De sal e à moda, com linguiça e queijo. Tem a frita e a assada na hora, acompanhadas sempre de um cafezinho amargo. Há ainda a polêmica de doce, para os que preferem adoçar o paladar. Não restam dúvidas: a pamonha é uma das comidas mais famosas e benquistas da cozinha goiana. A partir de agora, a iguaria de milho verde passa a ser patrimônio cultural e imaterial goiano, em lei sancionada pelo governador Ronaldo Caiado (UB).Em termos gerais, a lei estabelece que a pamonha é um patrimônio a ser preservado pelo Estado em parceria com a sociedade. A proposta foi apresentada em abril de 2021 na Assembleia Legislativa pelo deputado estadual Coronel Adailton (Progressistas), que reitera a necessidade de preservação da pamonhada, prática comum das famílias goianas em se reunirem para preparar a iguaria.“A pamonhada é costume ainda vivo no interior e já raro nas cidades, é um dos momentos mais esperados do ano. É quando as famílias e amigos se reúnem para a colheita do milho e preparo da comida”, explica o deputado. Ainda de acordo com Adailton, o próprio ato de degustar a pamonha possui um importante significado social. “Reforça laços em comum e auxilia a preservar a memória coletiva transmitida de pai para filho”, reforça.O consumo de milho em Goiás tem origem indígena. Foi com a influência dos portugueses e africanos que as receitas foram aperfeiçoadas, mas até hoje não se sabe ao certo a origem da pamonha. A iguaria já foi tema, inclusive, para os famosos poemas de Cora Coralina, como no famoso Oração do Milho (leia um trecho nesta página).Em Goiânia, basta dar uma breve busca em sites de pesquisas e listas telefônicas que mostram mais de 80 pamonharias na cidade - isso sem contar a produção informal vendida nos famosos carros de som que exclamam “olha a pamonha!”. “Não há um dia sequer que a pamonha não acabe por aqui. É uma tradição que percorre todos os membros da família. Tem gente que já compra para todos, entre de sal, a moda e doce”, explica Maria José Ribeiro, cozinheira da Lojinha do Queijeiro, no Centro.Diariamente saem mais de 60 pamonhas do estabelecimento, além de outras iguarias feitas à base de milho, como o curau e a chica doida. Desde os anos 1980 fabricando pamonhas, a lojinha está inserida no roteiro gastronômico tradicional da região histórica de Goiânia. “Como estamos ao lado do Teatro Goiânia, muitas pessoas de fora vêm comer aqui, como artistas e produtores de outros Estados. É comum retornarem para degustar de todo o cardápio oferecido”, conta Maria.ChuvaÉ só chover e as temperaturas caírem um pouco em Goiás para a pamonha ganhar, mais uma vez, o protagonismo nas mesas dos goianos. Na Pamonharia Frutos da Terra, em épocas do ano como as de agora, em dezembro, a produção chega a dobrar. “A paixão dos goianos pela pamonha se sobressai nesses dias chuvosos. Quem deixar para a última hora corre o risco de ficar sem saborear esse prato delicioso, afinal, trata-se de um quitute artesanal e com produção local”, explica a proprietária Sarah Lobo Lima.No estabelecimento são servidos mais de dez sabores de pamonha, a exemplo da especial de frango com catupiry e a de queijo, pimenta, guariroba, frango e cheiro-verde. De acordo com Sarah, a receita que tem tomado conta do coração goiano é a pamonha goiana, que leva creme de pequi, linguiça de frango, pimenta e queijo. “A pamonha é querida porque traz memórias afetivas da convivência familiar, do tempero de vó, remetendo aos goianos várias lembranças gostosas.”-Imagem (1.2582351)