No processo de reeducação alimentar na casa da estudante de nutrição Sarah Beatriz Silva, de 18 anos, as frutas, legumes e vegetais foram inseridos pouco a pouco e hoje fazem parte da rotina diária dos membros da família. Uma das estratégias usadas por ela para conservar as frutas por mais tempo é armazenar porções congeladas. “Certo dia estava com muita vontade de comer banana, mas só tinha congelada. Dei uma mordida assim mesmo e amei, parecia um sorvete. Como a uva é minha fruta favorita, resolvi experimentar congelada e vi que fica incrível”, conta. “Agora, toda vez que compro uma caixa de uvas já congelo a metade para comer das duas formas”, diz.Para os dias mais quentes, consumir a uva congelada é uma estratégia que pode ser usada para garantir a ingestão de frutas e, de quebra, matar a vontade de comer algo doce e amenizar o calor. “Gosto sempre de deixar um pouco de uva congelada em casa, lembra um picolé”, comenta a nutricionista Michelle Jota. E quando o assunto é benefícios à saúde, a uva é uma grande referência. Além de saborosa, é rica em nutrientes, vitaminas e antioxidantes, como o resveratrol.O consumo de frutas junto às hortaliças e verduras deve estar entre as prioridades da rotina alimentar. “Esses grupos são as nossas principais fontes de vitaminas e minerais, os quais participam de todas as reações metabólicas do nosso corpo. Também nos oferecem água e fibras e, com isso, vamos ter mais energia, melhora no intestino, no controle da ansiedade e na qualidade do sono”, comenta. “A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu evidências convincentes indicando que a ingestão de 400g/dia de frutas (equivalente a 5 porções dia) está associada a incidência reduzida de doenças. E a uva é uma excelente opção de fruta para o nosso corpo”, aponta.Os efeitos positivos na saúde estão relacionados principalmente ao seu efeito antioxidante. “O que a torna interessante para combater o envelhecimento precoce, além de ser cardioprotetora e anti-inflamatória”, explica a nutricionista. Os antioxidantes mais presentes na fruta são os polifenóis, sendo o mais famoso deles o resveratrol. A quantidade da substância é indicada pela coloração da casca: a uva roxa possui maior concentração de resveratrol do que a uva verde.DerivadosNa hora de consumir, o mais indicado é a fruta in natura. Há evidências de altos níveis de resveratrol também no suco integral, mas é preciso atenção na hora de fazer escolhas dos derivados da uva no mercado. “Fruta é sempre melhor do que suco por preservar mais os nutrientes. Ao escolher sucos e geleias, deve-se sempre ficar atento a lista de ingredientes: quanto menos ingredientes tiver, mais natural é aquele produto”, explica. Outra dica é ficar atento ao primeiro ingrediente da lista. “O açúcar deve ser evitado ou ser um dos últimos ingredientes, enquanto que a fruta deve estar como primeiro ingrediente”, diz.A famosa (e polêmica) uva passa também precisa de atenção. “Ela passou por um processo de desidratação e, com isso, seu teor de açúcar ficou mais elevado. Portanto, deve ser consumida com moderação”, explica. No entanto, a uva passa tem suas vantagens. “É uma excelente opção para adoçar receitas em substituição ao açúcar ou mesmo para consumir ao longo do dia para matar a vontade de doce. O que não dá para fazer é consumir uma ‘mãozada’ de uva passas. Uma colher de sopa dela ao dia já é o suficiente”, indica.Vinho e Covid-19Entre os produtos derivados da uva, o vinho está entre os queridinhos. O interesse pela bebida ganhou força entre os brasileiros e teve recorde de consumo durante a pandemia, segundo levantamento feito pela Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), que aponta crescimento de 18,4% em 2020. Em relação à saúde, há muito já se associa o consumo de vinho tinto à prevenção de doenças do coração. Nos últimos dois anos, alguns estudos vêm sendo feitos em relação às substâncias presentes no vinho e a possível redução do risco de infecção pelo SARS-Cov-2.Entre os mais recentes, está um estudo realizado no Hospital Shenzhen Kangning, na China, que aponta o consumo de vinho como protetor contra a Covid-19 e de cerveja como um fator de risco. A alta frequência do consumo de destilados e cidra também foi apontada como fator de risco. Foi divulgado que quem ingere regularmente vinho tinto (cerca de cinco doses por semana) têm 17% menos probabilidade de contrair o vírus, número que cai para 8% quando a bebida é vinho branco ou champanhe. O estudo foi publicado na revista Frontiers of Nutrition e se baseou em um banco de dados contendo informações de 470 mil pessoas — entre elas, 16.559 testaram positivo para Covid-19. O que o levantamento buscou foi uma relação entre o padrão de consumo dessas bebidas e o risco de contrair a doença. No entanto, o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) publicou um comunicado alertando sobre o estudo após a repercussão dos dados. O texto afirma que nenhuma bebida alcoólica protege contra a Covid-19 e aponta algumas limitações do estudo apresentado.Uma das hipóteses para um possível fator de proteção está nas propriedades antioxidantes dos polifenóis presentes no vinho, que podem diminuir os impactos da Covid-19 no coração. De acordo com a instituição, "tal discussão é válida e merece ser estudada de forma mais minuciosa, mas é importante destacar que a pesquisa não provê nenhuma análise fisiológica de que este seja o caso". O comunicado também aponta que o estudo não contabilizou local, nível e segurança de socialização ou cumprimento de medidas de segurança referentes à pandemia nos momentos de consumo. "Os riscos de infecção por Covid-19 estão associados a muitos fatores, como o nível de isolamento social, a saúde geral e a vacinação, que não foram considerados no estudo", diz o texto. "Outra limitação importante diz respeito aos padrões de consumo ligados aos diferentes tipos de bebida. Culturalmente, o consumo de vinho costuma estar associado às refeições ou ao consumo dentro de casa, enquanto os destilados e a cerveja ao consumo em bares, festas e outros locais externos, com maior número de pessoas".Por fim, a instituição faz referência à orientação recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que "o álcool não protege contra o Covid-19 e seu acesso deve ser restrito durante o lockdown". No comunicado, o CISA diz que "é importante salientar que a literatura científica indica que o consumo nocivo de álcool é um fator de risco para maior severidade de Covid-19; este fato isolado, sem levar em conta que o consumo nocivo de álcool é fator de risco para mais de 200 outros transtornos e agravos, é suficiente para indicar cautela no consumo de álcool".Da uva para o vinhoO resveratrol encontrado na casca da uva é um polifenol que atraiu muita atenção das pesquisas científicas e da medicina nos últimos anos. Existem estudos que mostram a alta presença da substância no suco de uva integral e nos vinhos tintos, principalmente os derivados de uvas como Tannat e Cabernet Sauvignon. A afirmação de que a bebida pode prevenir a Covid-19 ainda carece de evidências, mas a associação do consumo moderado de vinho com a ação protetora contra doenças cardiovasculares já está comprovada. As recomendações da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que o consumo moderado de vinho se limite a uma dose (taça) diária para mulheres e duas doses (taças) para homens. "Os benefícios do vinho podem ser atribuídos a diversos compostos, sendo os polifenóis, a quercetina e as antocianinas os responsáveis por sua capacidade antioxidante", comenta a nutricionista Michelle Jota. Mas atenção: se você não tem o hábito de ingerir bebidas alcoólicas, não é recomendado que se inicie com o objetivo de proteger o coração. Além disso, o consumo exacerbado pode afetar a funcionalidade de vários órgãos como fígado, cérebro, sistema digestivo e coração e aumentar o risco de desenvolver diversos tipos de câncer. "A diferença entre o antídoto e o veneno é a dose. O excesso de álcool pode causar ou aumentar reações inflamatórias no corpo, podendo levar à cirrose e ao ganho de peso e, ainda, comprometer a fertilidade da mulher e do homem", diz. Vinho e coraçãoO POPULAR convidou o médico cardiologista Diogo Sampaio para responder às principais dúvidas sobre o consumo de vinho e as evidências dos benefícios para a saúde do coração:1. Um consolo dos bebedores de vinho é a velha máxima de que "vinho faz bem para o coração". Existem realmente benefícios do consumo da bebida? Sim. O consumo moderado de vinho pode prevenir doenças cardiovasculares, como o infarto, reduzir a pressão e ajudar no controle do colesterol. Os compostos polifenóis presentes no vinho, principalmente no tinto, têm propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes que reduzem a formação de placas de gordura no interior dos vasos sanguíneos e aumentam a liberação de substâncias que dilatam esses vasos. Em conjunto, esses efeitos contribuem para a redução da pressão, regulação do metabolismo e diminuição do risco de infarto.2. Mito ou verdade: tomar uma taça de vinho por dia protege o coração.Verdade! O consumo diário moderado de vinho — no máximo uma taça para mulheres e duas, para homens — está associado a benefícios cardiovasculares como a diminuição do risco de infarto.3. Mesmo que não seja um bicho de sete cabeças, é importante evitar os excessos? Por que?Sim. É válido lembrar que a linha entre o saudável e o prejudicial é muito tênue. Via de regra, limitamos o consumo de vinho para aqueles que já têm o hábito de ingerir tal bebida e não estimulamos o consumo daqueles que não o fazem, com intuito de não induzir ao alcoolismo e suas consequências. É válido lembrar que o vinho é uma bebida calórica e rica em açúcares, e o potencial efeito positivo do seu consumo moderado pode ser suplantado pelo risco de ganho de peso e/ou surgimento ou descontrole de diabetes. 4. Quais os efeitos do consumo exacerbado e recorrente de bebidas alcóolicas?O consumo de álcool em excesso pode trazer prejuízos ao convívio social e à saúde mental, desestruturação do ambiente familiar, além de acarretar em doenças no fígado, coração e aumentar o risco de determinados tipos de câncer. 5. Os jovens também precisam se atentar a esse consumo exacerbado?Sem dúvida! Boa parte dos hábitos que adotamos na juventude serão consolidados por toda a vida. Além disso, o consumo exagerado de álcool geralmente vem acompanhado do abuso de substâncias como o tabaco ou entorpecentes que acarretam em prejuízos adicionais à saúde. Os efeitos danosos podem se perpetuar por toda a vida.-Imagem (Image_1.2411856)