A continuidade de projetos anuais, equipamentos públicos sem previsão de reabertura e a retomada e manutenção das leis de incentivo pautam a política cultural no primeiro semestre de 2021. Primeiro setor a sofrer paralisação por conta da pandemia, produtores culturais e artistas ainda não sabem quando irão retomar suas atividades presenciais. O caminho das adaptações on-line ainda deve persistir em projetos artísticos para os próximos meses.Com o contingenciamento da verba pública de diversas pastas para a área da Saúde, a Lei Municipal de Incentivo a Cultura, sob tutela da Secretaria Municipal de Cultura (Secult Goiânia), passou por um hiato em sua execução em 2020. A proposta é de que um novo edital seja aberto no primeiro semestre deste ano, de acordo com o secretário municipal de cultura Kleber Adorno, que se mantém na gestão da Prefeitura.“Queremos construir uma administração de continuidade com as ações que a secretaria já vem fazendo ao longo dos últimos anos. Vamos abrir o edital da lei e repensar os projetos em curso”, explica Adorno. A pasta municipal também tem em mãos desafios administrativos, como a ocupação da recém-inaugurada Casa de Vidro, no Jardim Goiás, e a manutenção de projetos ainda paralisados, caso do Festcine Goiânia e do Sons do Mercado.Em tempos de pandemia, o percalço da política cultural é adequar as novas realidades dos artistas e profissionais da cultura com a retomada da produção. De acordo com o produtor Rafael Blat, existem burocracias nas gestões, principalmente a estadual, que impedem o artista de se articular. “Em Goiás, segundo o Instituto Mauro Borges, são quase 250 mil trabalhadores criativos que dependem da arte e da criação para sua sobrevivência. Ampliar e melhorar o diálogo das pastas com os fazedores de arte seria um grande avanço para trazer mais inovação aos projetos de políticas públicas já existentes”, reflete o profissional.No caso da Secretaria do Estado da Cultura (Secult Goiás), a aplicação da Lei Aldir Blanc nos últimos meses de 2020 acabou desenvolvendo estudos e formatos de diálogo entre a capital e as cidades do interior goiano. Um mapeamento dos realizadores da cultura, desenvolvido para a execução da lei, apresenta as diretrizes e caminhos apontados no perfil do profissional goiano que trabalha com economia criativa. Com os pagamentos do auxílio emergencial e de projetos culturais, artistas tiveram acalanto no fim de 2020. A proposta é de que o Fundo de Arte e Cultura de Goiás (FAC) seja retomado, mas ainda não há data prevista para a publicação do edital.“Lançaremos edital do Fundo de Arte e Cultura neste ano de 2021. Quanto à Lei Goyazes, o Decreto Nº 9.369, de 27 de dezembro de 2018, do governo passado, a tornou inoperante”, explica o secretário de cultura, Adriano Baldy. De acordo com gestor, os principais desafios do ano são promover, com qualidade, os eventos do calendário anual do Estado, seja de forma presencial ou virtual. “Temos já confirmadas as edições do Fica, do Circuito das Cavalhadas e do Canto da Primavera”, destaca.GestãoAs duas perspectivas de gestão caminham paralelamente às transformações que a produção cultural tem passado ao longo dos últimos meses. De acordo com o produtor Marcelo Carneiro, é necessário a manutenção dos mecanismos públicos. “No Estado vivemos, desde o início deste governo, uma desconstrução contínua do que já tínhamos. Nosso maior desafio em 2021, para quem vive, se beneficia, consome ou necessita de cultura, será o de entender por completo que a inércia do governo estadual ainda prevalecerá”, opina.Já na gestão municipal, Carneiro enxerga as frentes de trabalho com um tom diferente. Segundo o profissional, percebe-se com maior clareza o esforço de dirigentes da cultura, bem como, do Conselho de Cultura, para dar continuidade em ações e leis existentes. “Creio que um dos maiores desafios no município neste ano será internamente, nos encaminhamentos da Secretaria de Cultura junto a de Finanças em manter ativo estes mecanismos, principalmente, no cumprimento total do orçamento instituído”, destaca Carneiro.Salvaguardar as artes visuais “A crise administrativa ameaça desmontar, desvirtuar e desviar equipamentos públicos destinados às artes visuais”, aponta a professora da Faculdade de Artes Visuais da UFG, Alice Fátima Martins. A profissional e outros artistas, curadores, críticos, arte-educadores, designers e profissionais das artes visuais se reuniram em um vídeo-protesto divulgado nas redes sociais que institui a criação do coletivo Frente de Defesa das Artes - Goiás. Participam artistas como Divino Sobral, Marcelo Solá, Saída Cunha, Carla de Abreu, Dalton Paula, Mateus Dutra e Ocum.A proposta do grupo é criar um diálogo e discutir a ocupação de espaços culturais destinados às artes visuais, a exemplo do Centro Cultural Octo Marques, que abriga Galeria Frei Nazareno Confaloni, Galeria Sebastião dos Reis, Escola de Artes Visuais da Secult Goiás e o Museu de Arte Contemporânea, instalado no Centro Cultural Oscar Niemeyer. Todas as informações da Frente podem ser acompanhadas no Instagram. “O objetivo do grupo é criar um programa híbrido de ações e de reivindicações”, explica o grupo em carta aberta. -Imagem (Image_1.2185961)-Imagem (Image_1.2185960)-Imagem (Image_1.2185962)