Quase 16 anos depois, o Campeonato Goiano deve ter arbitragem feminina na disputa do Estadual. Michelle Safatle, de 33 anos, deixou de ser aposta, se tornou realidade e é cotada para trabalhar como árbitra principal no Goianão 2022. A última vez que uma mulher apitou jogos da 1ª Divisão goiana foi no dia 12 de fevereiro de 2006, com Sirley Cândida, na vitória da Anapolina por 3 a 1 sobre a Aparecidense.Michelle Safatle está no quadro de árbitros da Federação Goiana de Futebol (FGF) desde 2016 e, segundo o presidente da comissão de arbitragem, Júlio César Motta, está apta para trabalhar em jogos do Estadual.“Hoje, me sinto pronta para novos desafios e oportunidades que vão surgir. Estou mais preparada para esses jogos. A 1ª Divisão do Estadual é nível acima da 2ª e 3ª. Tive oportunidades, ano passado, que me ajudaram, deram experiência e maior vivência que vou levar para os jogos do Goiano”, contou Michelle Safatle.Há três edições do Goianão, não são feitos sorteios para definição dos árbitros dos jogos na competição, a escala é feita por meio de audiências públicas na sede da FGF. “Não posso adiantar que o árbitro vai estar escalado, a avaliação é feita a cada jogo. Ela (Michelle Safatle) está apta, bem preparada para estrear no Goianão. Fez boa temporada na CBF e divisões de acesso no Goiano. Pouquíssimos erros. Está bem cotada para apitar”, afirmou Júlio César Motta.O planejamento de Michelle Safatle, que é ex-jogadora de futebol, foi adquirir experiência ao longo dos últimos anos. Até 2019, a profissional não se sentia pronta para apitar jogos do Goianão.Entre 2020 e 2021, a goianiense trabalhou como árbitra ou 4ª árbitra em jogos da 2ª e 3ª divisões do Goiano, Brasileiro de Aspirantes, Sub-20, Sub-17 e o Feminino A2. Neste último torneio, além de apitar jogos do Atlético-GO, foi árbitra principal no jogo de ida da final entre RB Bragantino (campeão) e Atlético-MG (vice).Para ela, apitar jogos da elite do Goiano será a concretização de uma meta. “É a realização de mais um sonho. Todo início de ano, a gente faz planejamento de metas. Dois, três anos atrás, essa era a minha meta, apitar um jogo do Goiano. Era uma etapa que eu não podia pular. Agora, preciso estar pronta para as próximas etapas”, complementou Michelle Safatle.Depois que apitar jogos do Goianão, o foco da profissional será de trabalhar em partidas do Campeonato Brasileiro. A CBF exige que ela apite três jogos no Estadual para ser escalada em alguma divisão nacional.“O próximo passo é o Brasileirão Série D, existe uma grande expectativa do quadro nacional com meu trabalho. Acredito que devo ter oportunidade de ir para a Série D, que terei visibilidade para mostrar do que sou capaz”, salientou Michelle Safatle.Outro hiato que deve ser finalizado em 2022 é de uma assistente em partidas do Goianão. Além de Michelle Safatle, o quadro goiano tem Jordana Pereira e Michelle Caixeta como assistentes. A última vez que uma mulher trabalhou, no gramado, em jogo do Goianão foi no dia 26 de janeiro de 2011, com Gabrielle Sales como assistente na vitória do Goiás sobre o Morrinhos.“A Jordana é nossa assistente, está com 27 anos. A Michelle Caixeta é a única que não está no grupo do Goianão. Por causa de uma lesão, ela está parada. Nossa expectativa é de que ainda este ano o trio fique completo”, avisou Júlio César Motta.Além da arbitragem feminina, o Goianão 2022 deverá ter estreias de outros árbitros goianos. O número ainda não foi definido, mas de seis a sete profissionais podem trabalhar pela primeira vez em jogos da elite estadual em 2022. A ideia é iniciar o processo de renovação do quadro.“Árbitro demora mais do que jogador de futebol para se maturar. Quando nomes experientes pararem, a gente precisa manter o nível de árbitros de primeiro mundo que temos no quadro”, disse Júlio César Motta, que explicou que FGF e CBF fornecem serviços psicológicos para os árbitros e profissionais auxiliam nos cuidados mentais da profissão, que é acostumada a receber críticas.Sonho de Copa e espelho em Edina AlvesO sonho de jogador de futebol costuma ser de representar a seleção do seu país. Para o árbitro, chegar ao quadro da Fifa é o objetivo de muitos profissionais. É assim com Michelle Safatle. A goiana tem o desejo de um dia fazer parte do grupo que reúne os principais árbitros e assistentes do mundo. O goiana, porém, mantém os pés no chão e sabe que precisa superar etapas no Brasil.“É o maior projeto. Cada tijolo colocado no meu muro é para chegar no quadro de árbitros da Fifa. Alguns até falam que é fácil chegar, que difícil é se manter. Tenho feito cursos da Fifa nos últimos anos, entendo que posso alcançar esse nível de carreira”, comentou Michelle Safatle, que, em agosto do ano passado, esteve presente no Lista Fifa, curso da entidade que foi realizado no Rio de Janeiro e reuniu árbitros, assistentes e convidados para uma série de atividades teóricas e físicas.Depois desse curso, que foi realizado entre os dias 16 e 20 de agosto de 2021, a profissional foi confirmada como árbitra do jogo de ida da final do Brasileiro Feminino A2 entre RB Bragantino e Atlético-MG.“É difícil fazer uma estimativa, cada um cria a própria, mas não posso queimar etapas. Tenho que passar por mais coisas ainda para chegar pronta. Assim que fiz o curso no Rio, tive oportunidade no feminino e apitei a final da Série A2. Fiz um jogo impecável”, contou Michelle Safatle - esse foi o primeiro jogo televisionado que a profissional apitou na carreira.A principal referência da goiana na profissão é a árbitra Edina Alves Batista, de 42 anos. “Até acho que tenho um pouco do perfil dela. O modo de conversar com os jogadores, de deixar o jogo correr. Assisto jogos dela, tento pegar um pouco para aprimorar”, declarou a goiana, que não se diz ansiosa para apitar no Goianão por entender que mostrou que pode trabalhar na elite estadual. “Eu e a Jordana (Pereira, assistente) mostramos bom trabalho e que somos capazes”, salientou Michelle Safatle.