Aos 57 anos, Edmo Mendonça Pinheiro tem assumido papel mais presente no futebol do Goiás e diz que isso tem ocorrido porque o atual presidente, Paulo Rogério Pinheiro, o quis ao lado. Neste início de 2022, o dirigente participa da montagem do elenco para a temporada e da definição de comissão técnica. Não há pressa, garante, ao dizer que terá “paciência de Jó” para escolher novo técnico. O dirigente detalha o processo para buscar um treinador, que prefere que seja estrangeiro. Após o acesso, o vice do Conselho Deliberativo diz que objetivo do Goiás tem de ser estar na Série A em 2023 e reafirma não estar preocupado com o transfer ban imposto ao clube. Confira a entrevista ao POPULAR.Você sempre foi um dirigente presente, às vezes na retaguarda, mas agora está na linha de frente. Como tem sido?Não me considero dirigente, me considero um amante do Goiás. Não estou diferente, sempre estive presente no Goiás. A diferença é que agora tem um presidente que não virou as costas para mim e me quis ao lado dele. Estou mais presente por isso.E agora tem a missão de escolher um treinador...Não é uma missão específica para contratar treinador. A primeira missão é do, aí sim dirigente, nosso vice-presidente de futebol (Harlei Menezes). Sou auxiliar do Harlei para a montagem de um elenco como todo. Tanto do treinador, claro, como do elenco. Nossa missão é completa.De onde veio sua predileção por um técnico estrangeiro?Temos visto muitas experiências e conhecemos todos os treinadores brasileiros. Estamos enxergando, e não é pelo modismo, que precisamos trazer para o futebol brasileiro novas culturas. Precisamos mesclar o talento dos nossos jogadores com uma cultura um pouco diferente dos comandantes. Os estrangeiros são treinadores que, por si só, procuram estudar mais, serem diferentes e extrair mais dos jogadores. O Goiás vai buscar um treinador que seja do tamanho do Goiás e que tenha feito trabalhos fora com destaque em clubes menores, que aceite diálogo com a diretoria e que entenda que ele não seja o senhor absoluto da razão. É uma série de análises que estamos trabalhando para encontrar esse perfil.Seria um sul-americano?Pode ser um europeu. Claro que o português tem a facilidade da língua e não dificultar na comunicação é muito importante.Vocês buscam alguém que já trabalhou no Brasil ou um novato?Dificilmente vai ser alguém que trabalhou no Brasil.Como funciona o seu relacionamento com o Harlei para buscar esse nome?Nos falamos o dia todo enquanto estamos acordados. Tenho muitos contatos na Europa, na América do Sul e pessoas de todas as áreas. Estamos pesquisando, mas ele é o para-raios, tudo chega para ele. Nós também pegamos muitas informações com nosso time de analistas (de desempenho), o Dudu (Eduardo Pinheiro) e Rodolpho (Chinem), que ficam estudando todos os números. É um trabalho em conjunto.Já receberam muitas indicações?De ontem (quarta-feira) para hoje (quinta-feira) devem ter chegado uns 50 nomes.Tem algo encaminhado?Estamos estudando alguns nomes e começamos a conversar, a entrevistar e, quando for a hora de contratar, o Harlei vai no local para conhecer de perto, fazer uma entrevista in loco.Tem um prazo para chegar a esse nome?Jó vai parecer afobado perto de mim e do Harlei. Vamos fazer com critério.O Goiás hoje não pode registrar jogadores por causa do transfer ban. Vocês estão encontrando alguma resistência no mercado por isso?Nada, normal. O mercado nem conhece isso. Hoje não podemos, até porque a CBF não está registrando. Isso não está em pauta. Agora, o que estamos fazendo é analisar muito bem cada jogador.O torcedor pode esperar que na 1ª rodada do Goianão os reforços estarão inscritos?Te garanto que eles não deverão jogar a 1ª rodada, acredito que nenhum reforço, pela questão de que vamos priorizar a pré-temporada. Esse assunto (transfer ban) não está em pauta no Goiás.Vocês perguntam sobre vacina quando vão contratar?Não. Orientamos, mas não podemos obrigar a vacinar. O que fizemos foi fazer um novo contrato com o doutor Boaventura (infectologista) e ele já está dando todo o suporte e acompanhando o elenco.Você costuma ter um discurso realista e a torcida pega no seu pé por isso. O Goiás briga por qual objetivo em 2022?O Goiás briga para fazer uma participação muito consistente na Série A. Luta para fazer uma Copa do Brasil para chegar muito próximo, quem sabe, de disputar um título. Nosso objetivo é o mesmo do Atlético-GO, é o ano da nossa afirmação dentro dessa reconstrução que estamos vivendo. Não engano ninguém, sou franco e verdadeiro. Não vivo de sonhos e desilusões, vivo de realidade. Não tem torcedor que sonha mais que eu com um título nacional do Goiás. Mas conheço a realidade e sei das possibilidades. Estar na Série A hoje é praticamente um título. Não é brincadeira o Cruzeiro estar pela terceira vez na Série B, o Vasco pela segunda vez e, agora, o Grêmio jogá-la pela terceira vez.Mas dá para colocar como objetivo uma vaga na Copa Libertadores, feito que só o Goiás tem aqui no futebol goiano?O objetivo é estar na Série A em 2023. Esse é o objetivo. As consequências de um trabalho bem feito é, talvez, chegar na Sul-Americana. Se fizer muito bem feito, é ir para a Libertadores. São consequências. É igual uma maratona. Todos chegam com o objetivo, primeiro, de terminar o percurso. É o que queremos fazer.O Goiás vive o maior jejum de títulos deste o tetra do Vila Nova (1977-1980). Vai priorizar a pré-temporada, mas isso inviabiliza a conquista do Goianão?Não. No Goianão, nós temos, mesmo priorizando da pré-temporada, que buscar participar da final sempre. Não é o favorito, já foi no passado. Hoje, você tem o Atlético-GO, o Vila montando um bom time. Vai ser um campeonato gostoso, porém nossa prioridade vai ser a pré-temporada muito bem feita. Vamos copiar muito o que tem feito o Athletico-PR.Como você vê o crescimento do Atlético-GO? Quanto é benéfica para o Goiás?É benéfica para o futebol goiano. Quais são os estados brasileiros que têm dois representantes na Série A? São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Ceará e Goiás. Mas isso é trabalho de gente competente, o Adson (Batista), o Jovair (Arantes) que estão na luta, devagar e mesmo assim são cobrados. Você pega o Vila Nova com o trabalho do Hugo (Jorge Bravo), (Romário) Policarpo, do (Leandro) Bittar, eles estão organizando. É difícil. E não é só em Goiânia, olha o trabalho do Élvis (Mendes) na Aparecidense. Está crescendo e já está na Série C.Cabe uma SAF (Sociedade Anônima de Futebol) no Goiás? Passaria no Conselho Deliberativo?O Goiás já começou a entender que não vai ter outro caminho. É claro que existem vários tipos de SAF. Evidentemente que nós, por sermos mais conservadores, estamos pensando nela de uma maneira que ela exista, porém que preserve muito da nossa visão de quando construímos o clube. Mas é inevitável.Existe um desgaste do nome da família Pinheiro com a torcida. O Goiás traz mais benefícios ou mais desgaste?O Goiás só trouxe alegria. Quando você ama alguma coisa, não importa. O futebol é passional. Tenho certeza que, no ano passado, “os Pinheiros” foram amados. Se o Goiás for para a Libertadores, eles serão idolatrados. O que importa é que o amor dos Pinheiros pelo Goiás, independentemente dos elogios ou das críticas, não mudará uma vírgula.Como você vê seu futuro dentro do clube? Pensa em algum cargo executivo?Não. Esse ano vence o mandato do presidente do Conselho (Hailé Pinheiro, tio de Edminho) e isso é o que mais nos preocupa. Ele não pode se reeleger, ele tem tomado seu tempo com tratamentos de saúde. Já não pode se eleger por estatuto. Esse talvez seja o momento mais difícil do Goiás. Eu sou o primeiro vice-presidente (do Conselho). Não sei se vai ter candidatos, vamos ver na hora. Mas executivo eu não penso.Mas isso te tira o sono?Só uma coisa que me tira o sono, que é poder imaginar que o Goiás não estará na Série A em 2023. Por enquanto, tenho dormido bem, pois tenho certeza que estaremos.