O café é despejado na xícara e logo vem a tradicional pergunta: açúcar ou adoçante? Para muita gente, em especial para quem busca um estilo de vida mais saudável, fazer essa escolha é sempre um momento de dúvidas. No caso da radiologista Letícia Daher, de 35 anos, a resposta é bem simples: nenhum dos dois. “Aprendi a gostar do café puro. Após me tornar mãe, comecei a me preocupar em ter uma alimentação mais saudável para servir de exemplo para meus filhos”, conta. A família tenta consumir cada vez menos produtos industrializados.Nutricionista esportiva e comportamental da Clínica Summa, Debora Sena explica que realmente o ideal é consumir os alimentos ao natural. Mas é preciso treinar o paladar para isso e o adoçante pode ser um caminho, e não a solução final, para quem quer diminuir o consumo de açúcar. “O que muitas pessoas não sabem é que o açúcar já está presente nos alimentos. Quando adicionamos ele, estamos aumentando essa quantidade”, explica.A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a ingestão de açúcar não ultrapasse 10% das calorias diárias da dieta. Obesidade, diabetes, hipertensão e problemas cardiovasculares são algumas das consequências do consumo excessivo do produto. Para muita gente, utilizar o adoçante, que pode ter origem sintética ou natural, é uma maneira de fugir desses problemas. Mas os especialistas explicam que, apesar de terem a mesma função, açúcar e adoçante são produtos distintos e não podem ser comparados.Enquanto o açúcar é um carboidrato simples, composto por glicose e frutose, sendo responsável pelo fornecimento de energia, os adoçantes são feitos com substâncias não-calóricas e têm maior poder de adoçar, produzidos a partir de fontes naturais ou artificiais. Eles têm poder adoçante de 100 a 500 vezes maior do que o açúcar e, por isso, devem ser utilizados em menor quantidade com bastante moderação.“Adoçante, em sua maioria, são produtos extraídos de substâncias químicas, como, por exemplo, a sacarina que é derivada do petróleo. Muitos causam danos à saúde. Sacarina, por exemplo, pode levar a danos celulares e genéticos, toxicidade hepática. Já o ciclamato tem relação direta com aumento da pressão arterial. A sucralose inibe a absorção de iodo prejudicando a função tireoidiana”, enumera a nutricionista. O assunto é polêmico porque, apesar da má fama dos adoçantes, não há estudos conclusivos sobre os malefícios do produto em humanos.A nutricionista Nany Sado explica que as pessoas estão muito acostumadas ao sabor doce ou salgado. “Não existem apenas esses sabores. O paladar deveria saber reconhecer o gosto amargo, ácido e uma diversidade de outros. Porque é aqui que nasce a dificuldade que muita gente tem de comer um vegetal ou uma leguminosa. Tudo precisa ser ou muito doce ou muito salgado. O excesso de açúcar e adoçante não faz bem à saúde e ao paladar”, destaca.Para a nutricionista - com exceção de algumas patologias como o diabetes - a escolha mais saudável ainda é o açúcar. “Em pequenas quantidades porque é mais natural, mais saudável e quando você escolhe um bom produto, ele ainda tem vitaminas e minerais”, ensina. Dentre os diferentes tipos de açúcar, os que possuem menor processamento são sempre mais indicados para uma alimentação saudável, como o mascavo e o demerara. Os mais refinados, como o cristal, o refinado e o de confeiteiro, são os menos indicados, pois passam por processamentos químicos em sua elaboração.Sabor natural De acordo com a nutricionista clínica e esportiva Maíra Azevedo, a maneira mais eficiente de reduzir o consumo de açúcar e adoçante é reeducando o paladar. “É preciso entender que cada alimento tem seu sabor característico. No caso do café, é amargo. Se você não consegue tomar café sem açúcar, você não gosta da bebida. Você gosta do açúcar”, explica. Reduzir o açúcar de adição e ler atentamente os rótulos dos produtos industrializados são fundamentais neste processo de reeducação.Entre adoçante e açúcar, a profissional orienta que a escolha vai depender muito do tipo de produto escolhido e a quantidade. No caso dos adoçantes artificiais, há uma série de problemas que vão desde a alteração da microbiota intestinal, o que pode levar ao ganho de peso e ao risco de diabetes tipo 2, a problemas de pressão. Já o açúcar, independente do tipo, vai elevar a glicemia e aumentar a produção de insulina. “A única diferença entre os vários tipos de açúcar no mercado é que alguns vão ter vitaminas e minerais, o que é irrelevante porque existem vários outros alimentos que terão muito mais nutrientes do que o açúcar. Nenhum tipo de açúcar é saudável, mas ele só vai ser vilão em situações onde o consumo é exagerado”, explica.A doce vidaConheça alguns dos principais tipo de açúcares e adoçantes disponíveis no mercadoAçúcar Refinado: é o mais conhecido entre os açúcares. Durante o processo de refinamento, algumas vitaminas e sais minerais acabam sendo perdidos.Mascavo: é o açúcar em forma bruta, extraído depois do cozimento do caldo de cana. Como não passa por refinamento, são preservados o cálcio, o ferro e os sais minerais.Demerara: tem um pouco mais de minerais do que o refinado, por passar por menos processos. Ele é um açúcar de grãos maiores, crocantes e amarronzados.Orgânico: não são utilizados ingredientes artificiais em sua composição. Assim como o mascavo, não passa pelo mesmo processo de refinação que o açúcar cristal e refinado, por isso também é mais escuro, mas mantém mais vitaminas.Adoçante Estévia: extraído de uma planta conhecida como Stevia rebaudiana, é natural e possui sabor 300 vezes mais doce que o açúcar. Algumas pessoas reclamam por possuir forte sabor amargo residual.Sacarina: é um dos principais e mais antigos adoçantes utilizados. Como possui sódio, não é recomendado para hipertensos e grávidas. Tem poder adoçante 300 vezes maior que o açúcar.Xilitol: Tem sabor semelhante ao do açúcar comum. Não é encontrado puro e, normalmente, é usado na composição de adoçante para atenuar o gosto amargo de outros edulcorantes. Doses acima de 30 g/dia podem causar diarreia.Aspartame: É obtido da mistura do ácido aspártico e fenilalanina. Alvo de grande polêmica, o consumo excessivo está ligado a uma série de problemas, que vão de vômitos e tontura a mal de Alzheimer, convulsões e câncer. No Brasil, o uso está liberado como adoçante de uso geral, mas não deve ser utilizado para alimentos que necessitem ser assados. -Imagem (Image_1.2395041)