O planejamento para 2022 será desde o início. O que muda?Conversei com minha família e me falaram do desejo de ficar (no Atlético). Cheguei em situação emergencial por pouco mais de 25 dias. Não priorizei a parte financeira nem o contrato. Tinha uma missão de gratidão ao clube, que era me juntar aos profissionais que estavam aqui para deixar o Atlético na Série A. Nunca foi dinheiro. Foi paixão e gratidão ao Atlético. Tinha um sonho de deixar o Atlético na Série A. Sonhamos com Libertadores, quero continuidade e vou planejar um trabalho desde o início aqui. É diferente planejar desde o início. Minimizar erros é difícil quando se pega o clube pela metade.Em uma semana o Atlético acabou com risco de queda e quase foi à Libertadores. Que semana, hein?Futebol é máquina de triturar ser humano, de triturar profissional. Se a gente perdesse para o Bahia, iria para Chapecó na zona de rebaixamento. Falo que, do ostracismo ao sucesso no futebol, é uma ponte aérea. É uma mão, polegar para cima e outra para baixo. Em uma semana, mudamos a história do clube. Aquele gol do Janderson (contra o Bahia) foi em uma segunda-feira (29 de novembro), nove da noite. Na outra segunda-feira (6), dez da noite, estávamos brigando por Libertadores. Tem que ter resiliência para sobreviver no futebol porque, em uma semana, a história pode mudar.Qual mensagem o Atlético passou ao brigar pela Libertadores?O Atlético adquiriu respeito nacional e internacional, é uma marca internacional. Trabalhei em grandes clubes do Brasil, como o Vasco, e todo mundo no eixo Rio-São Paulo olha para o Atlético com respeito de um clube que não deve nada a ninguém, que tem uma estrutura fantástica, estádio próprio e organizado. É um clube com solidez financeira e administrativa. O que falta agora é o que aconteceu recentemente com o Athletico-PR, que jogou a Sul-Americana e brigou pelo título, jogar uma Libertadores e fazer boa campanha para expandir a marca. Esse ano ficamos muito tempo na primeira página da classificação. Num futuro próximo, vamos brigar por vaga direta à Libertadores, como aconteceu esse ano com o Fortaleza, que há quatro, cinco anos estava na Série C.Sabe o peso histórico que a atual campanha e a de 2020 possuem na história do Atlético?Como a vida inteira será falado do título de 2016, essa campanha também será. Quero muito, daqui 15, 20 anos, vir com meu neto Bernardo, minha neta Isabella e outros netos para mostrar os painéis (com imagens de celebrações e momentos do Atlético) e contar a história do avô deles dentro desse clube. Será um sonho que vou realizar. Já levei esse clube para a Sul-Americana. Temos que pensar um degrau acima agora, mas sem esquecer o passado. Não esqueço de onde eu vim, de onde comecei e como cheguei aqui em 2016. Tenho uma história linda nesse clube, que vou levar para sempre no meu coração.Para 2022, o torcedor pode esperar outra campanha de Série A entre os dez primeiros?Sim, até melhor. Vamos aprender com erros e dificuldades. Futebol não é máquina exata, não é assertivo o tempo inteiro. Temos acertos, dificuldades, erros e vamos amadurecer dentro da própria competição. Cada vez vamos minimizar os erros. O terceiro ano da Série A tem uma melhora de orçamento, de visão do mercado. Isso tudo nos leva à convicção de que, a cada ano, a temporada será melhor. Foi o que aconteceu esse ano, batemos os números de 2020 e a tendência é que o Atlético melhore (em 2022). A gente está mais experiente e quer longevidade dentro da Série A. O Atlético demorou anos para se solidificar. Hoje, é consolidado em termos de estádio e CT, questão orçamentária. Tudo tem melhorado dentro do clube.Como foi a experiência de realizar um sonho e treinar um grande do Rio, o Vasco?Foi muito importante para mim e minha família. Tinha oito anos que eu não morava no Rio de Janeiro. Tenho mãe, tios, sogros lá. Foi uma oportunidade de estar perto deles. Passei parte da pandemia em Maceió (estava no CRB). O Vasco me deu a oportunidade de realizar o sonho profissional de dirigir um grande da minha cidade. Sou carioca do bairro da Penha, joguei no Vasco e dirigi o gigante que é o Vasco. Infelizmente o projeto não deu certo. Fiquei triste, mas não me arrependo.Você não espera a saída?Talvez eu tenha saído do Vasco no meu melhor momento na Série B, quando estava com quatro jogos de invencibilidade, em 6º, a dois pontos do G4. Não esperava a minha saída, foi uma pressão grande de fora para dentro. Tenho a convicção de que, se eu continuasse no Vasco, teria conseguido o resultado que eu esperava, que era o acesso. Foi legal estar perto de família e amigos. Vou trabalhar bastante para um dia voltar para um clube como o Vasco.Pressão de familiar que é torcedor é grande?Não conheço uma vascaína maior que a Eduarda (filha de Marcelo Cabo). Eu a vi chorar no rebaixamento do Vasco, o penúltimo (em 2015), e até me assustei. Um dia falei para ela que realizaria o nosso sonho de treinar o Vasco. Infelizmente, não deu o resultado que eu esperava, mas ela se orgulhou.O que te surpreendeu na demissão?Faltou paciência. Não tivemos férias, não tivemos 30 dias para planejar a temporada, só peguei um clube que vinha de um rebaixamento e planejar essa temporada foi difícil. Não fujo de desafio, mas gostaria de ter pegado o Vasco como vai ser agora, com 30 dias para sentar, conversar, analisar. Troquei o pneu com o carro andando. Foi difícil replanejar, começamos o Carioca com sub-20, começamos a reformular saídas e chegadas de jogadores com o campeonato em andamento. Eu sabia disso, aceitei, mas a falta de paciência de fora para dentro do Vasco foi grande.Pegar projetos em andamento não é um desafio maior?Nem tudo na vida é como planejamos, mas temos que estar preparados para tudo. Quando vim no ano passado, o projeto era deixar o Atlético na Série A. Deixei na Sul-Americana, mas vivo por desafios. O Vasco foi um desafio pra mim, cheguei lá com a convicção de que, em 27 de novembro, estaríamos na Série A. Não deu certo, mas foi importante e cinco meses de aprendizado. O importante é que o fim da temporada foi feliz, em um lugar que amo e com resultados expressivos. Sul-Americana garantida, invencibilidade. Nem nos maiores sonhos, imaginei que seria assim.Não pensou em voltar a trabalhar só ano que vem?Eu estava de férias com a família (quando Atlético procurou o treinador). Um amigo bem chegado me disse que eu botaria tudo para perder se o Atlético tivesse caído, colocaria uma marca negativa na minha história dentro do clube. Respondi que, pelo Atlético, eu coloco tudo a perder, mas que teria que buscar o êxito.No Goiás o resultado final também seria o mesmo se você não tivesse saído?Com certeza, eu tinha muita convicção. Foram 19 rodadas no Goiás, 17 no G4. Eu deixei o time no G4.A demissão te surpreendeu?Muito, fui pego de surpresa. Fiquei dez jogos invicto, estávamos no G4, com bons resultados. Aprendi no futebol que a gente não concorda com a decisão, mas é obrigado a respeitar. Claro que não vou dizer que concordei com a decisão, mas respeito a hierarquia, a instituição e o torcedor do Goiás.Assistiu ao jogo do acesso do Goiás?Vi, assisto tudo, assisto futebol. Construí amigos lá dentro. Tenho bom ambiente. Costumo dizer que entro por uma porta e saio pela mesma. As pessoas que trabalham ali dentro mereciam esse acesso. Colaborei da melhor forma possível, todos podem ter certeza que eu dei o meu melhor. Fui honesto no meu trabalho, me dediquei e tenho certeza que deixei o meu melhor na campanha. Me sinto parte do acesso.O gol do Janderson contra o Bahia foi um dos que você mais celebrou?Dois gols me marcaram muito na minha vida. O momento mais expressivo da minha carreira em gols até então tinha sido com o Boquita, pelo CSA, em 2018. No meu primeiro Estadual no CSA, estávamos sendo eliminados pelo Asa no (estádio) Rei Pelé. No último lance do jogo, o Boquita acertou o ângulo, a gente eliminou o Asa para ir à final e ser campeão. Comparo o gol do Janderson com esse gol. Foram os mais importantes da minha carreira. Passei mal no banco, no do Janderson foi igual. Tenho esses dois lances como memoráveis na minha carreira. O gol do Janderson, para mim, no Atlético, foi o mais importante.A limitação de troca de técnico poderia ser melhor aproveitada não fosse o tanto de “comum acordo” (Marcelo Cabo foi demitido quando deixou o Vasco e o Goiás)?Não acredito em acordo. Chegaram a divulgar (depois da saída do Goiás) que o Atlético seria meu terceiro clube no ano depois de dois acordos. Estão mal informados. Eu fui demitido do Vasco, fui demitido do Goiás. Não acredito em acordo, acredito em demitir ou pedido de demissão. É convicção minha, mas gostaria de fortalecer os direitos de treinador. Se o clube me mandar embora, tem que arcar com o ônus, assim como eu se tiver multa.