigida por Clóvis Santos Borges. A ideia era preparar a equipe com antecedência e observar atletas. Ex-goleiro, Clóvis relembra o projeto vitorioso e o trabalho do então estreante técnico Ramon Menezes.“Sistemático, reservado enquanto está trabalhando, mas muito tranquilo, educado”, define Clóvis Borges sobre Ramon Menezes. Clóvis passou pela seleção brasileira de base, nos anos de 1980, sob a direção do técnico Jair Pereira. “Em toda a minha carreira no futebol, conheci dois treinadores diferentes para trabalhar: Jair Pereira e o Ramon (Menezes). Ele (Ramon Menezes) é um estudioso do futebol, respeita as pessoas, não se dirige a ninguém com falta de educação e tem comando”, diz Clóvis, citando que o técnico interino da seleção tem potencial de evolução e capacidade de crescer ainda mais no futebol brasileiro, que vive carência de bons treinadores.No trabalho à frente da comissão técnica da Aseev, Ramon Menezes teve a companhia do irmão dele, Fábio Menezes Hubner. A coordenação era do ex-jogador Fabinho, gerente de futebol do Flamengo e campeão da Libertadores e do Mundial Interclubes (2006) no Inter. “Era uma estrutura de 1ª Divisão. O irmão dele (Fábio Menezes) cuidava mais da logística, do trabalho de estatística e análise de desempenho”, detalha Clóvis.Leia também:+ Manipulação de resultado: comprovantes mostram que ex-Vila recebeu adiantamento em três repasses+ Entenda por que a Copa Verde ganha relevância em classificação para a Copa do BrasilQuem trabalhou com Ramon Menezes em parte deste período, e depois no Anápolis, foi o mineiro Daniel Porto, atualmente no trabalho de scout do Atlhetico-PR. Ele fazia parte da equipe de gestão, gerência e supervisão na parceria de Francis Melo com o Anápolis. Para ele, o técnico iniciante mostrava boas credenciais. “Ramon (Menezes) é um baita profissional, dedicado, estudioso, ótima visão do processo. É um cara simples, não se envolve em polêmicas, resenhas, não mistura o pessoal com o profissional”, define Daniel Porto.A campanha foi tranquila. A estrutura do projeto, o trabalho de Ramon Menezes, assim como o envolvimento da Aseev, resultaram na conquista invicta do título da Terceirona (sete vitórias e dois empates, melhores ataque defesa). A Aseev só não fez o goleador, que foi Gênesis, do Bom Jesus, ao marcar sete gols.Na final, vitória sobre o Caldas por 2 a 0. A equipe teve: João Vítor; David, Welton Felipe, Renato Justi, Lucas (Leandro Motta); Felipe Dias, Felipe Baiano, Cássio (Lima), Lucas Sotero; Juninho (André) e Matheus Guerreiro. No ano seguinte, parte deste time esteve na campanha que levou o Anápolis à final do Goianão 2016, perdida nos pênaltis para o Goiás. Nomes como Renato Justi, Felipe Baiano e Lucas Sotero eram titulares no Galo da Comarca. Juninho, atacante, é irmão de Bruno Henrique (ex-Goiás, atualmente no Flamengo)A estreia da Aseev foi no dia 29 de agosto e a Terceirona foi decidida no dia 31 de outubro de 2015. Foram dois meses de competição e cerca de três de trabalho. “Ele (Ramon) levou seu conhecimento de um cara atualizado e montamos um time que deu liga, as peças se encaixaram”, disse Daniel Porto. O treinador, segundo ele, gostava de trabalhar com “organização dentro e fora de campo”. No comando, Ramon não tinha “estilo de treinador amigo de jogador”. “Ele conseguiu gerir bem o grupo. O nome Ramon Menezes era muito respeitado no clube, entre os jogadores”, conta.Time para quebrar as linhas, mas com responsabilidadeDaniel Porto, que trabalhava com a gestão do projeto da Aseev campeã da 3ª Divisão do Campeonato Goiano sob o comando de Ramon Menezes em 2015, afirma que o treinador, que agora assume a seleção brasileira interinamente, teve percepção de que se tratava de chance rara para o início de carreira. ”O foco era o Anápolis, mas (trabalho) na Aseev foi ótimo. Ramon (Menezes) vestia a camisa, muito dedicado, sério, via ali oportunidade de iniciar a sua carreira, via a possibilidade do Francis Melo levá-lo para um clube maior caso fizesse um bom trabalho”, explica Daniel, referindo-se ao trabalho que o técnico assumiria em seguida no Galo da Comarca.O treinador sempre respeitou as pessoas envolvidas no projeto, assim como a logística oferecida, mesmo que fosse distante de um grande centro do País. “Era um cara simples, educado, mas era discreto, não era de falar”, acrescenta Daniel Porto. Depois deste projeto, de 2015 a 17, os dois não trabalharam mais juntos, mas Daniel acredita que o treinador pretende consolidar a carreira dele no futebol brasileiro.“Ele gosta de trabalhar, tanto cedo como à tarde. São treinos técnicos e táticos proveitosos, tanto os defensivos quanto os de ataque, com bola e sem bola. No sistema de jogo, Ramon (Menezes) gosta que a equipe dele quebre as linhas (adversárias), mas com responsabilidade. Na conversa com os jogadores, fala com objetividade e convicção”, afirma Clóvis Santos.No Anápolis, no ano seguinte, os resultados foram bons nos três primeiros jogos, mas o time ficou duas rodadas sem vitórias. O clube e o parceiro, Francis Melo, decidiram pela troca de comando com receio de que o Galo da Comarca não se classificasse entre os quatro melhores. Waldemar Lemos foi o substituto, levou o tricolor à final e garantiu vaga na Série D. Porém, Ramon Menezes deixou boa impressão. O trabalho dele fez com que retornasse na Série D 2017. Novamente, não engatou boa sequência de resultados, saiu e deu lugar a Alan George.-Imagem (1.2617565)