A atitude do volante Fellipe Bastos, do Goiás, de registrar queixa de injúria racial é considerada como um importante passo, por especialistas, para que uma punição ocorra. Além disso, mostra que a indignação do atleta segue e pode servir de exemplo para que outros casos sejam denunciados.“(Fazer o registro) É um passo importante e necessário, mostra que indignação na beira do campo não é só de momento. É um jogador, alguém da sociedade que está exposto e não quer aceitar mais racismo e injúria racial. A atitude do Fellipe é importante. Entrar com processo, aí, sim, de fato vai ter um julgamento na Justiça. Pode ser punido, absolvido, mas vai responder”, analisou Marcelo Carvalho, fundador do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.Leia também+ Goiás diz que não vai tolerar racismo denunciado por jogador+ Fellipe Bastos disse que torcedor o chamou de "macaco" duas vezesPara Marcelo Carvalho, ir à delegacia é “essencial”, já que nem sempre os casos são relatados em súmula para serem julgados no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) sem a necessidade de uma denúncia feita na entidade. A acusação feita por Fellipe Bastos não foi relatada no documento da partida entre Goiás e Atlético-GO.Marcelo Carvalho reforça que punições no futebol brasileiro ocorrem, mas não de forma rígida. “Não dá para dizer que as punições não ocorrem, elas ocorrem. Mas não do jeito que a gente acha correto, punir de forma rígida e mais pesada. Aqueles casos que vão para o Tribunal, nem todos são punidos”, completou.Marcelo Carvalho entende que multas, que geralmente são as punições desportivas, não surtem efeito. Um caso foi o do Brusque, punido em 2021 com perda de pontos, multa e suspensão do presidente do Conselho Deliberativo, Júlio Antônio Petermann, que chamou o meia Celsinho, do ex-Londrina, de “macaco”.“O Brusque entrou com recurso, foi para o pleno do STJD. Ficou na multa e perda de um mando de campo. É um atraso. O mais complicado é que parece que não houve punição, fica a sensação de impunidade. Isso faz com que os racistas se sintam à vontade”, salientou Marcelo Carvalho.Lei estadual de 2021 prevê multa a clube, mesmo se torcedor não for identificadoO fato do torcedor acusado por Fellipe Bastos, do Goiás, não ter sido identificado não impede que ocorra uma punição. De acordo com a lei estadual nº 21.076, de 31 de agosto de 2021, o Atlético-GO pode ser punido com advertência e multa que varia de R$ 22 mil a R$ 33 mil, mesmo sem a identificação do autor.“A lei pode penalizar. Caso o torcedor autor não seja identificado, a minha lei prevê que o próprio clube pode responder pelo crime cometido pelo torcedor”, resume o deputado Karlos Cabral (PSB), que propôs a criação da lei.De acordo com a lei, a punição para o clube, em casos em que o autor não é identificado, pode ser advertência e multa, com valor que varia de 22 a 33 mil reais. Em caso de reincidência, a multa é de R$ 66 mil, e pode dobrar em caso de reincidência sucessiva. Sanções para os clubes são aplicadas por infrações cometidas por seus torcedores se houver comprovação da materialidade da conduta ou prova testemunhal, ou quando o infrator não for identificado.“É lamentável e revoltante situações como essa que o jogador Fellipe Bastos passou. Racismo é crime e tem que ser combatido de todas as formas. Por isso, essa lei é extremamente importante na luta pela valorização da vida e nas ações para coibir o preconceito e a desigualdade social que são enfrentados todos os dias pela população negra, principalmente nos estádios de futebol”, completou o deputado Karlos Cabral.