Na terra do pequi, há quem ame e quem odeie. O sabor é marcante e característico, assim como o cheiro que invade até mesmo as casas dos vizinhos. Quem não gosta de roer, pode preferir as lascas. Para bom comedor, versão para consumir é o que não falta. Tem conserva, molho, pasta, licor e até pequi no sushi. Há alguns anos que o óleo, que pode ser extraído tanto da polpa quanto da castanha do pequi, tem sido foco de estudos pelos seus benefícios à saúde quando ingeridos. Já experimentou óleo de pequi?O produto é conhecido antigo da indústria de cosméticos, que utiliza o óleo em diversas formulações pelo alto poder de hidratação da pele e dos cabelos. Mas, quando ingerido, o óleo extraído do fruto também possui diversas ações benéficas à saúde por sua ação antioxidante e antiinflamatória. Isso porque o pequi é rico em carotenoides como o betacaroteno, importante antioxidante que combate os radicais livres. “Os radicais livres são gerados por um processo fisiológico no organismo. Mas, em excesso, podem ser prejudiciais à saúde por alterar as estruturas das células saudáveis”, explica a nutricionista Cecília Gebrim.SAIBA MAIS• Pra Fechar o Dia: Tem um jeito bom e saudável de comer pequi sem roer; ouça o podcast• Pudim de pequi e sorvete de cachaça são destaques de bar em Goiânia• Pequi sem espinho está perto de ir para a mesa do goiano• Pratos típicos ganham novas e surpreendentes versões com ingredientes goianos Os nutrientes do pequi são conservados após o processo de extração do óleo, como explica a nutricionista Janaína Macedo. “Boa parte das propriedades nutricionais do pequi vem justamente da sua gordura. A polpa é rica em vitamina E e vitamina A, que são vitaminas lipossolúveis, ou seja, possuem boa solubilidade em gordura”, aponta. As propriedades antioxidantes são potencializadas, ainda, com a presença da vitamina C no alimento. “Além disso, o pequi é rico em uma gordura boa, que chamamos de monoinsaturada, semelhante à do azeite, por exemplo, que age como proteção do nosso sistema cardiovascular e reduzindo os níveis da gordura ruim do organismo, o LDL”.Os antioxidantes presentes no óleo reduzem processos inflamatórios e, por isso, já vem sendo utilizado como aliado de atletas para diminuir dores nas articulações causadas pelo impacto das atividades físicas. A forma mais comum para esse fim é o óleo na versão em cápsulas. Mas atenção ao consumo exagerado, afinal, trata-se de uma fonte de gordura.“O óleo é um produto nutracêutico (suplemento nutricional) por ser um produto com propriedade funcional e curativa. Mas apesar de ser altamente rico em nutrientes, o pequi é muito calórico justamente pela gordura dele”, diz Janaína.O consumo exagerado tanto do fruto, quanto do óleo, pode ultrapassar o valor de consumo calórico diário de uma alimentação habitual. “Aproximadamente 100g de polpa de pequi chega a ter 200 calorias. Tem que comer com moderação, de preferência com orientação de um profissional para um consumo da porção ideal”, comenta. Com o óleo, é a mesma ideia. “Apesar de ser nutracêutico, é preciso orientação profissional para que haja o consumo ideal para que o óleo cumpra o seu efeito no nosso corpo. Quando consumido na quantidade ideal, só traz benefícios. Mas, tudo que é bom se consumido em excesso traz malefícios”, explica. Além do seu valor nutricional, entra na lista de benefícios de consumir o óleo do pequi o principal motivo de tantos goianos serem apaixonados pelo fruto: o sabor. “Pequi é bom de todo jeito. E a vantagem de usar o óleo dele para cozinhar é essa: tem o gosto do pequi”, comenta o comerciante Evandro Duarte, à frente da página de humor e do empório Enquanto Isso em Goiás. Com mais de 500 mil seguidores no Instagram e 1,2 milhão no Facebook, o perfil se tornou sucesso com a ajuda de um dos seus principais protagonistas: o pequi.Entre os frutos nativos do Cerrado, o pequi é, de longe, o mais utilizado nos preparos culinários. E como comedor oficial de pequi, Evandro diz que o óleo já está entre os produtos preferidos tanto na sua casa, quanto na dos clientes. “Ele pode ser usado no lugar do óleo de cozinha e é ótimo para a saúde como um todo. O mesmo óleo também pode ser passado no cabelo e na pele por causa das espinhas”, comenta.Pesquisas“Muitos estudos mostram que o consumo do óleo do pequi pode ajudar na prevenção de alguns tipos de câncer no futuro justamente pelo seu alto potencial antioxidante”, comenta a nutricionista Janaína Macedo. “Antigamente, tinha-se muito medo de consumir o pequi por ser um alimento calórico. Mas a culinária regional trouxe cada vez mais força para que as pesquisas sobre seus benefícios continuassem produzindo ciência dentro da nutrição”, diz. O pequi é rico em carotenóides, derivado da vitamina A e poderoso antioxidante. Na cartilha de prevenção ao câncer de mama do Instituto Nacional de Câncer (INCA), a ingestão de alimentos ricos em carotenóides está entre os principais aliados da população. Segundo dados do instituto, cerca de 13% dos casos da doença em 2020 no Brasil poderiam ser evitados pela redução de fatores de risco relacionados ao estilo de vida, incluindo a alimentação. O câncer de mama é uma doença com alta incidência e com alta taxa de óbito em Goiás, no Brasil e no mundo. O óleo do pequi é objeto de estudos também pela sua ação direta no tratamento desse tipo de câncer e também do melanoma (o câncer de pele) via nanotecnologia. Os estudos recentes estão sendo realizados pela Universidade de Brasília (UnB), com coordenação de Graziella Anselmo Joanitti.Em Goiás, uma pesquisa de Elainy Botelho, engenheira agrônoma e responsável por coordenar o banco de germoplasma de pequi da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater), está em fase de lançamento. Trata-se de três variedades de pequi sem espinhos e três de pequi com espinhos que foram encontrados depois de 15 anos, segundo a especialista. “Esse material está agora no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para ser registrado”, comenta.Para a produção do óleo, a novidade é uma boa notícia. “O fato de não ter espinhos facilita o processo de extração da castanha e do óleo, que é obtido a partir da castanha e da polpa. Antes, tudo tinha de ser feito manualmente e os espinhos se misturavam com os produtos”, diz a especialista. “A castanha do pequi é bastante saborosa e pode ser consumida como consumimos a castanha de caju. Todo esse processo de industrialização fica mais fácil com as cultivares de pequi sem espinhos”, explica.-Imagem (Image_1.2420763)-Imagem (Image_1.2420762)