Pela terceira vez desde 2018, Jürgen Klopp está em uma final da Liga dos Campeões. Nesta terça-feira (3), o Liverpool comandado pelo técnico bateu o Villarreal, na Espanha, por 3 a 2, no jogo de volta das semifinais da competição. Na ida, em Anfield, os ingleses haviam vencido por 2 a 0.Não foi um caminho fácil, como podem sugerir os placares. No segundo jogo, a equipe espanhola sufocou o adversário no primeiro tempo, marcando com Dia e Coquelin. Na etapa final, porém, o goleiro Rulli falhou seguidamente e tomou três gols, de Fabinho, Luis Díaz e Mané.Chegar à decisão do torneio é algo a que Klopp já está acostumado. Além da final perdida em 2012/2013 com o Borussia Dortmund para o Bayern de Munique, o treinador alemão também perdeu, com o Liverpool, a partida decisiva da edição 2017/2018, diante do Real Madrid. A consagração viria na temporada seguinte, com triunfo sobre o Tottenham.Agora, ele busca seu bicampeonato à frente do clube inglês. E já amplia a presença alemã no confronto decisivo da principal competição europeia.No próximo dia 28, no Stade de France, em Paris, a Liga dos Campeões assistirá à sua quinta final consecutiva com ao menos um técnico nascido na Alemanha brigando pelo título.A sequência, que começou justamente com Klopp em 2018 e 2019, viu Hansi Flick e Thomas Tuchel, comandantes de Bayern e Paris Saint-Germain, respectivamente, decidirem o torneio na temporada 2019/2020, em Lisboa. Flick, que hoje treina a seleção alemã, levou a melhor.Tuchel seguiu o roteiro de Klopp e primeiro viu o sabor amargo do vice-campeonato para depois ser campeão.Derrotado com o PSG, venceu a final posterior, com o Chelsea, superando o Manchester City treinado por aquele que é uma de suas maiores referências, Pep Guardiola.Discutir a influência alemã para o jogo que se pratica hoje na elite é falar em futebol vertical e citar a pressão constante que as equipes treinadas por esses técnicos fazem sobre seus adversários. Mais do que sufocar a saída de bola rival, seus times buscam a recuperação quase instantânea da posse após perdê-la, o chamado gegenpressing.Roubar a bola enquanto a outra equipe está se armando para o ataque é uma forma de pegar suas defesas desprevenidas e, com poucos passes, chegar ao gol."Imagine o número de passes necessários para deixar o camisa 10 na posição certa, de onde ele pode dar a assistência. O gegenpressing permite que o time recupere a bola mais perto do gol, a apenas um passe de uma grande chance de marcar. Nenhum meia criativo no mundo supera uma boa situação de gegenpressing. Por isso o conceito é tão importante", defende Klopp.Guardiola, que nesta quarta (4) tentará a classificação à final europeia –seu City, que venceu na Inglaterra por 4 a 3, enfrentará o Real Madrid em Madri–, sua segunda consecutiva, também bebeu da fonte alemã durante sua passagem pelo Bayern, entre 2013 e 2016. Adepto da troca de passes e da circulação da bola, incorporou um jogo mais direto ao seu repertório em sua passagem pela Baviera.Se a influência dos técnicos alemães sobre o que ocorre no campo é evidente, a contribuição fora dele talvez seja menos reconhecida, mas não é menos importante.Jürgen Klopp se tornou o modelo para uma geração de treinadores que, em outros tempos, teria de conviver com a desconfiança por não terem sido grandes jogadores de futebol.Medíocre como zagueiro, Klopp abriu o caminho para outros profissionais que tiveram carreiras apenas modestas dentro das quatro linhas e, com estudo e atualização permanente, têm provado a tese do italiano Arrigo Sacchi: "Não sabia que para ser jóquei era necessário ter sido um cavalo".Tuchel se aposentou aos 25 anos de idade, por problemas nos joelhos, depois de atuar em clubes da terceira e da segunda divisão alemã. Hansi Flick defendeu o Bayern na década de 1980, mas longe de figurar no time ideal da história do clube bávaro (nem no segundo, nem no terceiro). Julian Nagelsmann, campeão alemão com o Bayern e semifinalista da Champions com o RB Leipzig em 2020, também teve sua carreira abreviada por lesões e, com 28 anos, já era treinador."Nomes como Tuchel e Nageslmann perceberam que suas limitadas habilidades práticas não eram necessariamente um obstáculo . Os clubes também se sentiram encorajados a ignorar a experiência prévia futebolística prévia", afirma Raphael Honigstein, autor de livros sobre o futebol alemão.A Champions League e as principais ligas europeias formam uma grande reunião de estilos e influências, que se misturam e acabam reinterpretados por seus protagonistas. Mas não parece haver muita dúvida de que seja a Alemanha quem, hoje, puxe essa fila.