As palavras são como potentes armas para os artistas e produtores do coletivo Goiânia Clandestina, que desde 2017 realiza ações de literatura em Goiás. Munidos de projetos que reafirmam a força da poesia marginal goiana, os combatentes buscam criar mecanismos para descobrir talentos ainda escondidos e ventilar a produção independente. Para este semestre, por exemplo, o grupo aprovou o projeto Novos Escritos Clandestinos na Lei Aldir Blanc com diversos eventos de poesia, música e artes integradas. Publicação de livro e revista, curso para a formação de novos autores, performances, shows e feira de produtos de artistas goianos negros sao algumas das ações promovidas pelo coletivo até junho. As inscrições para a publicação de uma antologia com poetas transexuais estão abertas desde o dia 10 e seguem até abril. Já as inscrições ao curso de formação de novos poetas ficam abertas entre os dias 15 e 28 de fevereiro, todas pelo site goianiaclandestina.com.br.Dar voz, tinta e papel a artistas que não teriam outras oportunidades de apresentarem seus trabalhos é uma das premissas do Goiânia Clandestina. Ao longo do seu histórico, o grupo levantou as badeiras minoritárias, como a dos artistas negros e indígenas, e salientou a produção literária periférica e marginalizada. Também promove, por meio de ações pontuais, a força da autopublicação e da literatura independente goiana. “Promover esse trabalho é bastante simples, na verdade, porque são os lugares que estou sempre transitando, na vontade de independência, na comunidade periférica e negra, nos terreiros de candomblé e umbanda”, aponta o diretor do coletivo, o escritor Mazinho Souza. Criador do Goiânia Clandestina, o goiano é autor de livros como Cobra Criada (2019) e edita diversas publicações literárias. “Meu trabalho é apenas direcionar a materialização desse fazer diário, que é viver essas culturas”, expressa.Na programação do projeto Novos Escritos Clandestinos, Mazinho dá destaque à Escola de Escritores, já que pretende realizar uma formação continuada de escritores, slammers e compositores musicais. “Nós temos certeza que é por meio da educação, do incentivo à leitura e à escrita que conseguimos expandir de maneira significativa a poesia feita no Estado. Garantimos uma nova produção que não seja apoiada em uma literatura europeia ou acadêmica, mas aquela que comunica hoje com a realidade”, explica o diretor. TransversalidadeNos últimos anos, o Goiânia Clandestina acabou publicando diversos livros e coletâneas, a exemplo de Antologia Clandestina - Poesia Marginal Goiana (2017), Catupiry Apocalíptico (2020), de Bruno Brogio, e Antologia Clandestina II - Escritos de Goiás (2021). O selo literário também editou publicações de autores inéditos, como Tarsilla Couto de Brito com a obra Sentimentos Carimbados (2021) e Takaiúna, com Boca Aberta (2021), além da revista cultural Clandestina (2021). “O meu olhar para a cultura não é aquele que restringe somente à literatura ou outras artes, estou sempre buscando discutir a importância de acessar outros meios de produção para garantir uma melhor comunicação”, aponta Mazinho. De acordo com o escritor, é necessário promover uma transversalidade para que a cultura chegue em diversos nichos e grupos. “O coletivo me fez ter uma causa, isso me preenche. Hoje sei que quando acordo e quando vou dormir sou um ser político que está lutando pelo fim da ignorância por meio da cultura”, argumenta.