-Imagem (Image_1.1933330)Como uma odisseia de regresso, o ator Paulo Vespúcio, 57 anos, pede licença para pisar mais uma vez nos palcos. Cauteloso depois de 35 anos de carreira em trabalhos evidenciados na televisão e no cinema, o goiano de Rio Verde retorna ao tablado. “Recebi o chamado do teatro”, adianta. No espetáculo Conto de Primaveras, que será encenado hoje e amanhã no Zabriskie Teatro, subjetividade e poesia gracejam sobre tempo e transformação.Com texto e direção assinados por Vespúcio, o monólogo é íntimo e fala sobre singularidades. No palco, o ator discorre a respeito da vida, em uma trajetória linear. Em meio ao caos do aprendizado, o narrador descobre, inspirado pelo tempo, seu melhor amigo, a fórmula mágica para curar o mundo de todas as mazelas. “Todos temos algo que nos difere. Para alguns, essa diferença é vista como maldição. É disso que venho falar, sobre respeito e aceitação.”Conto de Primaveras nasceu depois da transformação que Vespúcio percorreu desde o início do ano, após passar por um longo período de angústias pessoais. Também viu seu projeto de filme Clube da Saudade entrar na geladeira, depois das mudanças na Agência Nacional de Cinema (Ancine) e do Fundo Setorial do Audiovisual. “Eu me perguntei: o que eu quero falar? Com toda a situação do País, percebi que é mais do que necessário discorrer sobre as diferenças”, explica o ator.Não foram muitas as vezes em que Vespúcio esteve no teatro. Nascido em Rio Verde, aos 15 anos mudou-se para Goiânia a fim de estudar e jogar vôlei no Jóquei Clube de Goiás. Começou a carreira de ator justamente no tablado, na peça Escola de Bufões, dirigida por Moacyr Góes. Foi assim que a atriz Gloria Pires o conheceu e o convidou para participar da minissérie Memorial de Maria Moura (1994), de Jorge Furtado.“É catártico voltar ao teatro após todos esses anos. É um espaço que eu respeito muito, onde eu aprimorei meu ofício. O teatro é meu pai e minha mãe na arte. Agora, estou pedindo licença para entrar”, conta Vespúcio. Dividindo-se entre Goiânia, Rio de Janeiro e Rio Verde, o ator pensou Conto de Primaveras durante os últimos meses. Sem leis de incentivo ou apoio público, o espetáculo nasceu da vontade do artista em voltar a trabalhar em cena. Com texto doce e, ao mesmo tempo, ácido, a peça é introspectiva, silenciosa, com jogo de palavras em uma prosa poética. Com elementos da cultura goiana, o ator conta a trajetória das relações de aniversário do narrador. “São as primaveras se passando e como nos relacionamos com os aniversários. É a luta pelo se tornar, as mudanças cotidianas. Por fim, o espectador entende que o narrador conta uma história não dele, mas de tantos outros.”ChamadoEm tom experimental, Conto de Primaveras tem produção assinada por Cristiano Sousa e trilha sonora de Leandro Sacs. No desafio de retornar à direção teatral, Vespúcio conta com a assistência de Denis Santos. Na estreia em Goiânia, o artista anuncia que o espetáculo promete percorrer outras cidades e festivais. “Estamos focados na estreia, mas o desejo é viajar pelo País com o espetáculo, em palcos mais íntimos. Todo ator recebe o chamado do teatro. Esse é o meu”, arremata.