O bombardeio à cidade de Guernica durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). O período antropofágico do movimento modernista no Brasil (1928-1929). O acidente radiológico com césio 137, em 1987, em Goiânia. Todos esses importantes acontecimentos históricos têm algo em comum: não ficaram apenas nos livros e foram retratados também nas artes plásticas. Pablo Picasso, Tarsila do Amaral e Siron Franco, respectivamente, não deixaram que esses momentos citados passassem em branco, assim como uma série de pintores estão produzindo obras sobre a pandemia do novo coronavírus.“A arte é essencial para o ser humano porque ela tem a capacidade de transcender, de fazer sonhar e de refazer o mundo. É uma arma poderosa que consegue recriar novos valores e principalmente para não deixar o que passou ser esquecido. Infelizmente, nesses últimos anos, em especial no Brasil, vivemos uma série de ações que transformaram os cientistas em ‘parasitas’ e os artistas em ‘seres desnecessários’”, observa o curador Marcus Lontra. Registrar o tempo sempre foi objeto de inspiração nos diversos segmentos artísticos, seja na música, na literatura, no teatro, na dança e no cinema. Da crítica política e social à esperança de cura, artistas goianos não deixaram de lançar o seu olhar para o momento que o mundo passa. É o caso de Waldomiro de Deus, um dos nomes mais importantes da arte naïf no País e presente em vários museus. Ele desenvolveu em um mês uma série de obras em que aposta na ciência para descobrir uma vacina. “Não tenho dúvidas que a tecnologia e a fé das pessoas são fundamentais nesse período que estamos vivendo. Acredito que essa doença vai ser vencida brevemente porque tem muita gente de mãos dadas contra esse inimigo e tudo vai voltar ao normal”, conta.Não é de agora que o artista pinta os principais acontecimentos pelo mundo. Desde os anos 1980, ele faz da sua arte um registro. O ataque terrorista às torres gêmeas nos EUA em 2001, o devastador tsunami no Japão em 2011, e a vida das pessoas em Cuba ganharam sua visão. Assim como as tragédias da boate Kiss, em Santa Maria (RS), em 2013, a chacina numa fazenda perto de Doverlândia, onde sete pessoas foram mortas, em 2012, e a de Brumadinho, em 2019. Temas políticos como a ditadura militar e o mensalão também já foram tratados. “O momento faz parte da minha obra”, comenta.Visão políticaUma crítica política foi o recado na produção do artista plástico G. Fogaça, reconhecido pela temática urbana. O goiano vem fazendo uma série sobre o atual momento político do Brasil, que ele define como “irracional”. Em uma das obras, o alvo foi o posicionamento “equivocado do presidente Jair Bolsonaro sobre a pandemia”, indo na contramão das recomendações das entidades de saúde. Na imagem, o político aparece de máscara em “ironia” ao que ele realmente pensa sobre a doença e no centro uma representação da arte rupestre, em alusão ao comportamento que ele considera como “pré-histórico”.“Quem decreta e decide no País se manifesta de forma equivocada. Creio que após essa crise mundial, surgirá uma nova ordem social, com mudanças profundas. O confinamento nos trará solidariedade e uma maior crença na ciência e nos fatos. A gente vive uma situação dramática cheia de conflitos sociais e políticos e não tem como deixar de se expressar numa hora tão importante”, afirma Fogaça, que teve mostras nos Estados Unidos, Espanha e em Portugal canceladas por conta da pandemia do coronavírus. “Depois que isso passar vou repensar todo o meu calendário”, complementa. -Imagem (Image_1.2028823)-Imagem (Image_1.2028824)