Aos 77 anos, a professora aposentada Maria de Fátima Liégio tem seguido à risca as recomendações das autoridades sanitárias durante esse período de pandemia da Covid-19. O cotidiano se resume em ficar em casa, em Goiânia, cumprindo o isolamento social. Além de todas as preocupações causadas pela nova doença, um reforço a mais foi tomado para evitar um problema que sempre ameaçou os idosos: as quedas.Independentemente da idade, todas as pessoas correm o risco de cair. Porém, para a pessoa idosa uma queda pode representar um problema grave, levando inclusive a limitações funcionais que antes não existiam. Por causa da pandemia, a queda e a consequente hospitalização representam um risco a mais de se contaminar com o novo coronavírus. “Por se tratar de um vírus que no idoso causa doença com maiores complicações, faz-se necessário que esses indivíduos estejam da melhor maneira possível com a saúde controlada”, orienta o ortopedista Fábio Lopes de Camargo, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia.Idosos em tratamento de fraturas maiores ou mais debilitantes podem, por exemplo, necessitar do uso de órteses que dificultam a expansão do tórax, como coletes para fraturas de coluna. “Em outros casos, necessitar de internação hospitalar e, frequentemente, serem submetidos a tratamento cirúrgico. Ou seja, o organismo vai estar mais debilitado para o possível enfrentamento da Covid-19”, alerta o médico.Por isso, na casa de dona Maria de Fátima a prevenção a quedas que já existia foi reforçada. “Tomo muito cuidado com o tipo de calçado que uso, tiramos todos os tapetes da casa e fico mais atenta ao subir a escada, por exemplo”, explica a aposentada. Há cerca de oito anos, ela sofreu um acidente de carro que resultou em fratura de fêmur e clavícula. Desde então, a prevenção de quedas faz parte do cotidiano. O novo coronavírus é um motivo a mais para se resguardar. “Não é um bom momento para estar no hospital”, conta.Aproximadamente 30% das pessoas com mais de 65 anos de idade caem pelo menos uma vez por ano. Depois dos 80 anos de idade, essa porcentagem pode chegar a 50%. “Com o avançar da idade, os indivíduos passam por um processo natural de envelhecimento, que leva a uma maior fragilidade de vários órgãos e tecidos, dentre eles o tecido ósseo. O osso perde a capacidade normal de suportar cargas, aumentando assim o risco de sofrer fraturas por traumas banais ou de baixa energia, como quedas da própria altura. Essa doença é conhecida pelo nome de osteoporose”, explica Fábio Lopes de Camargo.Entre as consequências das quedas, a fratura no fêmur é uma das mais graves. O rompimento desse, que é o maior osso do corpo humano, tem grandes chances de impactar na qualidade de vida dos idosos. Cerca de 30% a 40% dos idosos que quebram o fêmur não conseguem recuperar totalmente sua capacidade funcional. Por isso, a prevenção de quedas é tão importante. Prática de atividades físicas, exposição solar com parcimônia, remoção de tapetes e instalação de corrimões em banheiros ou em locais como escadas e rampas são algumas das medidas que podem auxiliar a evitá-las.Alerta para a saúdeA maioria das quedas que provocam incapacidade permanente nos idosos ocorre dentro de casa. Elas também podem ser um sinal de que algo não está bem na saúde dos idosos ou no ambiente em que eles vivem. O mecanismo de equilíbrio do corpo humano depende dos sentidos e da capacidade da musculatura e dos ossos em se manter em pé.“Quando há falha em algum desses fatores, seja por redução da visão ou audição ou mesmo pela fraqueza da musculatura que auxilia na marcha e no equilíbrio, o risco de quedas aumenta significativamente. Portanto, a prevenção de quedas se inicia com um bom cuidado com a saúde”, orienta o ortopedista Murilo Almeida, membro da Sociedade Brasileira de Quadril. Como os idosos formam o grupo que corre mais risco de desenvolver as complicações do novo coronavírus, a orientação tem sido que eles fiquem isolados. Garantir a segurança do ambiente vira uma responsabilidade detoda a família.