O feriado prolongado de Tiradentes foi marcado pelo retorno dos desfiles das escolas de samba na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, e no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo, em um ano dominado por enredos de temática africana, nostalgia e críticas ao governo federal. Mesmo fora de época, o blocos de carnaval arrastaram multidões nas capitais do Brasil.“É o Carnaval para celebrar a vida”, disse a apresentadora Sabrina Sato, 41, que fez uma maratona de desfiles. Rainha de bateria da Gaviões da Fiel na noite de sábado (23), em São Paulo, ela foi recebida pelos fãs aos gritos de “Sabrina, eu te amo!”, e respondeu que estava com saudades.Na mesma noite ela desfilou como rainha da bateria da Vila Isabel, no Rio de Janeiro. A apresentadora teve três horas para se deslocar entre as capitais e contou com um jatinho para conseguir chegar a tempo na festa carioca.Já no final da madrugada , na concentração para entrar na Marquês da Sapucaí, ela comemorava o sucesso de seu plano. “Eu me joguei, me entreguei e falei: ‘vai dar certo’. E deu, porque quando Deus quer e quando uma mãe quer, tudo dá certo.”“Acho que todo mundo torceu e quis ir junto, quando todo mundo tem uma energia boa junto as coisas funcionam. E foi assim. Eu nem estou acreditando. Ainda não caiu a minha ficha, eu nem estou acreditando”, completou ela.Questionada sobre de onde vem sua disposição, Sabrina disse que “vem do amor”. “O amor que eu sinto por essa avenida, o amor que eu sinto pela Sapucaí, pela minha Vila Isabel, pela Gaviões da Fiel, pelo Carnaval, pelas pessoas. É tipo amor de mãe. Eu não tinha como escolher uma ou outra.”Ela já completa 17 anos à frente da bateria da escola paulista e 12 com a carioca. “Acho que vai ser a única vez também que as duas escolas que eu amo vão cair na mesma noite”, afirmou.O samba-enredo da escola Gaviões da Fiel tem o humorista Marcelo Adnet, 40, entre seus compositores. A letra tem teor político, fala em fascismo, mazelas sociais e na “cega justiça que enxerga o negro como um réu”.JacaréCríticas ao governo federal unidas a referências religiosas deram o tom dos desfiles do Grupo Especial das escolas de samba paulistanas, no Anhembi, na zona norte da capital. Na última noite de folia, o sambódromo, que de sexta para sábado chegou a ficar com parte das arquibancadas vazia, lotou, chegando a travar o trânsito no entorno do local.As alegorias também surpreenderam por seus detalhes e enormes dimensões, em alguns casos com a altura ultrapassando a das arquibancadas. A critica mais explícita à gestão de Jair Bolsonaro foi feita pela sexta escola a entrar na avenida na segunda noite, a Rosas de Ouro.O último carro da agremiação mostrou um sósia de Bolsonaro que se “transformou” em um jacaré, referência a um pronunciamento feito por ele sobre a vacinação contra a Covid-19. Quando uma enfermeira aplicou uma injeção no “presidente”, um efeito de fumaça foi feito sobre ele, uma porta secreta girou e um jacaré apareceu.SapucaíO retorno das escolas à Sapucaí, após dois anos de pausa devido à pandemia da Covid-19, foi marcado pela nostalgia e homenagens. Na primeira noite, Imperatriz e Mangueira relembraram a própria história. Salgueiro e Beija-flor foram destaque com enredos sobre negritude e resistência.Na segunda noite de desfiles do Grupo Especial do Rio, neste sábado (23), houve atraso e mais problemas técnicos. A Paraíso do Tuiuti estourou o tempo, a Portela teve um carro com uma parte danificada e a Mocidade sofreu com um “buraco” entre as alas devido a uma falha técnica.Destaques da noite, a Grande Rio desmistificou o orixá Exu e a Vila Isabel fez um tributo a Martinho da Vila. A Unidos da Tijuca contou a lenda indígena do guaraná.BlocosNo Anhangabaú (região central de São Paulo), uma multidão de mais de 20 mil pessoas tomou conta da arena montada para receber o Festival do Baixo Augusta, que fechou a folia da abril na capital paulista neste domingo (24). Os foliões do bloco Acadêmicos do Baixo Augusta precisaram fazer um cadastro prévio, gratuito, além de apresentar comprovante de vacinação com ao menos duas doses.No Rio, nem as nuvens negras que começaram a aparecer no céu espantaram os foliões no último dia de Carnaval no centro da cidade maravilhosa. Uma mistura dos blocos Amores Líquidos e Amigos da Onça lotou a região entre a praça XV e a praça Mauá na tarde deste domingo. A persistência compensou: as nuvens se dispersaram e deram lugar ao pôr do sol.