A profissionalização da arbitragem e padronização de decisões dos árbitros são caminhos apontados por clubes e especialistas para a evolução do apito no futebol brasileiro. Mais uma rodada do Brasileirão foi concluída com discussões sobre erros e acertos na Série A, em especial nos jogos entre Corinthians x Goiás e Inter x Botafogo.A profissionalização da arbitragem é discutida há anos, mas ganha evidência depois de cobranças feitas após reclamações de erros durante os jogos.Leia também:+ Técnico do Goiás dispara contra arbitragem após derrota para o Corinthians: "erro grotesco"+ Em jogo com arbitragem polêmica, Botafogo vence Inter de virada“Entrei na arbitragem em 1990. O problema da profissionalização é que só é discutida quando tem erro, quando tem polêmica. Quando ocorre o erro, desenterra sobre a profissionalização. Ele (o árbitro) é profissional, tem trabalho remunerado, mas não tem dedicação exclusiva. Ser árbitro no Brasil é ter uma segunda atividade, tratado como bico ainda”, analisou o ex-árbitro Sálvio Spíndola, que atua como comentarista de arbitragem no Grupo Globo.Os principais lances polêmicos da 12ª rodada do Brasileirão foram casos de pênaltis. Na Neo Química Arena, o Goiás reclamou da marcação de penalidade para o Corinthians e da não marcação de outra a favor da equipe goiana.O mesmo ocorreu no duelo no Beira-Rio. O Botafogo não concordou com um pênalti a favor do time gaúcho e expulsão do zagueiro Philipe Sampaio, enquanto o Inter cobrou uma possível penalidade não marcada a favor do colorado.“Quem vai pagar a conta (da profissionalização)? A Federação não tem como pagar a conta da previdência para que os árbitros se aposentem no final da carreira, por exemplo. Os atletas vivem para o futebol, o árbitro no Brasil tem como trabalho paralelo. É fato que, quando há um erro, ocorre a queda na qualidade da arbitragem”, falou o presidente da Comissão Estadual de Arbitragem, Júlio Cesar Motta.Para os clubes goianos na Série A e o presidente da Federação Goiana de Futebol (FGF), a padronização dos critérios é um assunto urgente que precisa ser solucionado.Em uma rede social, o presidente do Goiás, Paulo Rogério Pinheiro, publicou uma foto com lances do pênalti marcado para o Corinthians, contra o Goiás, quando a bola toca no braço do defensor esmeraldino após toque na barriga, e de uma possível penalidade não sinalizada na partida entre Inter x Corinthians, na 6ª rodada, na qual o toque no braço do corintiano ocorre após a bola desviar em um parte do seu corpo.“Tem que adotar a padronização de critérios. Precisam ser iguais para todos os jogos. Não pode um lance ser pênalti e outro não marcado. Os erros acontecem, tem jogos muito difíceis e, às vezes, até as equipes dificultam o trabalho da arbitragem. Mas tem erros que acontecem e outros mais graves que prejudicam o jogo e uma equipe”, disse o presidente da FGF, André Pitta.Para todos os ouvidos pela reportagem, o nível da arbitragem brasileira é bom, mas tem sido colocado em xeque por causa da sequência de erros e lances duvidosos nas partidas.“Acho que o ápice foi o Brasil não ter árbitro de vídeo na Copa do Mundo deste ano. Cada árbitro interpreta as regras de sua forma. Cada vez que se troca o comando da arbitragem brasileira muda-se a interpretação das regras. Num futebol tão caro quanto o nosso, não cabe a profissionalização dos árbitros? Por que o comando de arbitragem tem de ser ex-árbitro, ainda mais ligado a uma Federação (Paulista de Futebol) tão atuante na CBF?”, reclamou o presidente do Goiás, Paulo Rogério Pinheiro, referindo-se a Wilson Seneme.“A única saída para a arbitragem é profissionalizar, viver disso, se preparar 24 horas. Falta organização, tem de ter meritocracia. Errou? Vai para o fim da fila. Acho que o VAR também não está ajudando. Ontem (domingo), foi positivo para nós, mas já fui prejudicado contra o Atlético-MG, na falta no lance do gol contra o Flamengo, o gol anulado do Jorginho contra o Corinthians. O VAR é pressionado pelos times maiores”, completou o presidente do Atlético-GO, Adson Batista.Goiás quer formalizar reclamaçãoO Goiás pretende formalizar reclamação formal junto à Comissão de Arbitragem da CBF nesta semana após discordar das decisões do árbitro Braulio da Silva Machado/SC (Fifa), que apitou a derrota esmeraldina contra o Corinthians na 13ª rodada da Série A.“Iremos à CBF nesta semana. Faremos uma representação, iremos pedir o áudio das duas penalidades (marcada e não marcada) e fazer uma cobrança incisiva contra o comando da arbitragem e os árbitros da partida”, avisou o presidente do Goiás, Paulo Rogério Pinheiro.Se isso ocorrer, será o primeiro contato de um dirigente do Goiás com o ex-árbitro Wilson Seneme, que assumiu a presidência da Comissão de Árbitros da CBF, em abril. “Ele veio para melhorar algo que já era péssimo e conseguiu piorar tudo. Não aparece para dizer nada. Veio da Federação Paulista e isto é preocupante. Sempre digo que o que não funciona precisa ser trocado. Em uma entrevista que deu logo após a posse, achei interessante a posição dele em deixar o ‘jogo correr’, mas virou um festival de faltas não marcadas e esqueceu de combater o antijogo dos clubes que estão com o resultado a seu favor”, opinou Paulo Rogério.Como a gestão de Wilson Seneme ainda está no início, o presidente do Atlético-GO, Adson Batista, acredita que o tempo e mudanças práticas poderão ajudar a evolução da arbitragem no País.“Fiz uma visita a ele (Wilson Seneme), converso com ele e é um cara sério. Os problemas, porém, vêm de muito tempo. Falta profissionalizar. Hoje, temos cinco a oito árbitros de bom nível no Brasil. É um começo de gestão, mas os problemas são antigos”, frisou Adson Batista, que vê os erros tirando a seriedade do futebol brasileiro. “Quando se tem erro demais, tira o brilho de uma vitória, traz derrotas que não são merecidas”, disse o dirigente.-Imagem (1.2476058)