Uma história real apimentada com boas doses de ficção. É sobre uma paixão proibida, em que culpa e desejo caminham de mãos dadas. Assim a cantora goiana Day, ex-finalista do The Voice Brasil 2017, descreve o tom do primeiro livro da carreira, Esta não É Apenas Uma Carta de Amor, publicado pela Faro Editorial e que será lançado nesta quinta-feira (9). O romance, que já está em pré-venda na internet, foi escrito paralelamente à produção do disco de estreia da artista, Bem-Vindo ao Clube, disponibilizado nas plataformas digitais em julho de 2021.“É uma trama amorosa que segue uma linha de raciocínio de uma narrativa verdadeira, em que eu não podia me apaixonar porque vivia num contexto religioso; então, não tinha como ser quem eu era, uma menina que gosta de outra menina. Mas me envolvi e tive de ficar escondida e isso me amarra de certa forma porque quero viver livre e ela não quer”, adianta Day, em entrevista por telefone ao POPULAR. O livro traz contos e poesias que aprofundam no primeiro amor da cantora e fazem uma conexão com as canções lançadas do álbum.Uma das vozes mais representativas do LGBT dentro da música, Day explica que a melhor sinopse do livro é escutar o seu primeiro disco, em que ela pôde abordar nas composições a descoberta de sua sexualidade, atitude e aceitação. Os capítulos seguem a ordem do repertório do álbum. A abertura é com Prefácio, seguido por Clube dos Sonhos Frustrados, Fugitivos, Inevitável, Inconsequente, Dilúvio, Não Gosto de Mim, Isso não É Amor, Finais Mentem, Efeito Colateral, Não Me Encontre e encerra com Epílogo: A Maldição da Expectativa.O disco, completamente enraizado no pop-punk, de cara apresenta uma pegada pessimista em que traz uma Day nos vocais sem travas, narrativa e equilíbrio. O livro segue pelo mesmo caminho ao florear ainda mais o seu relacionamento amoroso. “Não é um conto apenas de tristeza, mas não é a coisa mais feliz do mundo. A sorte é que eu tenho uma grande facilidade de romantizar absolutamente tudo que faço, dando analogia e depois começo a colocar os pingos nos is e falar as coisas como elas são. É uma jornada”, complementa.Segundo a cantora, Esta não É Apenas Uma Carta de Amor não se trata apenas de uma história de amor entre duas mulheres e que não será possível fazer uma leitura rápida. “Às vezes, as pessoas vão pegar o livro achando que é um romance e que não passa disso, mas não é apenas isso. Vai muito além, são relatos de vivência com os quais muita gente vai se identificar. Mas será preciso tirar um tempo para ler porque não será fácil numa única sentada. Talvez seja necessário desligar o celular para ter esse momento”, pontua.IdeiaQuando começou a trabalhar no álbum e a escrever as músicas de Bem-Vindo ao Clube, Day sabia que o repertório não seria suficiente para contar tudo o que pretendia. A primeira ideia foi lançar um filme, mas o custo da produção inviabilizaria. O livro acabou sendo a melhor opção. “Na época, eu achei que as 12 faixas não seriam suficientes para o público entender o que esperava dizer porque ainda era apenas uma superfície de um oceano infinitamente mais profundo. Agora sinto que ficou com início, meio e fim”, pondera.A cantora encara a aventura literária também como uma forma de se conectar a um outro tipo de público no seu trabalho como cantora e compositora. “Sempre quero trazer outros públicos para a minha música e o livro acaba fazendo essa ligação. Acho que no futuro pode ser que eu faça mais algumas publicações, mas o meu objetivo é que as pessoas enxerguem como uma artista multitarefas e que me reconheça como artista. Quero que leiam a minha obra e que ao mesmo tempo sintam vontade de ouvir as minhas canções”, diz.Day também aproveita para adiantar que o lançamento do livro não significa que todos os seus próximos discos vão ter uma publicação literária como acompanhamento. “Escrever é uma coisa que demanda muito tempo e a pandemia acabou ajudando nisso. Nesse momento estou no processo de criação das minhas novas músicas para uma nova era do Bem-Vindo ao Clube. Também estou trabalhando em composições para outros artistas”, ressalta. Aliás, a goiana é uma das compositoras mais requisitadas do pop nacional nos últimos anos.Não Perco Meu Tempo, de Anitta, Complicado, do Vitão com Anitta, Coragem, gravada pelo grupo As Baías com participação da MC Rebecca, e Anaconda, Penhasco e Caos/Flor, de Luisa Sonza, são algumas das canções que estão fazendo sucesso nas plataformas digitais e que são de autoria da goiana. “Amo compor e tenho descoberto na composição uma das coisas que eu mais gosto de fazer. Quando escrevo para mim, me sinto livre, mas viajando dentro do meu universo. Compondo para outros, posso ir além”, afirma.FICHA TÉCNICALivro: Esta Não é Apenas Uma Carta de AmorAutora: DayEditora: Faro EditorialPreço: R$ 44,90De Goiânia para o The VoiceEm julho de 2017 Day deixou Goiânia, sua cidade natal, depois que se apaixonou por outra menina e mudou-se para São Bernardo do Campo (SP) para viver esse amor. No mesmo ano, surgiu a oportunidade para participar do The Voice Brasil. Direcionada pelo técnico Lulu Santos, ela foi uma das finalistas do programa. “Tinha zero experiência. O engraçado é que eu fazia de tudo para fugir do que mais queria na vida que era tocar num palco para todo o Brasil. Eu tinha medo dos julgamentos, mas enfrentei e a vida provou que tinha que estar ali mesmo para mostrar o meu trabalho”, lembra.Depois que saiu do programa, a roqueira goiana lançou um hit atrás do outro, como Dilúvio, Tanto Faz, Deixa Rolar e Clichê, sendo este último em parceria com Vitão. Em 2018, venceu a categoria de Melhor Cover do Prêmio Multishow e, no ano seguinte, integrou o time de apresentadoras do Rock in Rio da emissora. Em 2020, disponibilizou nas redes sociais o EP A Culpa É do Meu Signo. “Tudo que está acontecendo na minha vida faz parte de uma sementinha que eu plantei quando ainda morava em Goiânia. Espero poder levar a minha turnê para a minha cidade em breve”, comenta.Day, que namora a também cantora Carol Biazin, se assumiu para os pais em 2015, quando tinha 20 anos. Mas o caminho não foi tão fácil. Ela foi criada num ambiente religioso e por isso se sentiu culpada. “Minha mãe já sabia, e eu falava ‘vou vencer isso’. Eu era também aquela pessoa que ficava pregando na sala de aula. Teve um momento da minha adolescência que eu estava liderando jovens e falando que tinha vencido minhas tentações homossexuais. Eu estava mentindo, sabia que o buraco era muito mais embaixo, não tinha vencido nada. Foi um momento muito sombrio na minha vida”, conta.-Imagem (Image_1.2415802)