Apresentado como coordenador técnico do Goiás nesta quinta-feira (24), Paulo Autuori, de 65 anos, afirmou que vai blindar o técnico Bruno Pivetti, indicado por ele ao alviverde, no desenvolvimento do trabalho no clube, além de treinadores de outras categorias. Autuori procurou ressaltar a escolha do treinador, que disse ter sido certa, e que a saída dele do Athletico-PR, no início de fevereiro, teve a ver com a "ideia de que tudo tem que acabar em cima do treinador".O profissional quer desenvolver um projeto sistêmico, ou que inclui várias áreas, entre elas as categorias de base, e oferecer ao clube um time competitivo, equilibrado, com contratações específicas e bem escolhidas para "resgatar a pujança desportiva do Goiás". Autuori, que foi um treinador vencedor e de currículo extenso, tem atuado como gestor nos últimos anos.Leia também: Bruno Pivetti fala sobre desconfiança em sua chegada ao Goiás"A ideia é a unidade do futebol do clube. O futebol do Goiás tem uma identidade e por isso temos que respeitar essa identidade", disse. Ao dizer como pretende fazer isso, falou sobre processos. "Fica mais claro que futebol exige procedimentos, práticas, criação de comportamentos para uma equipe entrar em campo sabendo o que irá fazer, que adversário irá enfrentar. A grande estrela será o processo e todos nós estaremos preocupados em salvaguardá-lo todos os dias."Autuori disse que espera "ano de estabilidade para sair da estabilidade para um crescimento que certamente acontecerá"A partir desta quinta-feira (24), Autuori assume uma função que não existiu no Goiás em 2021. Em uma longa entrevista coletiva virtual, falou sobre força mental para competir, equilíbrio, estabilidade, elogiou o técnico que indicou para o projeto, Bruno Pivetti, e falou sobre antropologia e que é estéril a discussão sobre escolas de treinadores ou qual país forma os melhores técnicos.Confira os principais trechos da entrevista:PROJETO NO GOIÁSO que me fez aceitar foi a seriedade colocada desde o momento que o Garlei falou comigo. Não podemos confundir o que é uma equipe de futebol com o que é o clube. É impossivel ter gestão com continuidade, algo fundamental, se a gestão do clube não proporciona isso. O trabalho de todos nós é resgatar a pujança desportiva do Goiás, que é o mesmo que me parece estar em prática na gestão do clube. Com orgulho, vou participar desse projeto. É um termo que ficou vulgarizado, mas que, com pessoas sérias, não precisamos utilizar esse termo, precisamos praticá-lo.COMO FAZERÉ com a implementação de processos. É impossível falar em seriedade quando você não tem claro o que deseja. Para comandar um clube de futebol e, por isso parabenizo o Paulo Rogério Pinheiro (presidente do Goiás), é preciso convicção e coragem para tomar medidas que não são populares, fogos de artificio que brilham e e desaparacem rapidamente.O que queremos no futebol do clube, com participação em relação a todas as categorias, vamos deixar de o jogador que o Paulo falar, o presidente falar, o Harlei falar, o Bruno, não... Terá que passar por análise clara e objetiva em relação ao que desejamos para o futebol do clube, não só nos aspectos tático, estratégico, físico, mas principalmente no mental, que tem a ver com o que nós somos. Somos competidores. Se não formos fortes mentalmente para competir, estaremos negligenciando o que é determinante no futebol, que é a força mental, para suportar a cada três dias estar sendo julgado.Minha saída do último clube (Athletico-PR) tem a ver com essa ideia de que tudo tem que acabar em cima do treinador. Vou fazer com que o treinador esteja completamente preocupado com o que tem a ver com a sua alçada. Não tenho dúvida de que escolhemos o profissional certo (Bruno Pivetti) porque tem conhecimento, conteúdo que tem a ver com a ideia que se quer do jogo e, nas sessões de treino, aplicar situações que criem comportamentos.O segundo ponto é gestão de pessoas. A terceira é a capacidade de não criar problemas. Já trabalhei com profissionais que querem uma coisa de manhã, outra à tarde e outra à noite. O Bruno Pivetti é um facilitador do trabalho. Estarei a blindar não só ele, mas todos os treinadores das diversas categorias.CONTRATAÇÕESO futebol brasileiro passou por momentos muito difíceis, me desculpe o termo, mas uma certa mediocridade em relação a algumas ideias. Por exemplo, a equipe que melhor contratou é a que contratou 14, 15 jogadores. Se precisa contratar 14, 15, é porque não fez nada no ano anterior. A segunda é contratar por contratar, apenas pelo nome do jogador, a capacidade no aspecto técnico. Falei o que se precisa no futebol. As equipes estão sendo julgadas a cada três dias nesse calendário ridículo que é o do futebol brasileiro. Estou aqui não para julgar resultados, mas analisar trabalho. É preciso dar condição de ter um ciclo para, ao fim, ter uma análise concreta sobre debilidades, fortalezas e virtudes de um trabalho.No meu tempo, se escolhia treinador com quero um de diálogo, um de linha dura. Hoje, fala-se quero um que tenha aspecto ofensivo. Tem que ter as três vertentes que falei. Vou ser rigorosíssimo nisso.Currículo tem a sua importante, mas acredito nacapacidade da pessoa (...) e que saiba trabalhar no contexto. É o homem e o contexto.O que queremos é convivção e colocar em prática no dia a dia. Aqui vai o recado para os nossos companheiros empresários de que não vamos trazer somente pelo nome do jogador. Qualquer indicação vai passar por um processo claro, efetivo e simples de análise.Se acontecer um erro, não vai ter uma pessoa para personificar o erro, vai ser o erro do sistema. E se o erro é do sistema, temos que pensar em melhorar o sistema.TÉCNICOS ESTRANGEIROS. QUAL É A MELHOR ESCOLA DE TÉCNICOS?Esta é uma conversa que está aí na mídia, mas pra mim é estéril, não leva a absolutamente nada. Importante é a capacidade, independente da nacionalidade. Eu trabalhei em muitos países e seria hipocrisia da minha parte ser contra profissionais estrangeiros no futebol brasileiro. Importante é a capacidade. Muitos vieram e não conseguiram aportar, estabilidade. Tem a ver com competência ou não.Estamos tranquilos em relação a essa situação. Sou um homem que acredito em desenvolvimento de jogadores, formação. O Goiás quer ter olhar delicado para suas categorias de formação. Olhar com carinho para a base.O calendário brasileiro não permite que se trabalhe. Chega a ser covarde o que se faz com treinador.Não podemos deixar de pensar que o futebol brasileiro sempre terá treiandores bons, capacitados, que falam português também.POR QUE O BRUNO PIVETTI É MELHOR QUE OUTROS QUE FORAM COGITADOS?Você sabe o que é melhor? Eu digo que o melhor está sempre por vir, por isso que ainda tenho brilho nos olhos para estar no futebol. Eu não tenho dúvida alguma, tenho certeza. Tenho convicção naquilo que eu pretendo desenvolver junto com o presidente, Harlei e, por isso, não tive dúvida nenhuma em poder oportunizar ao Bruno uma oportunidade como essa. Sei das qualidades que tem. Esse lance que você disse que é melhor que o fulano, sicrano, não existe. Existe a capacidade de cada um. É um tipo de confronto que não traz nada de positivo ao futebol brasileiro. O que traz é convicção, são ideias. O Goiás oferece infraestrutura extraordinária, está a caminhar para uma estrutura organizacional de altíssimo nível. Sair desses clichês que tomam conta, tendo coragem para fazer coisas novas, apostar em situações novas. Todos têm sua importância, todos devem se sentir úteis e participativos. Vamos criar harmonia dia a dia. Antes de bater no treinador, vai bater em mim. O equilíbrio é tudo na vida. Euforias não me dizem absolutamente nada, e momentos depressivos também não.Estamos entre o sim e o não, entre alegrias e trsitezas, bem e mal, vitórias e derrotas. Trabalhar para estar equilibrado entre essas coisas. O futebol exige isso porque futebol é vida. Falei antropologia aqui, o homem e contexto. Muitos têm a idea de que o futebol fica à margem.