O central Vini Mendes, do Goiás Vôlei, é um exemplo de atleta que precisou sair do estado para construir uma carreira no esporte que ele define como “paixão”. Goiano de Itaberaí, o jogador esmeraldino ganhou experiência em outros pontos do país, jogou no exterior e, há duas temporadas, fez o caminho inverso.Vini voltou a atuar no vôlei goiano já na reta final da sua trajetória como jogador. Aos 39 anos, o atleta vê potencial de crescimento da modalidade no estado e entende que o caminho para isso ocorrer passa por mais investimentos.Vini começou no vôlei em um projeto social em Itaberaí, chamado Clube do Povo. “Um belo dia, estava andando de patins, não jogava bola e não tinha aproximação com a bola. Vi uns caras grandes jogando, achei interessante, dei uma volta, duas, sentei e fiquei observando. A partir disso, entrei para a quadra e não saí. Era um mantra, para mim, jogar voleibol e se tornou uma paixão”, lembrou o jogador, que entrou no projeto aos 14 anos.A família do atleta ainda mora na cidade. Sempre que surge um período de folga, ele vai encontrar familiares no local que também é a terra natal do volante Ricardinho, ex-Goiás e Vila Nova, que hoje defende o Juventude no Brasileirão.“Tenho casa lá (Itaberaí), estou sempre lá. É uma cidade que adoro, tenho muitos amigos, temos um jogador de futebol que hoje joga no Juventude, o Ricardinho. Ele é do meu bairro, foi meu vizinho. Tivemos uma região produtiva de atletas de alto rendimento (risos)”, brincou Vini, que hoje vive momento feliz da carreira, mas reconhece que não teria alcançado se tivesse seguido no estado quando jovem.Aos 17 anos e com apoio da família, Vini atuava no Jóquei Clube, em Goiânia, e decidiu que teria de sair do estado para crescer no esporte. “Não tinha internet na época, era lista telefônica para conseguir falar com alguém. Lembro que perguntei para as pessoas mais experientes quais eram os melhores times para ir. O levantador, não me recordo o nome, me passou alguns telefones, peguei minhas coisas e fui sozinho para São Paulo”, contou Vini.O jogador agendou teste no Banespa, não passou, mas um observador estava no local e fez o convite que mudou a carreira do goiano. “Tinha esse entendimento que precisava sair daqui (Goiás) para vivenciar o voleibol. Tinha um técnico do Equador assistindo à peneira, ele gostou de mim, me procurou e acabei indo para o Barcelona (de Guayaquil). Joguei um ano lá, voltei e não parei mais até voltar para Goiás”, detalhou Vini.Depois do Barcelona, que foi seu primeiro clube profissional, Vini ainda defendeu Johnson Clube-SP, UNORP-SP, Unisul/Florianópolis-SC, Cimed-SC, Drac Palma-Espanha, Tigre Joinville-SC, Sesi-SP, Vôlei Futuro-SP e o Campinas-SP antes de retornar ao vôlei goiano. O central retornou para o estado em 2020, atuou na Superliga C pelo Neurologia Ativa e, depois, acertou com o Anápolis Vôlei para a disputa da Superliga B em 2021. O clube ficou na 3ª posição, mas garantiu o acesso à Superliga após desistência do campeão JF Vôlei-MG.“Demorou muito até Goiás ter essa visibilidade que tem no voleibol. Participei da Superliga C com o Neurologia Ativa com o professor Sávio. Antes, teve o projeto do Montecristo, que, apesar de ter sido campeão da Superliga B (em 2013), não teve sequência. Anápolis veio para o cenário, o Vila agora e eu vejo Goiânia com potencial de crescimento”, contou Vini.O central acredita que investimentos são o diferencial. “A gente olha como referência Rio e São Paulo, mas o que falta é a questão financeira. Hoje em dia, uma pessoa física pode ajudar um projeto de voleibol, handebol, basquete por meio da Lei do Esporte. Talvez isso possa ajudar a melhorar a estrutura do esporte”, opinou Vini, que já considera a aposentadoria, mas não deixará o esporte.“Quando vai chegando aos 38, 39 anos, você pensa (em aposentar). É inevitável. Tento não pensar porque amo o voleibol, mas não me vejo longe das quadras. Dentro delas ou em outra função, quero que seja aqui em Goiás. Tinha o sonho de jogar aqui, pretendo encerrar aqui, mas quero seguir no esporte”, declarou o central do Goiás Vôlei, que completará 40 anos em setembro deste ano.Coach ajudou a encontrar liderançaVini é uma das referências de lideranças do Goiás Vôlei. Nos treinos, o jogador conversa muito com companheiros em tom de orientação a cada lance nas atividades que estão sendo disputadas no Ginásio Rio Vermelho, nova casa do clube esmeraldino na Superliga. Esse espírito de líder, porém, não era algo que o central tinha e só foi perceber em 2016, quando passou a trabalhar com uma coach esportiva.Na época, Vini defendia o Vôlei Renata, que tinha sede em Campinas-SP. “Eu fiz um trabalho com a Lari (Larissa Zink, coach) do Vôlei Renata e ela falou que eu tinha todas as ferramentas de um bom líder. Que tenho um bom relacionamento, que tenho uma boa gestão de pessoas e que consigo me expressar bem. As pessoas param para me ouvir. Ela trabalhou isso comigo, eu fui para Campinas em 2012, em 2016 ela chegou. Ali dentro de Campinas me tornei uma referência”, contou o jogador.Em treinos e jogos, Vini adotou o hábito de conversar com todos os companheiros no sentido de orientação. “Assim como hoje, tinham garotos (no Vôlei Renata) que me viam como espelho. Eu me tornei uma pessoa boa dentro das quadras, mas também fora. O coach abriu minha mente, sou grato à Lari por ter me ajudado nisso”, salientou o central esmeraldino.Para Vini, não deixar cair a confiança que ele e outros profissionais experientes do elenco do Goiás Vôlei possuem, durante o início ruim do clube na Superliga foi determinante para o crescimento gradual da equipe, que venceu os dois últimos jogos do 1º turno e diminuiu a diferença de pontos para a faixa de classificação.“Isso é mérito da confiança que todos têm de que as coisas iam sair e por parte da comissão técnica, não é fácil passar o que passamos. Foram nove derrotas consecutivas, que geraram turbilhões. O porto seguro foi a comissão técnica, que passou segurança de um trabalho a ser desenvolvido”, pontuou Vini, que deseja que o Goiás Vôlei aproveite o bom momento para seguir em ascensão na classificação da Superliga.“O Renan Dal Zotto (atual técnico da seleção brasileira masculina) foi meu técnico na Cimed-SC, ele falava que voleibol é momento. Tem de se aproveitar o momento. Passamos um momento ruim, estamos vindo de duas vitórias consecutivas e temos que entender esse bom momento coletivo que vivemos. Vamos aproveitar isso para os próximos jogos. O time entendeu isso e levou para dentro da quadra”, completou Vini.