Estava tudo pronto para a inscrição na primeira edição do reality show musical que abriria o palco para candidatos com mais de 60 anos. Vídeo, fotos, release e ficha preenchida. O balde de água fria veio quando eles descobriram que o prazo tinha terminado. “Foi muito frustrante e fiquei com certa culpa. A promessa é que faria a inscrição logo no primeiro dia se houvesse uma próxima temporada”, explica a aposentada Meire Gomes, mulher do cantor, compositor, violonista, baterista e gaitista Chico Aafa, primeiro representante de Goiás no The Voice+, da TV Globo.O compromisso foi cumprido, a inscrição finalmente foi feita e Chico, de 67 anos, foi um dos candidatos selecionados para a segunda temporada do programa que estreou no domingo (30). Os cantores Fafá de Belém e Toni Garrido, além de Carlinhos Brown, que inaugurou sua cadeira nesta versão do reality, se uniram à Ludmilla como técnicos do programa. O apresentador André Marques é responsável pelo comando da atração e Thais Fersoza ficou responsável por mostrar os bastidores.Velho conhecido dos palcos de Goiânia, onde iniciou a carreira no final dos anos 1970, Chico Aafa conta que a inscrição no The Voice + foi realizada em setembro de 2021. No vídeo, ele cantou a música Setembro, composição própria em parceria com Felipe Valoz. Acostumado a participar de festivais, o cantor e compositor disse ao POPULAR que saiu de casa pensando em ganhar o prêmio. “A Meire me convenceu a entrar nessa disputa e acabei ficando bastante animado”, explica.No dia 18 de janeiro, o casal embarcou para o Rio de Janeiro para a gravação das audições às cegas do programa. Recheado de protocolos contra a Covid-19, a equipe da TV Globo parecia ter um cuidado a mais pelo fato de Chico Aafa ser deficiente visual. “Quando ouvi alguém da produção pedindo para andarmos devagar, expliquei que o que está estragado aqui são os olhos, mas minhas pernas continuam firmes”, brinca o artista, que tem um trabalho reconhecido em prol das pessoas com deficiência visual. Chico tem visão parcial, o que os especialistas chamam de baixa visão. Na prática, ele enxerga luzes e cores, mas não as formas.Tendo sofrido de catarata congênita em seu nascimento, possui apenas 2,5% da visão. Padrinho do Instituto de Cegos da Bahia, o cantor Carlinhos Brown fez questão de fazer a audiodescrição do palco no primeiro dia de audições após a apresentação do artista. Apesar de saber que parte do público pode se emocionar por sua história de vida, o artista acredita que é sua voz e talento que o levaram a ser escolhido para o time da cantora Ludmilla, a única a virar a cadeira durante a performance da música A Morte do Vaqueiro, de Luiz Gonzaga. As audições às cegas são um dos pontos mais difíceis da competição.“Fiquei impressionado por ter sido ela a me escolher. Porque é uma cantora jovem e essa música que cantei é bem desconhecida do público, quase inédita. Ela acabou dizendo uma coisa que me marcou muito. Ludmilla disse que a minha emoção tinha a emocionado. Fiquei muito feliz”, conta. Quando começou o primeiro acorde, ele sentiu que era hora de se entregar “À medida que a canção foi andando, eu fui me arrepiando. Então, é uma coisa inexplicável essa emoção”, conta.No domingo (6), Chico volta para o Rio de Janeiro para gravar nova participação na competição musical. Em Goiânia, a torcida por sua trajetória no programa é grande. “Trabalhei com Chico Aafa em vários eventos que fiz a produção. Sou amigo dele há décadas e temos uma canção em parceria. Como ele disse numa entrevista, essa participação no The Voice é um prêmio pelo conjunto da obra. Se bem que, na minha opinião, o grande prêmio recebido pelo Aafa, foi a participação no show e LP do Xangai, Elomar, Vital Farias e Geraldo Azevedo, nos anos 1980”, explica o cantor e compositor Carlos Brandão. Chico parte para uma nova etapa no programa contando com a torcida de todos os goianos.Com alma goiana Nascido em Teresina, no Piauí, Chico Aafa se considera nordestino de origem e goiano de coração desde 1964, quando a família se mudou para Goiás. O primeiro violão, ele ganhou ainda adolescente. “Busquei aprimorar os conhecimentos como estudante pelo sistema braille de leitura no IAC, e teoria musical no Instituto de Artes da UFG como ouvinte, pois naquela época não havia inclusão, com o apoio de dona Belkiss Spencière, a quem sou muito grato”, conta. Ele aprendeu a cantar ouvindo Secos e Molhados.Apaixonado pela sonoplastia das radionovelas e por trilhas sonoras, seu sonho é ter uma de suas canções embaladas em uma novela da Globo. O primeiro trabalho como artista - ele já lançou sete discos e um DVD - foi em 1978 no Monjolo, choperia na praça do Cruzeiro. “A partir de então peregrinei pelos festivais representando Goiás conquistando o primeiro lugar na maioria deles”, ressalta. Com o pseudônimo Chico de Assis, em 1980, lançou o primeiro disco. A partir do segundo, já como Francisco Aafa ou Chico Aafa passou a fazer parte do movimento da MPB goiana. Atualmente, ele divulga o CD Ser Tão Profundo.