Psicanalista e docente na PUC Goiás e na Universidade Federal de Goiás (UFG), a doutora Elizabeth Cristina Landi afirma que a pandemia da Covid-19 revelou o sentimento de impossibilidade de saber e controlar as variáveis da vida. De acordo com a especialista, a ansiedade se intensifica em tempos pandêmicos por privar as pessoas parcialmente de controlar o futuro próximo. Confira a entrevista. Diversas pesquisas revelam o crescimento da ansiedade entre os brasileiros na pandemia. Ao mesmo tempo, também aumentou o número de buscas na internet pelo termo. De que forma o isolamento social e a pandemia impulsionam os casos de ansiedade? A ansiedade é um modo de sofrimento muito recorrente na contemporaneidade e está ligado às urgências, à velocidade da vida, que nos convoca a um excesso de produtividade, que responda às exigências do capitalismo. Esse modo de produção da vida exige que cada um dê provas de sua potência, numa tentativa de retirar de cena a fragilidade humana. A pandemia nos colocou frente à impotência, ao desamparo e à impossibilidade de saber e controlar muitas variáveis da vida. A ansiedade que já nos atingia se intensificou por vários motivos, entre eles: por nos expor à ameaça da vida, por nos privar parcialmente de responder à exigência de produtividade, por nos manter fora do mínimo controle quanto ao futuro próximo e por nos separar de uma das fontes de alívio do mal estar, que é o convívio social.Do início da pandemia para agora, como as pessoas têm apresentado esses quadros ansiosos? As taxas de ansiedade realmente estão maiores entre as mulheres? A pandemia nos colocou diante de um vírus que já matou mais de 200 mil pessoas no Brasil, gerou importantes mudanças no cotidiano, incertezas e privações econômicas severas para muitas pessoas. Tudo isso produz aumento de ansiedade, quase inevitavelmente, tanto em mulheres quanto em homens. Entretanto, a sobrecarga mental das mulheres numa sociedade estruturalmente machista é maior. Em grande parte das famílias, as mulheres são as únicas responsáveis pelo trabalho doméstico, pela criação dos filhos, além de trabalharem fora de casa, o que inevitavelmente gera sobrecarga e consequentemente maior sofrimento psíquico. Com a falta de apoio das escolas e creches, na maioria das casas, sobrou para as mulheres esse trabalho a mais, que impacta severamente sua saúde mental. Importante ressaltar também o aumento de violência doméstica contra mulheres durante a pandemia, grave problema social que precisa urgentemente de ações mais incisivas por parte do poder público. Muito se fala sobre saúde mental em tempos pandêmicos. O consumo de remédios e de outras drogas, caso do álcool, também aumentou no período. Como buscar saídas para a melhora do quadro ansioso?Para além do alívio produzido por medicamentos, drogas, álcool, uma das mais importantes saídas para tratar o sofrimento psíquico é colocá-lo em palavras. Isso mesmo: falar sobre o seu próprio mal estar é uma saída importantíssima, pois ajuda a elaborar, simbolizar o que é vivido, possibilitando inclusive que cada um se localize frente ao que está provocando o sofrimento. O melhor é procurar ajuda especializada, falando com profissionais aptos a escutar de modo qualificado e a conduzir um tratamento para a ansiedade por meio da fala. Além disso, manter o contato possível com amigos e familiares também é fundamental para amenizar o sofrimento desse momento. Quando é necessário que uma pessoa com ansiedade procure tratamento?A ansiedade é um tipo de agitação, aflição, que pode produzir manifestações corporais, como taquicardia, falta de ar e sudorese, e que está acompanhada de uma preocupação constante com o futuro. A ansiedade produz a expectativa de algo que ameaça de modo impreciso, gerando sensação de impotência, mas também diz respeito ao desejo, à expectativa de alcançar alguma satisfação, face até positiva e empolgante da mesma. Por vezes a ansiedade produz insônia, falta ou excesso de apetite, abuso de álcool e drogas, podendo inclusive paralisar a pessoa. Nesses casos, é muito importante buscar tratamento pela fala, com psicanalista ou terapeuta, e, dependendo da avaliação profissional, tratamento psiquiátrico.