A vida do zagueiro Artur Cassiano, do Vila Nova, quase acabou, aos 18 anos, após um disparo de arma de fogo. O jogador, hoje com 19 anos, que atua no time Sub-20 do Tigre, mas possui contrato profissional válido até o final de 2022, ficou cego do olho direito no ano passado depois de ser vítima de uma bala perdida quando retornava de viagem com os pais. Apegado à fé e focado na recuperação, o jovem defensor se adaptou ao novo modo de enxergar a vida e jogar futebol, e voltou às atividades esportivas sem abrir mão da busca pela realização do sonho de seguir como jogador.À época do acidente, Cassiano, como o zagueiro é conhecido, estava emprestado pelo Vila Nova para o Corinthians. O defensor integrava o time Sub-17 da equipe paulistana e viajava de São Paulo para Goiânia durante a pausa do Carnaval, antes da pandemia da Covid-19 ter sido decretada. Por volta das 21 horas do dia 20 de fevereiro de 2020, na altura da cidade de Pirajuba, em Minas Gerais, a 98,5 km de distância de Uberaba, uma viatura da Polícia Militar trocou tiros com bandidos que fugiam de moto após um roubo.“Os bandidos passaram por nós uma, duas vezes, na terceira começaram a trocar tiros com a Polícia. Nós estávamos no raio de ação dos tiros. Um, infelizmente, acertou o carro e foi na direção do meu olho. No momento, meu pai deu ré no carro, porque depois do tiro que me acertou ainda tiveram uns cinco ou seis tiros. Eu achei que ia morrer dentro do carro”, lembrou o zagueiro vilanovense, que não possui a visão do olho direito.Cassiano relatou que sentiu muita dor, ficou angustiado no momento e achou que seu nariz também tinha sido atingido tamanha era a dor na região da face. Ele lembra de ter visto muito sangue nas mãos e de ter falado para o pai (Cleiton) correr para o hospital que uma bala o tinha atingido. A família - a mãe Karina também estava presente - se dirigiu para um hospital em Pirajuba, mas ele precisou ser transferido para Uberaba em uma UTI móvel. Lá, passou por cirurgia de quase quatro horas de duração e teve o olho reconstruído.“A bala está alojada atrás do olho, lembro que um médico (depois de ver um raio-x) me disse que eu era um milagre vivo. Comentou que pacientes que são vítimas de tiros na cabeça, costumam morrer ou ficam em estado vegetativo”, contou Cassiano, que sempre foi apegado à fé e entende que teve uma segunda oportunidade para viver e buscar seus sonhos.Ele, porém, reconhece que desistir do futebol foi algo que passou por sua cabeça durante o período da recuperação, que coincidiu com a paralisação das atividades esportivas por causa da pandemia da Covid-19.“Eu tinha esperança de voltar a enxergar, mas o tiro atingiu bem o olho, infelizmente não foi possível (voltar a enxergar). Isso não me impediu de focar na minha carreira. Eu fiquei oito meses parado, mas treinei com um personal para me adaptar à nova rotina. Era algo novo, eu fiz exercícios que me mantiveram em nível alto de atuação”, salientou Cassiano, que explicou que em campo não possui nenhuma dificuldade para atuar.O último jogo do zagueiro antes do acidente havia sido pelo time Sub-17 do Corinthians, em setembro de 2019. Depois do acidente e por causa da pandemia, ficou parado em boa parte de 2020 e voltou aos treinos no 2º semestre do ano passado. Com o fim do contrato de empréstimo com o time paulista, retornou para o Vila Nova no início deste ano e disputou a primeira partida, depois do grave episódio, no dia 23 de agosto, contra o Goiânia, na disputa do Campeonato Goiano Sub-20.Ele foi um dos destaques do Vila Nova no Estadual e, segundo o treinador, Kássio Fernando é um zagueiro muito técnico. O defensor foi titular em 14 dos 17 jogos do Vila Nova na competição, que terminou com o Tigre como vice-campeão. Com Cassiano em campo, o time colorado não sofreu gols em sete partidas e o jogador só recebeu uma punição de cartão amarelo, no Estadual inteiro.“O começo do ano foi bastante difícil porque não é uma história que tem a todo momento, mas a comissão (técnica do Vila Nova) confiou no meu trabalho, me apoiou e me deu oportunidade. Eu consegui fazer um excelente campeonato”, frisou o jogador.Zagueiro trocou a Serrinha pelo OBAGoianiense, Cassiano sempre foi apaixonado por futebol. Desde pequeno praticava o esporte em escolinhas da modalidade e seu primeiro contato com a categoria de base ocorreu no Goiás. No clube esmeraldino, o zagueiro atuou do Sub-12 até chegar no Sub-15, quando se transferiu para o Vila Nova.“Quando cheguei no Sub-17 (em 2019) surgiu a oportunidade de ir para o Corinthians. Foi uma experiência única, mas não pude atuar durante todo o contrato de empréstimo por causa do meu acidente. Depois de um ano e meio voltei para o Vila, com quem tenho contrato (profissional) até o final do ano que vem”, detalhou o zagueiro vilanovense, que assinou o vínculo em 2019, antes de ter sido emprestado para o clube paulistano.“Eu sou muito grato a Deus e ao Vila. Minha história acabou ficando marcada por muita luta e vontade, hoje sou uma pessoa completamente mais forte. Ganhei uma nova chance, foi bastante difícil, mas nunca abri mão de correr atrás do meu sonho”, completou Cassiano, que apesar de ter contrato profissional com o Vila Nova ainda não estreou na equipe principal do Tigre.A carreira do zagueiro, até aqui, possui jogos apenas em competições da base. O desejo, no entanto, é de manter o foco e evoluir como jogador de futebol para que seus objetivos sejam conquistados.“Tenho o objetivo de chegar no profissional, jogar uma Série A, e almejo também chegar na Europa, jogar campeonatos grandes e ser inspiração para as pessoas”, comentou Cassiano, que tem o zagueiro Thiago Silva como principal inspiração em sua posição. “Gosto muito dele, tem muita qualidade, tanto com a bola nos pés e tanto na marcação. É um dos melhores da atualidade e um dos melhores da história”, explicou o zagueiro vilanovense.