Pedro Henrique Mendes, de 19 anos, é um pequi aqui “do” Goiás. Pela frase, é possível saber de quem se trata. É o MC Jacaré, sucesso nas redes sociais. “Comprei um Lança”, a primeira música do funkeiro, tem mais de 100 milhões de reproduções no Spotify. Mas até chegar a esse patamar, Jacaré passou por muito perrengue.“O primeiro show dele foi 10h da manhã, na inauguração de um supermercado. Chegou lá, o supermercado cheio de gente, e a música dele era ‘bobagenta’ demais. Na hora que ele começou, veio a gerente correndo e pedindo para parar. Não durou 2 minutos o show”, contou Eulerson Mota, pai de Jacaré.Pouco mais de 2 anos depois, Jacaré fez sua principal apresentação. Com público de cerca de 20 mil pessoas, o jovem participou de um show no Festival Luan City neste ano, em Goiânia. Orgulhoso de onde chegou e mirando no futuro, o cantor relembra seu começo e a tática para emplacar hits.“Eu fazia cinco músicas por semana. Eu entrava no estúdio, só saía quando eu falava: fiz um hit. Eu trabalhava demais, é um sonho né. Eu não acreditava que ia conseguia chegar, mas trabalhando firme eu tava, alguma [música] tinha que ir”, contou.O estúdio que Jacaré mencionou é dentro de sua casa, em Goiânia. É de lá que são gravadas as músicas dele. Entre os sucessos mais recentes, juntos, os clipes de “Pequi do Goiás” e “Vento Forte”, ultrapassam 42 milhões de visualizações no YouTube. O funkeiro contou que, para começar a montar o espaço, vendeu chocolate na escola.“Com 15 anos de idade eu já fazia uns R$ 500 por mês e fui juntando. Minha primeira compra foi uma placa de áudio, bem mixuruquinha. Depois comprei umas caixas, bem mixuruquinhas também e consegui fazer mais músicas. Com o dinheiro dessas músicas, eu investia de novo e aí chegamos onde estamos”, relatou.Sucesso repentinoTranquilo em casa, em 2019, o celular tocou e Jacaré ouviu: “Você viu onde sua música está?”. Eram amigos contando que a música “Comprou um Lança”, tinha entrado no top global do Spotify. O jovem recebeu a informação com choque.“Eu falei: ‘véi’, isso não é normal não. Eu não tinha nem o Spotify instalado. Eu não acreditava”, descreveu.Com os vocais da música gravados pelo celular, o jovem disse que teve uma “virada de chave” na cabeça. Segundo ele, veio uma ideia à cabeça: não era preciso muito investimento e equipamentos sofisticados para começar. E ele começou. De 2019 para 2022, a carreira deslanchou e o sucesso refletiu em casa. Seu pai, agora, se dedica à gestão da carreira do filho.“Para mim é um orgulho ter um filho desse, para a gente só vem somando, só coisa boa. Eu achava que era uma diversão dele, uma coisa que ele gostava muito e a gente deixava e não impedia de fazer”, contou Eulerson.Com a carreira se consolidando no cenário do funk nacional, o empresário comemora que a agenda do jovem está cheia.“[O sucesso] veio do nada, a gente vai pelejando e vai dando certo. Temos uma agenda bem lotada. 2022 não tem nenhuma data em aberto e o carnaval de 2023 tá fechando já. Vem mais hit por aí. Temos na manga umas 8 ou 10 músicas para lançar”, disse Eulerson.Inspiração e sonhosCom letras chamativas, ritmo dançante e frases que grudam na cabeça, o jovem mistura elementos goianos em suas músicas, com inspiração em outros estilos. O sucesso “Pequi do Goiás” é o fruto de uma dessas criações.“Eu queria criar uma música e estava vendo no TikTok aquela: ‘Ela é um morango aqui do Nordeste’. Eu pensei na hora, é pequi. Goiás é pequi. O pessoal se identificou. Viu que é diferente e reproduziu”, explicou o MC.Trabalhando para alcançar mais sucesso ainda, Jacaré busca mais visibilidade e revelou que sonha em cantar em mais festivais, como o Luan City. Pensando no presente, ele comemorou suas realizações.“Eu estou realizando todos os meus sonhos. Eu estou gravando música com o Zé Felipe, sou fã demais dele. O Kevin o Chris, que também sou fã, que me incentivou a ir para o funk. Isso aí é ‘bão’ demais”, comemorou.O nomeO nome Jacaré surgiu de uma brincadeira, que Jacaré planejava como uma carreira. O cantor queria fazer vídeos jogando em plataformas online.“Fui criar um canal ‘Pedro Gamer’, já tinha 1 milhão. Aí eu fui nos bichos. zebra gamer, já tinha, cachorro gamer, já tinha, pesquisei o jacaré, não tinha. Rapaz, é esse”, disse.Ruim no jogo, a carreira não durou muito tempo.“Criei, durou uma semana o canal, eu morria demais no jogo e o pessoal não queria ver gente ruim. E aí eu falei: ‘deu, essa carreira deu para mim’. Aí lá na escola, o povo me chamava de jacaré e eu falei: ‘esse nome pode ser o futuro’”, narrou.Fazer funk em GoiâniaÀ série de reportagens feita pelo g1 Goiás e pelo O Popular, Jacaré contou sobre as dificuldades e glórias de produzir funk em Goiânia, cidade conhecida principalmente pelo sertanejo.“Quando eu comecei, eu não tinha apoio e aceitação. Agora, eu acho que a gente tá conseguindo mudar a percepção das pessoas, é um movimento que ‘tá’ dando certo, ‘tá’ dando futuro para vários jovens e adultos”, fala o cantor.Nascido e criado no Setor Urias Magalhães, MC Jacaré vem de um berço que sempre ouviu sertanejo, mas foi no funk que ele se encontrou. O cantor contou que chegou a pensar em ir para o estilo tradicional, mas preferiu navegar nas vertentes do funk, como o eletrofunk, que adiciona o deephouse ao estilo.“Eu amo sertanejo, toco viola, toco violão, gosto demais de modão, mas produzir sertanejo é um investimento mais caro. Agora, no funk, por exemplo, eu tenho uma música que tem 100 milhões de visualizações e eu gravei a voz no celular. Além da facilidade de produzir, eu também gosto demais de funk. Hoje em dia não tem como você ir a uma festa e não tocar funk, né?”, contou.Para Jacaré, a cena do funk e do eletrofunk na capital está em ascensão, surgindo principalmente nas periferias. Com letras de protesto ou mesmo de histórias de rolês, o segmento ganha força na capital.“Aqui em Goiânia tem muito artista bom. Quando eu comecei, eu me sentia muito solitário, porque eu não tinha uma referência para caminhar. Agora, nós estamos trabalhando para mostrar que aqui não é só sertanejo, mesmo nós amando sertanejo, aqui é funk, eletrofunk, rap, hip hop, tudo”, falou.Apesar do sucesso, o cantor diz que já enfrentou preconceito, por conta do estigma de que Goiânia é a terra do sertanejo. “O pessoal que não tá ligado no que tá acontecendo no cenário do funk fala: ‘Ah, não é terra disso’, mas tá sendo, tá vindo muita estrela, muito artista bom, muita música boa de Goiânia”, desabafou.Leia também:- Goiânia 89 anos: de capital do sertanejo a hip hop como patrimônio- Goiânia 89 anos: Minha bicicleta pela Avenida Anhanguera- Goiânia 89 anos: expectativa e realidade para o futuro na visão de crianças, adultos e idosos- Goiânia 89 anos: conheça 12 lugares turísticos da capital-Imagem (1.2547948)