Entre cajueiros, aroeiras e jatobazeiros bicentenários, arte e Cerrado caminham juntos pelo Instituto Bertran Fleury (IBF), na cidade de Goiás. É ali que está localizado o ateliê do artista plástico e arquiteto goiano Elder Rocha Lima, de onde será transmitida a abertura do projeto Cerratense - Arte no Cerrado nesta sexta-feira (18), às 19 horas, pelo canal do YouTube do instituto. O artista plástico integra uma mesa-redonda, que será seguida de uma exposição virtual guiada por suas obras. O evento segue até domingo (20) em formato virtual com oficina de escultura, espetáculo teatral, vídeo documental e exposição.O cenário cerratense é característico das obras de Elder Rocha Lima, artista veterano que, aos 93 anos, exalta o bioma em suas pinturas e palavras. “A temática do meu trabalho sempre esteve ligada ao Cerrado. E hoje, o que vemos é um Cerrado que corre o risco de desaparecer, que tem sido assassinado, sacrificado”, comenta. As suas obras retratam paisagens que, ao mesmo tempo que enchem os olhos, provocam a reflexão da urgência de serem protegidas. “O Cerrado tem de ser preservado. Mas, enquanto isso, agrotóxicos que são proibidos em outras partes do mundo estão sendo liberados no nosso País. É um crime o que está acontecendo com a natureza”, destaca o artista.Elder se diz um amigo do Cerrado. “Não só protesto, como procuro ressaltar a sua beleza. A beleza das paisagens, das veredas”, argumenta. A palmeira foi tema de quadros e de sua exposição virtual Caminhos e Veredas, inaugurada no ano passado com curadoria de Antonio da Mata, diretor do Museu de Arte de Goiânia (MAG). A exposição segue em cartaz por intermédio do site elderrochalima.com.Sobre a migração para o digital, o artista plástico consegue enxergar os dois lados, positivo e negativo. “Uma vernissage virtual, por exemplo, abrange mais pessoas. Para a minha surpresa, essa (Caminhos e Veredas) atingiu milhares de pessoas de diversas partes do mundo, coisa que não é possível no presencial. Por outro lado, temos o problema da falta do contato pessoal com os amigos e não amigos, apreciadores de arte e estudiosos, além de questões como escala e dimensão das obras”, observa.Apesar das problemáticas, Elder revela que a pandemia não alterou muita coisa no seu modo de criar. “A pintura é negócio um pouco solitário. Em função da pandemia, sem a possibilidade de encontrar as pessoas, tive até mais tempo e possibilidade de me concentrar mais no trabalho”, revela.Para a exposição da noite desta sexta-feira, o artista plástico diz que fizeram um arranjo em seu ateliê de obras de várias épocas. Em relação à experiência de visitação guiada, que será feita pelo produtor, ator e professor Bruno Peixoto, Elder comenta que a intenção não é fazer uma explicação ou descrição das pinturas. “Não se explica um quadro. Posso discorrer sobre contexto, técnica utilizada, etc.” Para ele, cada tipo de arte tem a sua própria linguagem. “A gente até tenta traduzir em palavras, mas é preciso ter a própria experiência da visão de um quadro assim como a da audição de uma música”, comenta.Cerrado em pautaCerrado: Bioma e Arte é o tema do bate-papo de abertura do projeto na noite desta sexta-feira (18), que conta com a participação de Elder Rocha Lima, Danilo Alencar, Helder Antônio e Maria das Graças Fleury Curado, presidente do IBF, como mediadora. A reflexão e o debate em torno da proteção de territórios, biomas e pessoas que integram esse ecossistema são o mote do projeto Cerratense – Arte no Cerrado, que tem programação até o dia 20 de março, domingo, com transmissão do Instituto Bertran Fleury. “Cerratense, inclusive, é uma palavra criada por Paulo Bertran, que não existia nos dicionários e que pegou bastante”, conta Maria das Graças.No sábado e no domingo, sempre às 16h30, o artista Helder Antônio ministra uma oficina de escultura voltada para o público infantojuvenil. Ele também apresenta sua exposição Natureza e seus Bichos no sábado (19), a partir das 18 horas, seguida de um bate-papo do artista com os espectadores. “Ele faz esculturas com elementos da natureza, raízes, galhos, plantas fossilizadas, é bem interessante”, comenta a presidente do IBF.O domingo, último dia de evento, também contará com a transmissão do espetáculo Mundo Cerrado, dirigido pelo teatrólogo Danilo Alencar. Às 19 horas, o encerramento do projeto conta com o lançamento de um vídeo documental do instituto apresentado por Maria das Graças, criado a partir de uma linguagem artística dinâmica que apresenta as estruturas do local que recebe o público em geral. Entre elas, estão o Caminho das Letras e Árvores, o Economuseu Cerratense, a Ecovila de Maria e o Memorial Paulo Bertran.