Ao longo do mês de maio, o projeto PsiQUÊ? discute questões relacionadas à saúde mental no trabalho, como as mudanças impostas pela pandemia e a Síndrome de Burnout, classificada como doença do trabalho pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2022. Esses impactos, no entanto, podem não ter raízes no ambiente profissional. Ou seja: um trabalhador adoecido psiquicamente é, antes de tudo, um indivíduo adoecido psiquicamente. “Essa divisão da saúde mental no trabalho e na vida pessoal ficou ainda mais difícil na pandemia. Não tem como separar”, diz a psicanalista e professora Kátia Barbosa Macêdo. Priorizar o próprio bem-estar, descanso e lazer deve acontecer independentemente do trabalho — e apesar dele. “Uma pessoa que está bem e saudável é mais produtiva e se autorealiza”, explica a terapeuta ocupacional Eugênia Sofal.Três experiências traumáticas entre 2008 e 2010 fizeram o consultor Vinicius Kitahara repensar a maneira como enxergava o trabalho. “Foram situações muito próximas da morte, em três anos seguidos. Em 2008, meu pai foi diagnosticado com um câncer no pescoço; em 2009, minha mãe passou um mês na UTI até descobrir que ela tem lúpus, uma doença que não tem cura; e em 2010, eu quase morri em um assalto”, conta. Tanto Kitahara quanto os pais estão bem. “Mas esses eventos me trouxeram um questionamento: e se eu tivesse morrido ou perdido alguém importante?” Ao refletir sobre o lugar da felicidade em face ao “ganhar dinheiro” ele percebeu algo. “Todo mundo pensa que a felicidade é importante e tem como meta de vida. Mas me dei conta que eu sempre deixava para depois, e as pessoas também”, diz. Ao pesquisar sobre o assunto, ele descobriu que existe uma ciência por trás da felicidade, estudada em grandes universidades “Harvard, Stanford, Yale, Berkeley… todas têm cursos de felicidade. Me apaixonei pelo assunto”, conta. Mais do que aplicar em sua vida pessoal, Kitahara incorporou a ciência na sua vida profissional ao desenvolver uma consultoria de felicidade corporativa.“E a chegada da Covid-19 foi um divisor de águas. A procura por programas de felicidade no trabalho explodiu. O cuidar das pessoas se tornou uma prioridade, o que antes era visto nas empresas como um extra”, analisa.