Um bairro até então abandonado pelo poder público foi revitalizado em 2009 e se tornou uma das maiores galerias a céu aberto do mundo e parada obrigatória para quem visita a cidade de Miami, nos Estados Unidos. O Wynwood Walls conta com obras de artistas que são referências mundiais do grafite e street art, e nos próximos dias ganha um mural que coloca Goiás nessa seleta lista. O duo Bicicleta Sem Freio, formado pelos artistas visuais Douglas de Castro e Renato Reno, desembarcou essa semana a convite do Art Week 2022: Future Starts Now, evento que apresenta novos trabalhos de artistas do mundo todo entre 19 de novembro e 31 de dezembro na área externa do Wynwood Walls.Além do duo goiano, que está representando o Brasil com um dos murais de maior destaque desta edição, participam da semana de arte Shepard Fairey, Hebru Brantley, Dulk, Drik the Villain, SHOK1, Jessie and Katey, Lelin Alves, Millo e Mikael B. “Tem sido fantástica a experiência aqui. Estar participando do encerramento desse circuito internacional de muralismo, que tantos artistas que são referência já participaram, como Os Gêmeos e Kobra, chancela o trabalho que a gente vêm fazendo”, comenta Renato.Além dos brasileiros citados pelo artista, outros nomes do grafite e street art já passaram pelo local, como Kenny Scharf, Futura, Swoon e Shepard Fairey, transformando o espaço em um fenômeno cultural desde que o pioneiro do ramo imobiliário Tony Goldman, também responsável também pelo desenvolvimento de Miami Beach e do SoHo, em Nova York, colocou as mãos ali. “Estando aqui, é perceptível que as paredes carregam muitas histórias. Tem muita tinta nesse espaço”, diz. Além do museu a céu aberto, o local conta com galerias nos espaços internos e lojinhas.O duoRenato Reno (@renatinhobsf) e Douglas de Castro (@dojla) fundaram o coletivo de ilustração e design Bicicleta Sem Freio (@bicicletasemfreio) em 2005, inicialmente inspirados em ilustrações e posters de rock. Se consagraram internacionalmente a partir do trabalho com painéis e murais criados em larga escala, além de integrarem a coleção permanente do Urban Nation Museum e, de lá para cá, já rodam o mundo. Cidades brasileiras e estrangeiras já receberam obras do duo, como Londres, Berlim, Hong Kong, Las Vegas, Montreal e Los Angeles. No portfólio estão países como México, Índia, Chile, México, Portugal e Havaí.História revisitadaO dia 7 de setembro de 2022 foi a data escolhida para a reabertura do Museu Paulista da Universidade de São Paulo, também conhecido como Museu do Ipiranga, que passou por restauração após nove anos de portas fechadas. A inauguração integrou as celebrações do bicentenário da Independência do Brasil e marca uma nova fase para o museu a partir de sua curadoria, que selecionou a obra de contestação Fake Hero, do artista visual goiano Diogo Rustoff, para integrar o acervo permanente. O trabalho retrata o monumento do bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, que dá o nome à Avenida Anhanguera, em Goiânia, dentro de uma caçamba de lixo.A curadoria do histórico museu agora propõe repensar a narrativa enraizada no imaginário nacional a partir do olhar colonizado e ressurge discutindo, principalmente, a figura dos bandeirantes e a ideia de suas atuações heróicas. “A reabertura do museu com essa temática decolonial é de extrema importância, indo de encontro ao momento que estamos vivendo hoje, de repensar e reposicionar as figuras que foram opressoras e violentas com nosso povo e nossa cultura”, comenta Rustoff. “A questão do Anhanguera em Goiânia é sempre um assunto polêmico. Sou da opinião de que tem que tirar a estátua do centro da cidade, porque ela representa a opressão”, diz o artista. “Foi por isso que o desloquei da posição de herói, de um agente da civilização, para representá-lo como um mero entulho”, finaliza.Em solo europeuHá 20 anos, a artista plástica goiana Katia Santos desembarcou em terras alemãs e recomeçou sua vida. A conexão com Goiânia, no entanto, nunca se perdeu e seu olhar esteve sempre atento para a cena artística da cidade. Com o intuito de projetar a arte goiana no âmbito internacional, Katia inaugurou a exposição Mannheim & Goiânia em Pincéis, que convida cinco artistas goianos e três artistas alemães para expor suas obras na Casa +55, galeria na cidade de Mannheim, na Alemanha. O projeto foi desenhado a quatro mãos com o curador e fundador da galeria, Márcio Vargas. As obras dos goianos Diomar Lustosa, Josemar Callefi, Neilam Oliveira, Ricardo Gomes e Valdir Ferreira passam a integrar o acervo da Casa +55 junto dos trabalhos dos alemães Albert Reiser, Fee Gunkel e Giuseppe Di Martino. “Em março deste ano estive em Goiânia e conheci os trabalhos desses artistas. Em conversa com o secretário municipal de Cultura, Zander Fábio, propus que esse intercâmbio vá para Goiânia posteriormente”, comenta Katia. “A galeria é uma casa brasileira na Alemanha pautada na diversidade e pluralidade. Como ponto de partida do projeto, temos a cidade de Goiânia revelando a sua força e potência”, diz Márcio.