Não existe padrão ou fórmula certa. Cada peça é pensada com todas as suas singularidades. No início, o artesão Marcus Lisita, 67, imagina a obra na cabeça e, depois, busca a madeira ideal. Com ajuda da tecnologia, desenha no computador e leva o esboço para a marcenaria que construiu no sítio em que mora, em Hidrolândia, a 35 km de Goiânia. O resultado são caixinhas arrojadas para guardar penduricalhos, tábuas de cozinha, esculturas nos mais diversos formatos e adornos para decoração.SAIBA MAIS Artesanato: Conheça as histórias de quem vive da própria arteO minucioso processo de MarcusLisita faz parte dos mais variados trabalhos de artistas que celebram a tradição goiana. Espécie de cartão de visita, o artesanato movimenta uma cadeia econômica e cultural que envolve o turismo. Só em Goiás, que está entre os dez Estados no ranking nacional de venda de artesanato, são mais de 9 mil trabalhadores criativos cadastrados no Sistema de Cadastro do Artesanato Brasileiro.Expressos em madeira, pano e tecidos, palha, vidro e cerâmica, os artesãos acompanham a história e memória goiana por meio de diveferentes realizações artísticas e manuais. Os objetos finais são, por exemplo, vasos, pratos, mandalas, pinturas, esculturas em madeira e barro, móveis, tapetes, panos de prato e crochês.“Começou como uma espécie de hobby. Criava as caixinhas para minhas netas e, quando percebi, várias pessoas começaram a perguntar se eu não poderia fazer para vender”, explica Marcus Lisita, que comercializa seu artesanato há três anos. Artista autodidata, o goiano aprendeu sozinho a trabalhar com as ferramentas da marcenaria. Aposentado após trabalhar por anos como designer de livros para a gráfica da Universidade Federal de Goiás, encontrou na madeira uma forma de passar o tempo.Com inspirações que vão desde o filme Alice no País das Maravilhas (2010), de Tim Burton, até animais da fauna do Cerrado, o artesão cria na madeira objetos únicos que dão cara e cor a diversos ambientes. Em seu sítio, tudo serve de inspiração para o artista. “Tirar algo da cabeça e, depois, ver a ideia se transformar em algo de concreto, na madeira, parece ser um sonho que se torna realidade. Artesanato é isso”, acredita.É fruto da tradição e da perseverança que a artesã Maria Conceição de Pereira começou a fazer diversos adornos e vestimentas de tricô. Cega de nascença, a escuridão não a impossibilitou de trabalhar com o artesanato desde a infância, quando aprendeu a tricotar na escola em que estudava, em Goiânia. Desde 2000 que a goiana faz roupas de tricô, como blusas e gorros, para vender e expor em feiras especiais e complementar a renda dentro de casa.“Após tantos anos com a agulha e linha, já é natural para mim. Acredito que o artesanato é algo único, nenhuma peça será igual a outra porque colocamos nossas mãos cheias para trabalhar, com muito amor e dedicação”, explica Maria Conceição. Com apoio da tecnologia, em vídeos no YouTube e celular específico para acessibilidade visual, a artesã acompanha de perto as novidades do tricô, tudo com a escuta muito bem apurada. “A internet ajuda muito hoje em dia, posso ter acesso a tudo no celular, mas nem sempre foi assim. É necessário acolher de peito aberto às transformações”, afirma.GoianidadeCom tantos artesãos espalhados pelos bairros de Goiânia e pelas cidades do interior de Goiás, a pergunta que se faz é: existe um artesanato tipicamente goiano? Para a artista Leda Rita, 65, que pinta mandalas em diferentes estilos, é o próprio artesão que dá cara ao seu trabalho específico. “Acredito que os realizadores goianos trabalham com os materiais, modos de feitura e inspirações que têm em Goiás, mas o artesanato é algo mundial, uma arte realizada de forma muito manual, sem industrialização, que exprime cuidado, singularidade e cultura”, opina.As mandalas criadas pela artesã têm desenhos distintos feitos com tinta nanquim: de um lado santos oriundos da fé católica, como São Francisco de Assis, protetor dos animais; de outro, o universo místico dos chakras e suas energias espalhadas por pontos do corpo humano. “Vejo que muitas pessoas, principalmente os mais jovens, se apoiam em artigos mais industriais e desconhecem a arte do artesanato, que precisa ser preservada porque é tradição”, reitera a artista.-Imagem (Image_1.2422269)-Imagem (Image_1.2422270)