Em programa especial pela morte da cantora Marília Mendonça, o Fantástico, da Rede Globo, apresentou na noite deste domingo (7/11) trechos inéditos de uma entrevista feita com goiana, realizada no mês de outubro, quando ela celebrava a superturnê As Patroas, com as amigas Maiara e Maraisa. Em uma conversa descontraída, A Rainha da Sofrência disse à repórter Giuliana Girardi que o ato de fazer música com uma visão feminina aconteceu de forma natural. “A gente fazia sem saber que tinha essa força toda”. Também falou sobre maturidade, desafios e a maternidade. Confira abaixo alguns trechos:Visão feminina"A gente fazia música com visão feminina. ‘Marília, o que você usa pra compor... você canta sofrência, né? Só que ninguém percebeu que as histórias de Marília Mendonça sempre terminam com final feliz pra ela’. Mesmo cara sendo infiel comigo, eu mandei ele embora e agora eu quero ver você se lascar aí, tá vendo aí o que você fez?"Relembrou composições “‘Cuida bem dela, ela gosta que reparem no sorriso dela’. Que homem maravilhoso, detalhista, perfeito, lindo. Chegar no atual e falar: ‘olha, cuida bem da minha ex’. Foi o que chocou o mercado naquela época e hoje eu consigo visualizar a grandeza disso. E veio depois ‘calma, a sua insegurança não te leva a nada, eu quero ser seu homem e te fazer amada, amar, amar você até você se amar e me amar, calma’. Mais uma visão de mulher por trás e um homem cantando, cenário ideal de tudo que as mulheres estavam esperando, entendeu?” Jeito que pensa da vida"Na verdade, é o jeito que eu gostaria que fossem os finais. Pode não ter acontecido daquele jeito comigo, mas eu posso inventar o final que eu quiser na minha música."“Eu sou muito romântica, e não no sentido homem e mulher. Eu floreio demais muito as coisas da vida. Às vezes aquela situação não ‘tá’ trazendo nada e eu ‘tô’ inventando: olha, isso representa… e nem tá! Eu sempre coloco representação em tudo.”Tabus"A gente quebrou tabus das mulheres falarem que elas bebiam, de elas falarem que elas traíam, de muitas coisas. E como é que é vista a mulher que fala: eu tenho dinheiro e eu trabalho para ganhar o dinheiro. Parece estranho, me soa estranho eu falando isso pro espelho. Porque era nisso que a gente abaixava a cabeça para tantas coisas."Processos da vida“Muitas vezes a gente usou muito brilho. As meninas com um salto muito alto, uma maquiagem exagerada, um cabelo tampando o rosto, alguma coisa assim. E isso refletia muito a questão da insegurança: ‘Eu vou estar o máximo espalhafatosa aqui para que as pessoas não vejam aqui dentro’. Quando eu vi o salto rosa, eu nem usava salto na época, talvez ele não me representasse... Usava salto baixo, mas eu comecei a usar uns maiorezinhos, eu fico uns 10 minutos e depois tiro, mas eu uso, só para fazer um charme”.Maternidade“Dei oportunidade para o meu filho me conhecer. Quando eu voltei para a estrada, ele ‘tava’ com três meses e eu fiz dois shows e veio a pandemia. Fiz dois shows meio chorosa, assim… me sentindo culpada, meio que girou uma chave e eu sentia culpa de tudo, né? De estar indo viajar, de trabalhar. Foi muito difícil esse processo, para eu entender que eu preciso ser feliz e que tudo bem e que ele precisa ter uma mãe feliz. Deixo ele com segurança, com a avó é ‘tá’ tudo bem fazer o que você gosta de fazer.” “Eu consegui viver com ele, ele vai fazer 2 anos agora em dezembro e eu consegui participar de cada processo e hoje ele já fala ‘mamãe’, sabe quem é a mamãe, é apaixonado pela mamãe. Eu tinha muito medo disso. É engraçado que eu brincava com a minha mãe: ‘mãe, se eu chegar aqui em casa um dia e o Léo 'tiver' te chamando de mãe… Você ensina esse negócio direito para ele e ela ficava morrendo de rir, ‘não, vai ser a vovó’. Deu tudo certo, gente, eu sou a mamãe.”Pandemia“Acho muito estranho quando gente chega e fala: nossa, veja as oportunidades que esse momento trouxe. Não é sobre isso, sabe? A gente perdeu pessoas queridas. A gente sabe tudo que aconteceu. A gente hoje agradece a Deus mesmo sabendo tudo que aconteceu. Toda essa gratidão que a gente representa aqui é para falar: senhor, muito obrigada por minha família estar com saúde e hoje a gente vai valorizar mais os processos porque sabe que é um privilégio viver”.