Por que você quer ser presidente da Federação Goiana de Futebol (FGF) nos próximos quatro anos?Um dos principais motivos é a paixão pelo futebol, que não é algo fácil de se mexer. Ele envolve emoção e muitas outras coisas. Em segundo lugar, o desejo dos clubes de mudar a federação, que estava inerte, parada. A gente via que não tinha nada acontecendo. O Campeonato Goiano acabando, os clubes sem calendário. Uma série de coisas que despertou desejo de renovação. O André (Pitta) está há 11 anos à frente da federação, com mais 16 anos de comando do Wilson (da Silveira, morto em 2007). São 27 anos de um mesmo grupo.Você é um desportista, mas ligado ao automobilismo. Como vencer esta barreira?Não sou tão desconhecido como todo mundo fala. Meu pai (Lélio Vieira) foi diretor das categorias de base do Vila Nova, na década de 1970 e início da década de 1980. Nasci dentro do clube com ele. Depois, ele se afastou um pouco da direção e ficou só como conselheiro. Sou conselheiro do Vila Nova e vejo o que acontece no dia a dia do clube. Quando o pessoal fala “seu esporte é rali”, eu uso como exemplo o Paulo Nobre, ex-presidente do Palmeiras. Ele largou o rali pra ser presidente do Palmeiras e transformou o clube na maior potência do futebol, e gestão, no Brasil. Falo para todo mundo que o rali tem produzido bons dirigentes para o futebol. Eu quero ser o Paulo Nobre da FGF.O futebol goiano, em nível nacional, está praticamente reduzido ao trio Atlético, Goiás e Vila Nova. O que fazer para mudar este quadro?É preciso mudar, pegar os recursos que entram na federação e distribuí-los, de forma melhor, entre os clubes. Hoje, a federação custeia, com os recursos do Pró-Esporte, as viagens, o hotel, a alimentação, arbitragem. Você tem outros recursos, como o contrato de direito de imagem com a Rede Globo, o contrato de venda de placa. São contratos que a federação não distribui, de forma igual, entre os clubes. Queremos que os recursos sejam distribuídos de forma igual.Apenas esta medida seria suficiente?É preciso, também, fazer promoção para trazer o público de volta aos estádios. Hoje, o Campeonato Goiano não tem nenhuma promoção. A última promoção que teve foi em 2007 (quando a federação contratou um jogador para cada clube). A federação parou de promover o Campeonato Goiano. Futebol é um evento. Se ele não for promovido, ninguém vai ao estádio. Precisa ter promoção, sorteio de carro, viagens, uma série de coisas.Qual a sua proposta para os clubes do interior, para tentar fortalecer o futebol em mais cidades de Goiás?A primeira coisa que se precisa é viabilizar os campeonatos. Está tudo no automático. Já não acontece, mais, uma promoção. Os campeonatos estão um pouco largados. Não adianta a gente querer ter um clube forte se não temos um campeonato forte. Se conseguirmos ter dois ou três times na Série A (do Campeonato Brasileiro) no ano que vem, você engrandece, passa a ter mais visibilidade nacional, consegue trazer mais recursos para o Campeonato Goiano. E, assim, ajudará os clubes do interior.Dá para romper com o ciclo de dependência, de alguns clubes do interior ,em relação às prefeituras?Hoje, os governos estaduais e municipais têm recursos para investir no esporte. É preciso arrumar formas para que esses recursos sejam investidos de uma forma melhor e igual pra todo mundo. Se o poder público tem este recurso no orçamento, para incentivar o esporte, ele terá de ser usado. Cada cidade tem uma prefeitura com situação diferente e, isso, a federação não tem como controlar. Mas a federação consegue buscar uma parceria com o governo estadual, por exemplo.O processo eleitoral da FGF tem sido marcado por ações na Justiça e o acirramento de cada um dos lados. Por que isso vem ocorrendo?A nossa intenção nunca foi de judicializar, mas a federação não é transparente. É uma caixa preta. Tentando entender as finanças, foi pedido à federação uma série de documentos financeiros. O que a federação fez? Negou. Foi preciso acionar a Justiça. O prazo para apresentar estes documentos já venceu na segunda-feira. Eles não apresentaram, pois acho que eles não vão querer apresentar documentos que comprometam a gestão no meio de um processo eleitoral de disputa pela federação.O que você percebeu durante o contato com os clubes filiados à FGF?A atual gestão não conquista os clubes pela admiração do trabalho que ela faz. Ela conquista os clubes pelo medo. Os clubes têm medo do André (Pitta). Não sei o motivo. Um líder que não é admirado, mas sim, temido, não é um bom líder.Por trás da sua candidatura, há nomes que estão ligados à política tradicional, como o de Jovair Arantes, deputado federal e presidente do Conselho Deliberativo do Atlético. Como é essa relação?A nossa campanha não é partidária. A nossa campanha tem, além do Atlético, a Anapolina, o Rio Verde, o Clube Jaó. A nossa campanha é apartidária. Coincidentemente, o Jovair (Arantes) é um político e é também presidente do Conselho Deliberativo do Atlético. Mas esta não é uma campanha de um partido. Ela é uma campanha dos clubes.Como você imagina, se vencer a eleição, que vai ser sua relação com a CBF?A Federação Goiana de Futebol tem muito pouco espaço na CBF. O André (Pitta) tem um cargo de diretoria remunerado na CBF. Ele tem um salário, em torno de R$ 60 mil por mês, na CBF. Um bom salário. Como uma pessoa que é funcionária da CBF, diretor remunerado, vai brigar pelo direito do federado, da entidade dele, que é confederada lá? É um pouco conflitante.Como você pretende mudar o sistema de gerência da FGF?Quero preparar a federação pra que, daqui a quatro anos, ela tenha uma boa governança para que qualquer presidente, que for assumir a federação, consiga pegar uma estrutura que está funcionando. Hoje, a federação tem um dono, é uma entidade de dono. Queremos mudar isso.